“A Omara tem 8 meses e é a mais nova de cinco irmãos. Quando nasceu já tinha muito pouco peso e, o facto da sua mãe Zara não conseguir amamentar, dificultou o ganho de peso que necessitava para crescer saudável.” — Este anúncio de uma actual campanha da UNICEF segue o padrão habitual destes apelos: crianças negras de olhos imensos e peso escasso contemplam-nos enquanto uma voz off repete que se dermos uns euros as salvaremos.
Ninguém explica onde nasceu a Omara. Que catástrofe, facto ou circunstância levam a que ela seja tão débil. Aconteceu algum terramoto no seu país? Incêndio? Erupção? Nada se diz. Omara é apenas “a bebé subnutrida” como se a sua subnutrição fosse uma fatalidade e a sua assistencialização o destino óbvio. Muito menos se sabe que família é a sua. Por exemplo, Zara, a mãe de Omara, que pela imagem parece tão jovem, já vai na quinta gravidez, com óbvio prejuízo da sua saúde pois nem consegue amamentar. Que condicionantes culturais, familiares e religiosas levam esta mulher a estas gravidezes sucessivas que a esgotam? Quem governa o país de Omara e da sua mãe Zara? Aliás qual é o país de Omara? Nada sabemos sobre isso. Somos só nós, a subnutrição de Omara e os euros que não nos fazem falta e podemos dar para a salvar. Publicitariamente esta técnica de comunicação é perfeita mas politicamente é um desastre pois é nesta descontextualização das vítimas que se tem baseado o desastre africano pós colonial: libertações que acabaram em regimes de terror, revoluções socialistas que produziram estados falhados, sociedades que empobrecem… e nunca se encontram responsáveis, a não ser os suspeitos do costume ou seja os países europeus que na sua maioria há mais meio século deixaram de administrar aqueles territórios.
Mas voltemos de novo ao anúncio: “Um dia, quando Omara teve febre, a sua mãe Zara levou-a ao médico da vila – que a encaminhou ao Centro de Subnutrição Ambulatorial apoiado pela UNICEF. Aí, foi observada e prontamente começou a tomar uma pasta terapêutica altamente nutritiva. Omara pesa apenas 3,4 kg mas, graças à UNICEF, tem agora uma equipa médica a cuidar de si e a fazer todos os possíveis para salvar a sua saúde e a sua vida.”
E pronto, a Omara já está a crescer. Os euros e os dólares chegaram a tempo de lhe garantir “uma pasta terapêutica altamente nutritiva”. No próximo ano outra Omara protagonizará outro anúncio. Os cleptocratas que governam boa parte dos países africanos agradecerão que ninguém se lembre deles, que se aceite como natural a subnutrição naquele continente e sobretudo corroborarão a tese de que se a Omara não se salvar é por culpa dos europeus ou dos americanos que não contribuíram como deviam para a salvar. Quem também não deixará de reduzir o drama de Omara à falta de euros para que ela tenha acesso à tal “pasta terapêutica altamente nutritiva” são os agora defensores das causas identitárias que se dizem anti-racistas. Continuadores que são das lutas ditas anti-coloniais do século passado precisam absolutamente que se ignore o desastre a que os seus catecismos conduziram África e os africanos. Mas tal como as lutas de libertação em África nos anos 60 e 70 do século passado geraram regimes muito piores que aqueles que combateram, também as actuais agendas anti-racistas estão a produzir problemas muito maiores que aqueles que dizem querer combater. Tentar perceber o que esconde o baixo peso da Omara é um bom começo para quebrar esta cadeia de fatalidades
PS. Exm senhores Comandante Geral da GNR e Director Nacional da PSP, venho encarecidamente pedir-vos que acabem com o degradante espectáculo da guerra pela escolta ao transportes de vacinas.
Nós já nos habituámos a muito, até àquilo que nunca pensámos tolerar como é o caso das vergonhosas prestações do ministro Eduardo Cabrita, mas ficar-se a saber que a PSP terá bloqueado o transporte das vacinas que estava a ser escoltado pela GNR é algo que ainda está acima das nossas capacidades.
Não é que tivéssemos acreditado quando nos disseram que o plano para a distribuição de vacinas foi acertado na reunião que teve lugar a 22 de Dezembro entre a Secretária-Geral do Sistema de Segurança Interna e os comandos das forças que Vossas Excelências dirigem. E sim, nós até percebemos que a escolta às vacinas é o momento festivaleiro que pode ajudar os agentes a esquecer há esquadras fechadas à noite por falta de meios e bairros onde PSP e GNR já desistiram de entrar e fazer cumprir a lei que atroam aos quatro ventos ir fazer cumprir com rigor aos demais cidadãos. Tudo isso nós sabemos e compreendemos mas por favor comportem-se com aquele mínimo de dignidade institucional que nos faz acreditar que isto, ou seja o país, ainda não é apenas um protectorado da UE, com as suas polícias-fanfarra, fazendo figura em acontecimentos mediáticos mas incapazes de garantir a segurança aos cidadãos e até de se comportar decentemente em público.
Obrigada