Nos dias de hoje, apesar da repetição de sondagens que reafirmam a supremacia eleitoral da esquerda em Portugal, não faltam agrupamentos não-socialistas. Uma quase reedição da multiplicidade da extrema-esquerda que a foi afastando do poder até à congregação no BE.
O Dr. Santana Lopes esperava que a Aliança fosse o resultado de uma migração maciça de militantes do centro-direita. Não foi assim e agora, depois de lhe negarem coligações (até porque seria sempre estranho coligar-se com quem desprezou) e ter ido cumprimentar uns piquetes de greve, não é nada certo que consiga convencer muitos dos abstencionistas ou dos novos eleitores. Dizem querer 2% dos votos, mas sabem que só com isso não terão partido duradoiro. Dos velhos eleitores ainda há muitos que se lembram de ter votado Sócrates para fugir ao Santana. Foi injusto, sem dúvida, mas o Engenheiro parecia ser o Blair lusitano e não era possível imaginar o que agora se suspeita. Como se poderia desconfiar da probidade do Sr. Engenheiro quando aqueles camaradas que conviveram com ele, anos a fio, reunindo-se semanalmente com o então primeiro ministro, de nada duvidaram? Se nem ao Dr. Silva Pereira, íntimo socratista transformado em neo-costista, passou pela cabeça qualquer hipótese de falcatrua, como poderiam os restantes socialistas desconfiar de praxis menos ética? Francamente. E o Dr. António Costa também nunca desconfiou e só agora, ingrato, vem lamentar-se de ter estado, vejam lá, num governo de maioria absoluta do PS, seguramente aquele que mais sucesso teve até hoje.
Há, também, uns partidos libero-libertários com protagonistas que quase ninguém conhece, o que pode ser bom e não é demasiado relevante, mas com propostas não muito bem justificadas e sem agenda social que se apresente. Tudo livre, sem intervenção reguladora, sem impostos e depois logo se verá. Uma espécie de darwinistas sociais de nova geração, muito “giros” e muito “modernos”, com metáforas engraçadas como aquela do não querer o Estado na cama. Sejam bem-vindos ao debate. Com o tempo ganharão consistência suficiente e, acima de tudo, servem para valorizar o centro que deixará de se confundir com a sua direita. Estão dispersos mas poderão vir a ser a direita que Portugal não tem tido e que faz falta em qualquer democracia parlamentar.
Logo, se é verdade que o campo da direita moderada está fragmentado, sem identidade nem liderança apelativa, não é menos verdade que a abstenção será validar as duplicidades de António Costa e essencialmente o mesmo que votar no PS. Logo, havendo a necessidade imperiosa de votar, para não sufragar o Dr. António Costa, resta votar no PSD ou no CDS.
Os nomes nas listas, cabeças ou seguintes, não têm interesse particular para o votante médio e quase ninguém lê os programas eleitorais. O que está em causa para o eleitor, num sistema onde não há a eleição direta de representantes, é a imagem de um futuro PM. Sejamos objetivos. O exercício de liderança partidária leva-me a pensar que o (ex)presidente da câmara municipal do Porto ainda não evidenciou perfil bastante para ser primeiro-ministro de Portugal inteiro. Não falta quem pudesse ter substituído o Dr. Passos Coelho. Infelizmente, a vida de cada um e as leituras dos tempos políticos ditaram que os militantes do PSD (continuo a insistir que é um nome infeliz para quem não quer ser PS) tivessem de escolher entre Rui Rio e Santana Lopes. Ficaram livres do segundo e poderão estar a caminho de despedirem o primeiro. Não se deseja que o preço desta futura clarificação partidária possa ser mais uns anos da esquerda e dos seus absurdos.
Mesmo assim, sabendo que muitos dos melhores do PSD não estão nas listas de candidatos a deputados, tendo a consciência de que o Dr. Rui Rio não parece estar (para já) em posição de ganhar as próximas eleições legislativas, para quem não quer a reedição do “socialismo”, há que votar no PSD. Em primeiro lugar, apesar do descontentamento que Rio possa gerar entre alguns militantes, o PSD não é só ele. Em segundo, um PSD demasiado fraco terá muito mais dificuldades em modificar-se ou evoluir. Em terceiro, o grupo parlamentar do PSD deverá continuar a ser a principal força da oposição e não há nenhuma vantagem em que o PSD tenha poucos deputados. Quarto, o mais importante, cada voto no PSD será um voto para reforçar o centro moderado, o único capaz de gerar soluções governativas e com capacidade de liderança de uma futura e, digo eu, inevitável coligação com o CDS. Quinto, mesmo que o PS ganhe folgadamente (o que pode ser muito provável, mas ainda não é certo), só com um PSD forte haverá a possibilidade de gerar legislação equilibrada e duradoira, capaz de resolver problemas a médio e longo prazo. Os detratores do centrão que me desculpem, mas é mesmo assim. A alternativa é o esquerdão. Preferem? Sexto, a dispersão de votos anti-PS nas novas agremiações da suposta “direita”, da Aliança aos auto-denominados liberais, será favorecer o PS e criar o impulso de que a esquerda espera para a desintegração do espaço não-socialista em Portugal.
Achar que esmagar o PSD nas urnas é a melhor forma de impor a mudança de liderança no PSD é um erro, além do mais porque a liderança do PSD é um problema do PSD (a resolver entre os militantes do PSD) e a abstenção ou o voto na direita “anti”-Rui Rio, é apoiar António Costa e penalizar todo o Portugal. Se nem os 6 argumentos anteriores servirem e o PSD for “engolido”, então… a campanha terá sido um desastre, as febras grelhadas ainda mobilizam, os arautos não foram competentes, a imagem não passou, os portugueses ainda não falam alemão, haverá quem tenha lido os programas eleitorais, os votos nos “outros” são mais importantes do que os “brancos”, a regionalização não convence, teria sido inteligente honrar o legado de Passos Coelho, Lisboa ainda é a capital, a zaragata permanente fez mossa, as listas de candidatos a deputados não eram irrelevantes, perder em todas as sondagens era mesmo um alerta, o País está nas mãos da Maçonaria, a comunicação social ainda é importante e o PSD terá de pensar em quem quer na direção.
Fui, conjuntamente com um outro colega de Governo, um dos que manifestaram em Conselho de Ministros a opinião inequívoca de que o Dr. Pedro Passos Coelho, após a vitória da coligação PSD-CDS em outubro de 2015, deveria ter aceitado a manutenção de um governo de gestão até que o próximo Presidente fosse eleito. Hoje, quase 4 anos depois e apesar de me ter sido pessoalmente excelente o abandono da política, estou ainda mais convicto de que tínhamos razão. A tese baseava-se na ideia de que uma coligação de socialistas-comunistas não seria transitória, estando já preparada/desenhada antes das eleições, de que as eleições presidenciais teriam uma valorização diferente para quem fosse eleito, logo à partida com o desafio de empossar um governo de esquerdas ou convocar novas eleições, e de que um sufrágio em meados de 2016 obrigaria Costa a um escrutínio eleitoral sem nada nas mangas, sendo já conhecida a sua vontade de se coligar com o PCP e BE. A história ditou outro curso. Felizmente, o passado é inalterável mas o futuro não é inevitável.