A 18 de maio assinala-se o Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade. Nesta já longa batalha, um dos lados, a obesidade, continua a ganhar terreno. Segundo dados de 2019 do Observatório Global da Obesidade, o excesso de peso e a obesidade afetavam, respetivamente, 55% e 18% dos adultos em Portugal. A mesma fonte indica que cerca de 30% das crianças entre os 6 e 8 anos de idade tinham excesso de peso e 12% obesidade. Dados mais recentes, de 2021, revelam que a obesidade afeta já 29% da população portuguesa, número que se estima ascender aos 39% em 2035.

Estes números são arrasadores e preocupantes. A obesidade é uma condição crónica e complexa, com grande impacto na qualidade de vida. Além disso, está associada a várias complicações, como hipertensão, diabetes, fígado gordo, colesterol elevado, alterações neurológicas e vários tipos de cancro. O facto de o excesso de peso e a obesidade estarem, cada vez mais, a atingir as camadas mais jovens revela que a nossa sociedade tem nas mãos uma bomba-relógio, com sérias implicações, tanto ao nível da saúde das gerações futuras, como da pressão acrescida nos sistemas de saúde.

E o que leva alguém a desenvolver obesidade? No nosso organismo, há células especializadas em armazenar e queimar gorduras. Os mecanismos que contribuem para o desequilíbrio destes processos, resultando numa elevada acumulação de gordura, são alvo de estudo em todo o mundo. A forma como a dieta pode afetar negativamente este equilíbrio (como dietas ricas em açúcar e alimentos processados, consumo exagerado de bebidas açucaradas e baixo consumo de frutas e vegetais), como é que o apetite é regulado, e o papel da poluição e da atividade física são exemplos de fatores que é fundamental estudar de forma articulada.

A obesidade resulta da conjunção de vários fatores, nomeadamente os que são intrínsecos ao indivíduo (fatores genéticos, metabolismo e saúde mental), passando pelo ambiente e estilo de vida. Como tal, um combate eficaz a esta condição só se consegue de forma multidisciplinar e integrada. Não se resolve com soundbites políticos ou campanhas de publicidade desenhadas num qualquer gabinete: os destinatários das mensagens devem ser envolvidos, para conseguirmos uma literacia em saúde mais inclusiva. Os decisores, locais e nacionais, devem ser mais incisivos, promovendo políticas que conduzam a estilos de vida saudáveis e sustentáveis, nomeadamente a redução dos custos de alimentos saudáveis e cidades mais propícias à atividade física. Nas escolas, a atividade física deve ser uma prioridade. Um futuro saudável constrói-se com políticas holísticas e efetivas, não com ideias sem aplicação no terreno.

É no âmbito do combate à obesidade em Portugal e na União Europeia que surge o projeto de investigação PAS GRAS, financiado pelo Horizonte Europa com cerca de 9,4 milhões de euros. Coordenado pela Universidade de Coimbra, pretende, entre outros objetivos, desenvolver ferramentas informáticas capazes de determinar o risco de desenvolver obesidade e suas complicações, validar componentes da dieta mediterrânica com efeitos anti-obesidade e desenvolver, em cocriação, materiais de literacia em saúde destinados a crianças, adolescentes e jovens adultos, que possam ser conjugados com programas de atividade física. Só com um conjunto alargado de ações, envolvendo investigadores, clínicos, políticos, parceiros industriais e a população, poderemos vencer a urgente batalha contra a obesidade.

Pelo consórcio PAS GRAS, Paulo Oliveira, Investigador Principal e Coordenador do Projeto; Centro de Neurociências e Biologia Celular e Centro de Inovação em Biomedicina e Biotecnologia da Universidade de Coimbra.

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