A infiltração de grupos e afiliados neonazis no Chega, apesar de não ser nova, denota uma tendência que já estava latente desde a criação do partido antissistema, mas que se acentua – a existência de um crescente porta-estandarte que abriga, debaixo da sua asa, militantes de um Portugal adormecido, preconceituoso e com falta de cultura democrática.
Declaro-me inicialmente suspeito – a minha filiação na Juventude Popular leva-me a uma visão de uma direita que, cada vez mais e tristemente, se enamora com a sua vertente mais radical e parece agora abandonar a moderação e a sua vertente equilibrada que sempre apresentou uma alternativa coerente e decente para o País. A culpa também é desta minha direita que não conseguiu combater esta ameaça enquanto ainda era de questionável relevância, e que agora está sujeita a uma mudança de panorama que, infelizmente, quebra uma imunidade natural de grupo que tínhamos tão bem conseguido até aqui – a de evitar a ascensão de partidos radicais, extremistas e com uma tremenda falta de cultura democrática.
A infiltração de neonazis noticiada agora pelos principais meios de comunicação social mostra esta índole do partido fundado em 2019 e dá uma renovada esperança a todos aqueles que estavam condenados, pelo seu radicalismo, pela agressividade e total implausibilidade da sua visão de Portugal e do Mundo, à irrelevância política. Popper afirmava que “devemos combater a intolerância com intolerância”. Não sou da mesma opinião. O Chega tem de ser abordado e o seu discurso oco, vago e inflamado tem de ser combatido no mercado do debate, evidenciando a falta de uma solução coerente, equilibrada e respeitadora de todos para o País. Não favoreço uma ilegalização do Chega que vá de encontro a uma pintura de vitimização, que fomenta um discurso divisório e que torna o panorama político terreno fértil para o seu crescimento, mas acredito que, à luz destas notícias e de um enamoramento com o extremismo (totalmente sintomático do rumo que o partido está – e quer – tomar) o combate das suas ideias e a evidenciação de um discurso que de pouco ou nada tem a oferecer de forma concreta, é um imperativo.
Burke afirmava que “para o triunfo do mal, basta que o bem se mantenha inerte”. Com este “bem”, estou muito longe dos “portugueses de bem” preconizado pelo líder do partido. Falo de um “bem” que tem de combater ideias perigosas e radicais, que fazem do Chega um verdadeiro porta-estandarte de uma direita que se sobrepôs à direita que sempre considerou, de forma moderada e equilibrada, governar o País e oferecer soluções alternativas enquanto foi oposição.
Não é suficiente simplesmente não falar do Chega – há que o confrontar, no debate público, com a sua falta de ideias e soluções, com o seu discurso populista e com o seu papel de porta-estandarte de uma corrente preconceituosa que, nunca deixando de existir, esteve durante muito tempo anestesiada e que agora vê no Chega uma locomotiva para espalhar a sua visão. Não quero, naturalmente, dizer com isto que todos os apoiantes do Chega se enquadram neste perfil, mas que o partido não se consegue distanciar de uma ala radical e, por isso, nefasta. A Direita moderada terá, assim e independentemente do custo em relevância eleitoral, que afastar-se do Chega e, mais, apresentar-se como alternativa ao Chega. É fundamental que o faça. Só assim continuará a ser uma alternativa credível e crível para a governação do País.