Apesar de haver cada vez mais observadores que acham a violenta guerra da Rússia contra a Ucrânia sem sentido nem culpados, incluindo o primeiro-ministro português quando proclamou há poucos dias que «temos de pensar para lá das emoções», António Costa foi imediatamente forçado a dar o dito por não dito, como aliás lhe acontece frequentemente. Na realidade, ele não fazia mais do que puxar a seu favor o cobertor estendido de modo a impedir o prolongamento da guerra «ad infinitum» por países como a Itália, a França e a Alemanha, a última das quais havia aliás oferecido de bandeja à Rússia a oportunidade da invasão a coberto do famigerado acordo milionário sobre o gaz que já estamos todos a pagar através da inflação.

Alguém fez, porém, pressão sobre a União Europeia no sentido de esta não entregar a Ucrânia ao seu triste destino. Esse alguém, dá a entender Miguel Sousa Tavares, só pode ter sido a NATO, ou seja, os Estados Unidos e a Inglaterra, na senda dos apelos da Polónia e todos os países ocidentais próximos da Rússia que temem o delírio final do ditador Putin. A NATO pôs assim termo à ideia peregrina de que a guerra não era apenas da responsabilidade da Rússia mas também dos seus adversários históricos… Não se sabe quem interveio na UE: se foi Merkel – tão responsável pelo tratado do gás que este chega a deitar um cheiro suspeito – ou se foi a presidente Von der Leyen, até aqui sua «sucessora»…

O facto é que os três grandes recalcitrantes da UE – Alemanha, França e Itália – tiveram de dar o dito do 1.º ministro português por não dito: tudo o que os anglo-saxónicos mandaram fazer foi comunicado à Rússia pelos «media» e será, em princípio, confirmado pelo plenário da UE, alargando o braço protector não só à Ucrânia mas também a países em situações parecidas! As coisas ficam, pois, como têm estado desde o primeiro dia com as «emoções» desprezadas por António Costa, o qual está manifestamente mais preocupado com os gastos da UE, em especial a contribuição a fundo perdido para a eventual recuperação das perdas provocadas pela pandemia (entre nós, pelo menos 15% do PIB enquanto os juros da dívida pública aumentam sem recebermos um cêntimo).

Assim disparou a irresistível inflação mundial ao mesmo tempo que o prometido regresso ao trabalho, designadamente, se arrasta em Portugal, o qual continua a «liderar», como agora se diz na TV, a percentagem mundial de óbitos e contaminações devidos à pandemia. E depois admiram-se que não haja quem se ocupe das emergências médicas públicas e provavelmente das privadas também, pois um mal nunca vem sozinho! Muitas das aspirações lusitanas aos empregos e financiamentos europeus irão provavelmente ficar pelo caminho nos próximos tempos: veremos quão «feroz» será o Professor Leão…

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Regressando à guerra que não abandona ninguém nem ninguém pode abandonar, convém regressar àquilo que se está a passar neste momento. Teresa de Sousa, que tem escrito as melhores colunas sobre a guerra, atribui desta vez a viragem dos três grandes da UE, agora que a Grã-Bretanha saiu de vez da União, a um volte-face inesperado mas tão improvável que o primeiro-ministro português já o dava por adquirido.

Ora, conforme acabo de dizer, não creio que a imediata viragem dos três grandes países europeus tenha sido determinada pela UE mas sim pela NATO, isto é, pelos Estados Unidos e a Grã-Bretanha. Possivelmente, nunca ninguém virá confirmá-lo mas é o mais plausível: bastava recordar o anterior discurso do banqueiro Draghi… Com efeito, entre os inúmeros comentários feitos sobre o imediato apoio dos dois «grandes» da NATO e da Polónia, esta por motivos que não são difíceis de adivinhar depois de Hitler e Staline lhe terem passado por cima duas vezes – o primeiro para lá; o segundo para cá – na 2.ª Guerra Mundial, ressalta o facto de Putin ter acrescentado, no preciso momento em que declarava guerra à Ucrânia, que não hesitaria em recorrer à bomba nuclear nunca usada até hoje.

Foi deliberadamente que Putin fez essa terrível ameaça e a tem repetido inúmeras vezes a fim de aterrorizar quem porventura intervenha no conflito e não só. Implicitamente, a Rússia reiniciou uma guerra mundial que considerávamos terminada com as duas bombas atómicas lançadas pelos Estados Unidos tanto para punir o Japão pelo ataque gratuito a Pearl Harbour como sobretudo terminar de vez essa monstruosa 2.ª Guerra Mundial, conforme tem sucedido há quase 80 anos! Dito de outro modo, esse insistente anúncio da bomba nuclear é destinado não só conter os defensores da Ucrânia, entretanto feita em estilhaços, como a impedir que a NATO se oponha radicalmente a qualquer outra manobra russa futura, por exemplo os Países Bálticos… É por isso que esta guerra não está «para lá das emoções».