Passada uma semana desde a demissão da Ministra da Saúde, ainda não há ninguém para substituir Marta Temido. Não há, nem há indícios de vir a haver. O que me leva a concluir duas coisas, qual delas a mais lisonjeira para este governo do PS. A primeira coisa é que haver, ou não haver, alguém de facto em funções à frente do Ministério da Saúde é absolutamente indiferente. Nada funciona num caso, nem no outro. Nota positiva, portanto, em termos de consistência, pelo menos. A segunda coisa é que, tal como em tantos e tantos hospitais por este Portugal fora, também quanto a arranjar um novo Ministro da Saúde não há qualquer espécie de urgência.

Isto enquanto os problemas de saúde dos portugueses se agravam a olhos vistos. E um dos casos mais graves está precisamente relacionado com o que certos olhos vêem. Ou, neste caso, não vêem. Refiro-me às vistas de Pedro Abrunhosa, que há dias lançou o seguinte agradecimento: “Obrigado, Marta Temido! Portugal deve-lhe ter enfrentado um vírus com uma coragem só dada aos grandes líderes.” Isto só para terem uma ideia da gravidade da saúde ocular do artista. A quem se impõe deixar a seguinte dica: Pedro, a MultiOpticas está com óptimas promoções em tudo o que são óculos escuros graduados. Aproveita, pá!

Restabelecida a acuidade visual de Pedro Abrunhosa, abordemos o outro problema que este elogio à ex-Ministra da Saúde criou. Que é um enorme imbróglio semântico. É que eu nesta crónica pretendia também mencionar Martin Luther King Jr. Só que, depois de Pedro Abrunhosa ter gasto a expressão grande líder para qualificar Marta Temido, faltam-me termos para adjectivar o famoso activista norte-americano. Enfim, famoso mas não tão grande, nem tão líder, como a nossa ex-Ministra da Saúde, como é óbvio.

Certo é que ainda não é certo quando haverá novo Ministro da Saúde. A única coisa certa é que o atraso se fica a dever a questões de bailaricos. Não há dança de cadeiras na Saúde, pois o Primeiro-Ministro andou ocupado com danças improvisadas em Moçambique. Estou convicto que viram António Costa a bailar com aquela senhora, em Maputo, após uma cerimónia no Centro Cultural Português. Eu, por acaso, quando vi as imagens pensei: “Eh, lá. Até se safou bem, o Costa. Que a senhora tinha uns moves sincopados muito difíceis de acompanhar. E ainda por cima bailava munida de um martelo. Parecia que estávamos a assistir a um remake do Grease em pleno Leroy Merlin de Maputo.”

Ou seja, num momento inicial achei que naquela expressão popular “Primeiro-Ministro pequenino, ou é velhaco ou bailarino”, Costa fosse bailarino. Eis senão quando, anteontem, o governo apresenta o pacote de apoio aos rendimentos para que as famílias consigam fazer face à subida de preços. Pacote contendo medidas que ocupam todo um espectro que vai de “Quase absolutamente irrelevante”, a “Não, isto já é só mera aldrabice”. Pacote que me obrigou pois a concluir que, sim, António Costa é até um razoável bailarino, mas o que ele é mesmo é velhaco, não há qualquer dúvida.

Velhacaria que, no entanto, não pode servir para escamotear o facto de, nos últimos dias, a acção de António Costa ter sido decisiva para a convergência de Portugal face a um dos países com uma economia mais dinâmica da Europa. Ah pois, num curtíssimo espaço de tempo aproximámo-nos imenso da Finlândia. Não tanto ao nível de PIB per capita, ou assim, mas mais em termos de primeiros-ministros a levarem a cabo danças parvas. Bem bom.

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