Já nada nos surpreende neste louco chamado Putin.

No início era uma operação especial, do tipo relâmpago, a concretizar em três dias, para afastar os poderes hostis de Kiev e substituí-los por fantoches ao serviço da mãe Rússia.

Nada como disparar umas dezenas de mísseis cruzeiro sobre toda a Ucrânia, tomar alguns aeroportos, destruir os meios de comunicação principais e colocar em pânico todo um País e a sua desprotegida população, com o credo na boca, assistindo quase impotente à entrada de uma coluna militar com dezenas de quilómetros a partir do território bielorrusso.

A estratégia era muito simples e linear: criar o pânico, amedrontar de forma séria os Ucranianos e os seus líderes, pô-los em fuga acelerada e engolir a Ucrânia como mais uma parte da “Nova Rússia”, numa operação muitíssimo rápida que não permitisse a reação da outra parte e feita com custos absolutamente irrelevantes, quer do ponto de vista material quer, sobretudo, em termos de vidas humanas!

A invasão em curso, e que teve início a 24 de Fevereiro último, começou a ser preparada em 2014, altura em que engoliu a Crimeia e desestabilizou o Donbass, mas em que teve de colocar uma parte importante do seu plano no frio, até que as condições internas da Rússia e as internacionais lhe fossem mais favoráveis.

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Com efeito, tudo apontava para que o início de 2022 fosse o momento mais oportuno para colocar em prática o seu almejado plano de fazer dos “pequenos russos”, como gosta de chamar aos ucranianos, parte integrante da mãe Rússia, mascarando a condição de Estado soberano da Ucrânia através do exercício de uma suposta governação autónoma dos seus fantoches de serviço, senão vejamos:

  • a Rússia tinha os cofres cheios de dinheiro e de divisas com liquidez internacional;
  • a líder política carismática do País mais importante da União Europeia, Angela Merkel, tinha acabado de cessar as suas funções como chanceler Alemã, e o novo líder do executivo, Olaf Scholz, ainda nem sequer conhecia os cantos à casa, quer no plano nacional, quer no internacional;
  • os grandes Países Europeus dependiam, e ainda dependem, do petróleo e sobretudo do gás Russo para aquecer os invernos e manter as suas máquinas industriais a funcionar, em particular a Alemanha, motor económico e político da União, mas também a Itália, sétima economia mundial, os Países Baixos e grande parte dos países que fizeram parte da antiga Europa de Leste, sob o mando soviético, leia-se russo;
  • os EUA pareciam muito pouco empenhados em desperdiçarem dólares e vidas humanas na defesa da Europa e na reanimação da NATO, quase em estado vegetativo depois da inércia irresponsável dos mandatos do Presidente Obama, que “ofereceu a Crimeia” a Putin fingindo que não era nada com ele, e dos disparates acumulados do Sr. Trump, grande amigo de Putin, diga-se, que tudo fez para desconstruir as relações e alianças tradicionais e históricas entre os EUA e os países europeus ocidentais;
  • a manifesta falta de liderança política na União Europeia, com cidadãos profundamente aburguesados e habituados a décadas de abundância sem sangue, com aparente pouca disposição para trocarem o seu conforto pela defesa dos seus valores civilizacionais e dos seus modelos de sociedade, baseados em Democracias representativas do tipo Ocidental;
  • por último, e não menos importante, o grande exército russo não tinha opositor que se lhe comparasse na Europa, pelo que quem se atrevesse a fazer-lhe frente seria trucidado!

Em suma, tudo isto parecia encaixar na perfeição, sendo que teríamos uma “Nova Rússia” ao fim de uma ou duas semanas, acrescentada de um novo território equivalente à França, com recursos naturais da maior importância e com mais cerca de 40 milhões de habitantes, praticamente a custo zero, como se se tratasse de uma ação de limpeza dos velhos arsenais militares do antigo império soviético.

A verdade é que praticamente tudo saiu ao contrário ao Sr. Putin, a saber:

  • em primeiro lugar, os Ucranianos não se deixaram vencer pelo medo e pelo pânico e deram o corpo às balas, defendendo o seu chão sagrado, a sua Pátria, mostrando ao Sr. Putin que não são, nem querem ser alguma vez, “pequenos russos”, optando antes por assumirem aquilo que sempre foram, ou seja, um grande povo, formado por “grandes ucranianos”;
  • os líderes ucranianos assumiram por inteiro o seu papel e a sua responsabilidade, mantendo-se aos comandos do país na capital Kiev, transmitindo ao povo ucraniano a determinação e coragem necessárias na resistência ao poderoso invasor, ao invés de negociarem o seu exílio dourado num qualquer país da União Europeia, fazendo política a partir do conforto dos sofás e das câmaras das televisões mundiais;
  • os EUA assumiram o seu papel de superpotência e de líderes naturais da NATO, reforçando a sua capacidade de resposta em total apoio à Ucrânia, tendo Joe Biden surpreendido muito positivamente pela sua firmeza e tenacidade no combate frontal a Putin;
  • a União Europeia uniu-se à volta da defesa da Ucrânia, revelando uma coesão e uma determinação nunca vistas em temas de segurança internacional, o que fez com enorme apoio popular, diga-se;
  • as grandes Forças Armadas Russas têm revelado enormes fragilidades, em particular na preparação logística e na formação dos seus soldados, secundarizando e até vulgarizando o papel da Rússia na cena internacional;
  • por último, e como que a cereja no topo do bolo, os supostos aliados mundiais da Rússia aproveitaram um encontro anual não para apoiarem Putin, mas para lhe fazerem todas as justas advertências que uma mãe e um pai fazem a um filho quando ele se porta mal!

Chegados aqui, e depois das derrotas humilhantes de Kiev e de Kharkiv, o Sr. Putin troca as vestes de lobo pelas de cordeiro e faz-se de vítima, transmitindo aos Russos a ideia de que, afinal, os países da Nato querem humilhar a Rússia e desejam ardentemente a sua aniquilação física, usando, se necessário for, o arsenal nuclear!

E dado que pela via das armas, no terreno, não se consegue impor a vontade de Putin e dos seus generais, há que vencer o inimigo na secretaria, inventando uns referendos fraudulentos sobre a anexação destes territórios à Rússia, com resultado pré-anunciado pelas autoridades russas, seguramente com maiorias arrasadoras ao velho estilo soviético e a serem executados no terreno pelos fantoches de Putin e do actual poder russo.

Este senhor é um louco perigoso que urge travar, já, em benefício dos ucranianos, da Europa, do Mundo e, inclusivamente, do sofrido e martirizado povo russo.

Acredito que esta mobilização parcial de 300.000 reservistas que o Sr. Putin agora decretou se irá tornar no veneno que o irá liquidar, pelo impacto que as mortes irão ter seguramente na sociedade russa, em particular nas grandes cidades, até aqui praticamente desatentas a essa dita operação especial para “desnazificar os pequenos Russos”!

Importa agora, mais do que nunca, manter a unidade e o empenhamento da Europa, dos EUA e do mundo contra esta horrenda guerra sem sentido e sem qualquer justificação provocada por Putin e pelo seu regime, obrigando à sua retirada total, forçando a paz digna para o Estado soberano da Ucrânia, com restituição de todos os seus territórios, sem excepção!

De uma coisa eu tenho a certeza: independentemente do resultado final desta guerra, Putin já perdeu!

21 de Setembro de 2022