Gomes Cravinho nega estar debilitado como ministro com casos da Defesa”. Também  informou que “não é matéria que me tenha ocupado minimamente durante esta semana“. E ainda “que não tive tempo e nem tive suficiente interesse ou preocupação em me dedicar ao assunto, naturalmente porque percebi que não é uma matéria, enfim, muito relevante

A primeira reacção a estas declarações do actual ministro dos Negócios Estrangeiros será concluir que Gomes Cravinho ou está a gozar connosco ou é destituído do mais básico bom senso. Afinal há  meses e meses que se acumulam revelações sobre o estrambólico desempenho de Cravinho à frente da pasta da Defesa. As últimas notícias (que correm sempre o risco de ser rapidamente ultrapassadas por outras ainda mais constrangedoras) revelam que João Gomes Cravinho, enquanto ministro da Defesa, sabia que Alberto Coelho, ex-diretor geral dos Recursos da Defesa, era alvo de dois processos no Tribunal de Contas e apesar disso nomeou-o para a empresa que gere a indústria da Defesa Nacional.

A estranheza com o desempenho de Cravinho como ministro da Defesa começou com as revelações sobre a derrapagem no valor das obras no Hospital Militar de Belém. Quando confrontado  com a quadruplicação dos custos, Cravinho, que entretanto se tornara ministro dos Negócios Estrangeiros, primeiro não se lembrava, depois lembrou-se que sabia (ou alguém lhe lembrou que havia um ofício a lembrá-lo) mas explicou que saber da derrapagem nas despesas não é a mesma coisa que autorizar que essa despesa com derrapagem se realizasse.

Em seguida começa a investigação à corrupção nas chamadas indústrias da Defesa e no próprio ministério. A operação ganhou nome: Tempestade Perfeita. Foram constituídos 73 arguidos. Entre eles conta-se Alberto Coelho, ex-diretor da Direção-Geral dos Recursos da Defesa Nacional. Sobre a forma imprevidente como lidou com figuras como Alberto Coelho, o ministro ora diz que não sabia, ora que não  foi informado (o que é tecnicamente impossível porque o seu secretário de Estado fez dois despachos a anular decisões de Alberto Coelho e, soube-se agora, Cravinho foi também avisado pelo ministério das Finanças), ora que não se sente politicamente debilitado.

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Na verdade, pouco ou nada conta o que Gomes Cravinho sente. João Gomes Cravinho, oficialmente ministro dos Negócios Estrangeiros, é o ministro que ocupa neste momento o lugar de “ministro porque sim”, uma função governamental que António Costa começou por normalizar para depois transformar em instrumental. Este é um lugar que já foi de Pedro Nuno Santos e antes dele de Eduardo Cabrita. Depois chegou a vez de João Galamba. Agora João Gomes Cravinho acumula com João Galamba.

Pedro Nuno Santos inventou um aeroporto. Eduardo Cabrita sentia-se um paladino dos direitos humanos enquanto mentia ao parlamento sobre a morte às mãos do SEF de um cidadão ucraniano. João Galamba teve o seu ministério envolto numa cena de pancadaria que acabou com os serviços secretos a serem chamados. Agora João Gomes Cravinho é desmentido quase quotidianamente à medida que avança a investigação sobre a corrupção no ministério da Defesa. Não sei se algum dos protagonistas deste ambíguo papel teve em algum momento a ilusão de que se mantinha ministro por causa da sua mais valia política ou competência técnica. Na verdade, independentemente de num ou noutro caso essa competência existir e até ter motivado o convite para integrar o executivo, aquilo que leva António Costa a manter o “ministro porque sim” de turno no governo passa por razões que nada têm a ver com o seu desempenho, com aquilo que fez ou não fez. Antes pelo contrário, cada dia em que esse espectro que é  o “ministro porque sim” de turno se mantém no cargo obriga cada um de nós a aceitar como inevitável o que até esse momento era inconcebível. O “ministro porque sim” vale apenas porque está, já que o seu estar é a prova de que António Costa quer, pode e manda.

PS. Uma senhora fez um livro “para crianças sobre inclusão e diversidade, com linguagem neutra”. Um grupo de pessoas compareceu na apresentação e de megafone em punho terão manifestado o seu desacordo com o teor do livro. A autora, não se sabe se com recurso a linguagem neutra e ou inclusiva, está a ponderar  apresentar uma queixa ao Ministério Público. Há alguns anos aos protestos chamavam-se grandoladas e activismo. Não se conseguia apresentar um livro ou falar num colóquio sem que umas criaturas desatassem a cantar  “Grândola, vila morena”” ou a vociferar  contra o capitalismo (sei do que falo por experiência própria). Terminada a função iam à sua vida e não se falava mais nisso. Agora chama-se a polícia. Deve ser a isto que se chama inclusão.