De certo modo, há uma explicação simples para a crise da direita: a saída de Passos Coelho da liderança do PSD. Se o antigo PM se tivesse recandidatado à liderança do seu partido, Rui Rio não se teria candidatado e continuaria como reserva do partido (olhando para Rio, percebe-se que alguns nunca deveriam abandonar a condição de reserva), Santana Lopes estaria ainda na Santa Casa, Pedro Duarte pensaria mais na Microsoft do que na liderança do PSD, e ninguém falaria de novos partidos à direita. O facto de tudo isto ter acontecido mostra a dimensão do fracasso da liderança de Rio e, mais importante, que ainda ninguém substituiu Passos Coelho na liderança da direita.

Rui Rio escolheu a sua estratégia. Aproximou-se do PS, eventualmente para substituir o BE e o PCP através de entendimentos parlamentares com o futuro governo socialista – no caso do PS não alcançar a maioria absoluta. Alguém consegue identificar uma grande diferença entre o discurso de Rio e de Costa? Em segundo lugar, Rio desistiu da vitória nas eleições legislativas do próximo ano. O seu objectivo será manter a liderança do PSD mesmo perdendo as eleições. Esta estratégia foi fatal para Rio. Desde logo, não entendeu as implicações da criação da geringonça para a política portuguesa. Costa foi o primeiro líder do PS a juntar as esquerdas num projecto de poder. O eleitorado das direitas espera o mesmo do líder do PSD. Passos Coelho foi capaz de o fazer. Rio não foi, e o mais impressionante é que nem sequer tentou. Assim, incapaz de federar as direitas, Riu assiste igualmente à fragmentação do PSD.

Chegados aqui, a grande questão para o futuro das direitas é a seguinte: será o próximo líder do PSD capaz de federar as direitas? Apesar dos danos causados pela liderança de Rio, o CDS – como se tem visto –não consegue crescer de um modo significativo. O novo partido de Santana Lopes também não conseguirá ultrapassar o PSD. Competirá assim ao futuro líder do PSD unir as direitas.

Simultaneamente, o futuro líder das direitas deverá ser capaz de construir um programa reformista para o país, que tenha o apoio de uma maioria do eleitorado. O PS, sobretudo se governar com o apoio das esquerdas radicais, não será capaz de introduzir as reformas económicas e sociais de que Portugal necessita. Nada indica que na próxima legislatura um governo socialista não continue a gerir o declínio do modo menos penoso possível para os portugueses. Mas esse não é um futuro que se recomende para o nosso país.

O novo partido de Santana Lopes, além de expor, pela sua simples existência, a incapacidade de Rio para federar as direitas, poderá desempenhar um papel importante. Aproveitando a liberdade dada por uma iniciativa política nova, poderá contribuir para a clarificação ideológica e programática das direitas e assim influenciar a escolha do próximo líder do PSD. A sua capacidade de influência será definida pelo resultado eleitoral de 2019. Se chegar aos 5% com um discurso e um programa assumidamente liberais e conservadores, o PSD não poderá ignorar essa clarificação ideológica. Nem o CDS, como Adolfo Mesquita Nunes já percebeu. A direita pós-Passos Coelho (e pós-Portas) só chegará ao poder nos respectivos partidos em 2019. Até lá viveremos um período de transição.

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