Devo começar por declarar que considero Rui Rio uma pessoa séria e que fez um bom trabalho na CM Porto.

Dito isto, temos de reconhecer que Rui Rio, enquanto líder do PSD, tem vindo a acumular um conjunto vasto e muito diverso de erros estratégicos que muito dificilmente permitirão que venha a ocupar a cadeira do poder no Palácio de S. Bento, sendo que consideramos que três daqueles erros constituem mesmo pecados mortais, a saber:

Pecado mortal nº 1

Logo após a sua chegada a Presidente do PSD e, por consequência, a líder da oposição, Rui Rio faz o seu “haraquiri” político ao não assumir o seu papel natural de “Challenger” de António Costa, deixando passar a ideia para o eleitorado de que não se importaria de ser número dois do actual primeiro-ministro!

Para quem deveria liderar a oposição ao Governo é uma opção no mínimo estranha, reconhecendo-se-lhe sempre maior capacidade de combate aos seus adversários internos, do que empenhamento efectivo na contestação absolutamente necessária ao Governo da geringonça, liderado por António Costa.

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Pecado mortal nº 2

Face à oferta de bandeja que o Bloco de Esquerda e o PCP lhe colocaram no regaço com o fim da geringonça, Rui Rio, ao invés de cavalgar a onda do fim desta solução governativa, responsabilizando-a pela ingovernabilidade gerada no País em plena crise pandémica, entretém-se a jogar às escondidas com os partidos à sua direita, contornando eventuais coligações com CDS e a Iniciativa Liberal (IL), assumindo uma estratégia de querer oferecer ao eleitorado, não uma alternativa, mas pouco mais do que um “PS melhor comportado”!

Rui Rio não percebeu que uma aliança com o CDS e a IL não valia pela simples soma aritmética dos votos que representam, mas antes pela dinâmica criada no bloco moderado do centro-direita e pela liderança de uma alternativa de poder credível ao PS, com ou sem geringonça.

Desta forma, Rui Rio oferecia uma alternativa clara aos Portugueses, ao mesmo tempo que canibalizaria parte do eleitorado do Chega pela dinâmica de projecto, e de vitória, criada, retirando-lhe espaço político e importância eleitoral.

Pecado mortal nº 3

No 1º debate em que participa, neste caso com André Ventura, Rui Rio desvenda de forma tácita a sua estratégia para a governação do País, sinalizando que quem à direita do PSD não quiser o PS no Governo, deverá apoiar o PSD no Parlamento, não porque representa um projecto alternativo, mas porque o PSD será capaz de gerir melhor o “centrão” de interesses do que o PS e António Costa.

Em suma, o que Rui Rio tem para propor ao eleitorado, não é uma verdadeira alternativa, mas uma substituição de protagonistas e de cor partidária, para fazer basicamente o mesmo, eternizando a solução de ping-pong entre PS e PSD, com os péssimos resultados que isso tem trazido ao País!

Será que Rui Rio não percebe que entre a cópia (Rui Rio e PSD) e o original (António Costa e PS), o povo acabará por preferir este último, apesar do cansaço óbvio do actual primeiro-ministro e do esgotamento da solução política que propõe?

Com esta estratégia e, sobretudo, com esta falta de ambição dificilmente Rui Rio lá chegará e se, porventura, isso vier a acontecer, hipótese que consideramos remota, nada de substancialmente diferente trará ao País e ao nosso futuro colectivo!

Lamentavelmente, creio que mais uma vez perdemos uma excelente oportunidade para mudarmos de rota e de vida!

Vamos ter de esperar pela saída de Rui Rio e de António Costa de cena para clarificarmos o albergue espanhol em que estamos metidos!