Fui educado pelos meus pais a sempre assumir as minhas opiniões e a não temer que estas fossem contrárias à opinião de outros, em especial da maioria. O mais importante era ser verdadeiro comigo próprio, mesmo que isso por vezes trouxesse alguns dissabores. A religião em que fui educado reforçou essa mesma postura vertical. Afinal, ser criado num pequeno grupo religioso, que à época sofria bastante hostilidade e preconceito em Portugal, não era fácil. Tinha que estar constantemente em alerta, pois a qualquer momento a minha fé poderia ser provada. Ser Testemunha de Jeová não era nada fácil e vários episódios ocorridos durante a infância e juventude testaram a minha crença religiosa, tal como relato no meu livro “Apóstata! – Porque abandonei as Testemunhas de Jeová”.

Mantive sempre esta postura, convicto de que praticava a adoração verdadeira e estava sempre pronto a defender as minhas convicções religiosas, mesmo perante o sarcasmo, a ironia e até a oposição dos meus colegas de escola, trabalho, etc. Afinal, se eu tinha a “verdade” porque haveria de me acovardar, suavizando as minhas crenças ou dando a entender que elas não eram tão radicais e extremistas como os meus pares as encaravam? Sim, eu até estava disposto a morrer pela minha fé se fosse preciso! A própria organização religiosa incentivava esta postura corajosa, vez após vez em suas publicações e discursos, tal como neste exemplo:

“Como imitadores de Cristo, precisam ser testemunhas destemidas de Jeová Deus. Não podem ter medo de expor a falsidade e de advogar a verdade da Palavra de Deus, não importa quão impopulares possam ser. Por causa de integridade a Deus, podem ser lançados em prisão, obrigados a deixar o emprego ou podem ser deportados do país de residência. Disto podem estar certos: “Todos os que desejarem viver com devoção piedosa em associação com Cristo Jesus também serão perseguidos. (2 Tim. 3:12)” – A Sentinela, 15/3/1964, pg. 174

Ao longo de mais de 30 anos, fui uma Testemunha de Jeová que levava a sua fé a sério, acreditando que teria a esperança de viver num futuro paraíso terrestre, reservado para aqueles que se mantivessem leais e íntegros à crença, conforme ensinada pela Organização religiosa – a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados – cuja sede mundial fica nos EUA.

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Foi somente após ser ancião e conhecer os bastidores e regras internas do grupo, que estão reservados apenas àqueles que são escolhidos para liderar as congregações, que comecei a perceber que a tal verticalidade em defender as crenças e políticas organizacionais não tem a mesma importância que é passada para os membros comuns. O importante para a organização religiosa é que os seus representantes oficiais em cada país transmitam uma imagem saneada, maquilhada e minimamente atractiva para a sociedade – mesmo quando confrontados com escândalos de abuso sexual de crianças, membros que morrem por recusarem tratamento médico com recurso a componentes do sangue condenados pela Torre de Vigia, a prática do ostracismo ou morte social, etc…

Nestes casos, a verdade e os factos podem ser sacrificados, de modo a salvar as aparências e minimizar quaisquer críticas que surjam por meio de reportagens televisivas, entrevistas de ex-membros em órgãos de comunicação social ou escândalos de pedofilia. Assim, a organização religiosa costuma apresentar comunicados lacónicos ou então remete-se simplesmente ao silêncio, deixando que a poeira assente e as pessoas se esqueçam do assunto. Foi o que aconteceu com a grande reportagem da jornalista Ana Leal, “Na Sombra do Pecado”. Na época, essa reportagem teve grande repercussão em Portugal e motivou até a vinda de um líder da cúpula dos EUA. Esse líder máximo da organização religiosa (corpo governante), David Splane, disse a certa altura do seu discurso numa reunião especial, com respeito a reportagens negativas contra as Testemunhas de Jeová, “…nós costumamos deixar as coisas como estão, e deixamos a história morrer”.

É natural que a esta altura se esteja a perguntar: mas afinal onde é que quer chegar com esta informação?

Pois bem, esta introdução serve para contextualizar aquilo que vou analisar a seguir: o comentário de Carlos Malato no seu Instagram, com palavras bastante duras sobre as Testemunhas de Jeová e a declaração posterior da organização religiosa como forma de se defender. O que Carlos Malato disse pode ser lido aqui. O foco do seu desabafo e palavras contundentes foi o ostracismo ou morte social a que são votados os ex-membros das Testemunhas de Jeová, tanto os que são expulsos (desassociados), como aqueles que saem de livre vontade (dissociados).

Conforme ele próprio tem dito em várias entrevistas, e nunca se coibiu de se identificar como ex-Testemunha de Jeová, ele próprio já sofreu na pele a rejeição dentro da comunidade e especialmente dentro da sua própria família, nomeadamente com o corte de relações da sua mãe, praticante desta religião.

Na época, ele também manifestou no seu Instagram um lamento por este corte de relações familiares dizendo: “Perdi o meu pai há 5 meses, em circunstâncias trágicas. Como se não bastasse, temo ter perdido também a minha mãe, neste tempo que passou. Sou desassociado há mais de 30 anos das Testemunhas de Jeová e, por essa razão, a minha mãe foi proibida/proibiu-se (?) de privar comigo e com a minha irmã, vir a nossa casa, tirar fotografias, andar connosco na rua. Porque somos desassociados desta organização fundamentalista e radical e, eu, porque sou gay.

Na altura, este comentário foi bastante polémico e igualmente comentado nos media. Percebe-se, portanto, como Carlos Malato é sensível a esta questão do ostracismo ou morte social, praticado pela organização religiosa das Testemunhas de Jeová. Ele mesmo tem sofrido essa rejeição imposta pela comunidade religiosa, sediada em Portugal desde os anos 20 e que conta com mais de 50.000 membros, entre muitos mais simpatizantes no nosso país.

A situação vivida pelo homem com quem falou e que lhe relatou o abandono emocional e físico vividos com o corte de relações familiares, trouxe à tona a sua própria vivência. É absolutamente compreensível! Só mesmo quem passa pela experiência sabe dar o valor ao que é ser-se expulso da organização religiosa ou decidir abandoná-la e sofrer a morte social que ela impõe como penalidade.

Muitas pessoas desconhecem esta regra ou política organizacional das Testemunhas de Jeová. Algumas pessoas acreditam que são situações isoladas e motivadas por um zelo exagerado de algumas Testemunhas de Jeová. Outras, através dos seus comentários online, mostram conhecimento pessoal do assunto e dizem ter sofrido o mesmo ou conhecem alguém que passou ou passa pela mesma situação.

Mas eis que algo aconteceu, algo que raramente ocorre: a Associação das Testemunhas de Jeová, entidade religiosa que controla as actividades das mais de 600 congregações no nosso país, enviou um comunicado contradizendo Carlos Malato e pondo em causa as suas afirmações contundentes. Neste comunicado, a Associação das Testemunhas de Jeová desmente o conhecido apresentador, apresentando a sua versão dos factos.

A acreditar-se nesta declaração, as Testemunhas de Jeová tratam os gays “com bondade”, não praticam o ostracismo para com ex-membros, em especial com familiares, batizam apenas “pessoas maduras” e “não batizam os seus filhos na infância”.

A questão que se levanta é: quem diz a verdade? O Carlos Malato ou a Associação das Testemunhas de Jeová?

Nada melhor do que consultar e analisar o que dizem as publicações oficiais da organização religiosa e seus vídeos, que estabelecem as políticas oficiais sobre estes assuntos. Veremos se aquilo que dizem e mostram está de acordo com este comunicado oficial.

Com respeito à forma de tratar homossexuais, é preciso dizer-se que as Testemunhas de Jeová, assim como outras confissões cristãs, têm a homossexualidade como um grave pecado contra Deus e consideram-no um “desvio” do propósito original de Deus. Apoiadas em vários textos bíblicos, acreditam que a prática homossexual conduzirá, não apenas a problemas físicos no presente (doenças sexualmente transmissíveis, etc.), como à desaprovação de Deus e consequente destruição no Armagedão.

Inúmeros artigos condenando a homossexualidade podem ser encontrados nas suas publicações, tal como este, encontrado na Despertai! de 22 de Abril de 1984, com o tema de capa “Uma epidemia de homossexuais”. Em outro artigo chamado “Frangos e gaviões”, a Despertai! de 22 de Dezembro de 1982, relaciona a homossexualidade com a pedofilia. Leia este artigo que rebate esse argumento. Para matéria mais recente ver na Biblioteca online da Torre de Vigia aqui.

Ao longo de décadas, as Testemunhas de Jeová têm criticado duramente os homossexuais, como se fosse uma mera escolha pessoal, e têm promovido o ostracismo de membros que se assumem como gays, levando a que as suas famílias os tratem como leprosos. Conheço pessoalmente casos assim.

Veja o caso de Daniel, que contou a sua experiência pessoal neste artigo do Observador. Ele diz o que aconteceu após ter sido anunciada a sua desassociação na congregação: “Soube mais tarde que tinham anunciado a minha saída numa reunião. […] Desde então só tive contacto com os meus pais uma vez, porque lhes reencaminhei um email das Finanças que recebi, falámos ao telefone. Com o resto da família é igual. E com os amigos, atualmente só falo com duas pessoas”. Ele foi banido, não apenas da prática religiosa, mas foi banido do convívio familiar porque assumiu ser gay. Como ele, milhares de homens e mulheres têm sofrido o mesmo destino.

Como é possível a Associação das Testemunhas de Jeová dizer que “não criticam nem maltratam as pessoas que escolhem viver de modo diferente”. Sofrer o ostracismo ou morte social não é maltratar? Publicar matéria vez após vez contra os homossexuais não é criticar? Porque não assumem honestamente a sua posição religiosa e práticas internas? Para quê faltar à verdade?

Outra declaração curiosa na sequência do comunicado diz: “Quando alguém – por qualquer razão – deixa de fazer parte da comunidade religiosa, ‘o vínculo religioso que ela tinha com a família muda, mas o vínculo familiar continua. O relacionamento conjugal e os afetos e tratos familiares continuam’.” (Evitam as Testemunhas de Jeová aqueles que deixaram de ser da sua religião? – jw.org)”.

Esta declaração dá a entender que um ex-membro continua a ter a mesma convivência com a família Testemunha de Jeová que tinha antes de abandonar o grupo ou ter sido expulso dele. O que dizem os factos?

Para sabermos se esta declaração é verdadeira ou não, vamos novamente às publicações da Sociedade Torre de Vigia. Estas publicações não são entregues ao público em geral, mas são apenas estudadas nas congregações e são encaradas como tendo o selo de aprovação divinos. Têm o mesmo peso que a própria Bíblia, pois os líderes da religião que escrevem e aprovam tais matérias são encarados como “porta-vozes” de Deus na terra, e a organização que dirigem como “profeta” que proclama as “verdades bíblicas”.

Vejamos para começar, a publicação Mantenha-se no Amor de Deus que serve de manual para as Testemunhas de Jeová. Neste livro, existe um apêndice onde um dos capítulos explica a forma correcta de lidar com ex-membros. O capítulo, com o tema “Como tratar uma pessoa desassociada”, começa por dizer de modo claro:

A Bíblia diz: “Parem de ter convivência com qualquer um que se chame irmão, mas que pratique imoralidade sexual, ou que seja ganancioso, idólatra, injuriador, beberrão ou extorsor; nem sequer comam com tal homem.” (1 Coríntios 5:11) Com respeito a qualquer pessoa que ‘não permanece nos ensinamentos do Cristo’, lemos: “Não o recebam na sua casa, nem o cumprimentem. Pois quem o cumprimenta participa das suas obras más.” (2 João 9-11) Nós não nos associamos com desassociados, quer para atividades espirituais, quer sociais. A Sentinela de 15 de dezembro de 1981, página 21, disse: “Um simples ‘Oi’ dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade. Queremos dar este primeiro passo com alguém desassociado?

Não há margem para dúvidas! “Nós não nos associamos com desassociados, quer para atividades espirituais, quer sociais”. “Um simples ‘Oi’ (olá) dito a alguém pode ser o primeiro passo para uma conversa ou mesmo para amizade.”

Continuando, o próximo parágrafo reforça a postura inflexível da organização religiosa levantando a pergunta: “É realmente necessário evitar TODO e QUALQUER contato com a pessoa?”. Notem como a pergunta não deixa grande margem para excepções: TODO E QUALQUER CONTATO!

Passa depois a enumerar as razões que supostamente têm base bíblica. Na realidade, é um entendimento forçado e completamente descontextualizado dos textos bíblicos, que quando analisados em pormenor não apoiam esta postura inflexível e desumana, conforme explico neste artigo. Agora vamos ao ponto mais importante e que está relacionado com o comentário do Carlos Malato: “E quando o desassociado é um parente?”.

Eles passam a apresentar o assunto como um “verdadeiro teste à lealdade”. É passado a explicar que enquanto o parente desassociado for da família imediata e more na mesma casa, por exemplo um filho ou cônjuge, o tratamento será um pouco mais benevolente, embora exista um corte de relações em termos de “associação espiritual”. Quanto ao resto a situação permanecerá relativamente igual. É este o exemplo que é dado na declaração da Associação das Testemunhas de Jeová, como se fosse aplicado a todos os cenários possíveis. Muito enganador…

O capítulo passa a mostrar que caso a pessoa não faça parte da família imediata e/ou não more na mesma casa, então a situação muda de figura. Nesse caso, a organização religiosa diz que o “contato deve restringir-se ao mínimo possível”. É até mesmo dito que “membros leais de uma família cristã não procuram desculpas para ter tratos com um parente desassociado que não more na mesma casa”.

Estas orientações da organização religiosa são encaradas como tendo lei divina e são lidas, não como uma mera interpretação da Bíblia, mas como sendo orientações de Deus por meio dos líderes da religião. Não existe margem para contestar ou colocar em causa tal interpretação. Ao se ler esta matéria, entende-se como pais amorosos podem banir um filho de suas vidas, cortando totalmente o contacto com ele. Mas o inverso também acontece.

Vejam por exemplo, o que diz o Ministério do Reino de 8 de Agosto de 2002, uma publicação estudada semanalmente durante décadas pelas Testemunhas de Jeová. No subtítulo “E quanto a falar com o desassociado”, dava o seguinte exemplo como modelo de prática para TODAS as TJ:

Depois de ouvir um discurso numa assembléia de circuito, um irmão e sua irmã carnal se deram conta de que precisavam mudar o modo como tratavam a mãe, que morava em outro lugar e havia sido desassociada seis anos antes. Logo depois da assembléia, o irmão ligou para a mãe e, depois de reafirmar seu amor por ela, explicou que não falaria mais com ela, a não ser que um assunto familiar importante exigisse esse contato. Pouco depois, a mãe começou a assistir às reuniões e, com o tempo, foi readmitida. Também, o marido dela, um descrente, passou a estudar e com o tempo foi batizado.

Matérias tais como esta existem nas publicações da Organização religiosa ao longo de décadas. Vejamos outros exemplos:

Certo jovem estava desassociado havia mais de dez anos e, durante esse período, seu pai, mãe e quatro irmãos ‘cessaram de ter convivência’ com ele. Às vezes, ele tentava se envolver nas atividades da família, mas, para crédito dela, todos os seus membros evitaram firmemente qualquer contato com ele. Já readmitido, ele disse que sentia muita falta da associação com a família, em especial à noite, quando ficava sozinho. Mas ele admitiu que, se a família tivesse se associado com ele, mesmo só um pouco, essa pequena dose o teria satisfeito. No entanto, ele não recebeu nem mesmo a menor comunicação de qualquer membro da família. Assim, seu forte desejo de estar com seus familiares contribuiu para a restauração de sua relação com Jeová. Pense nisso se algum dia você for tentado a violar o mandamento divino de não se associar com parentes desassociados.” – A Sentinela de 15 de Abril de 2012

Veja o exemplo de uma irmã chamada Anne.[1] Sua mãe, que é desassociada, ligou para ela dizendo que queria visitá-la e que não aguentava mais de saudade dela. Isso mexeu muito com Anne porque ela também sentia falta de sua mãe. Anne disse que daria a resposta numa carta, mas antes tirou um tempo para considerar alguns princípios bíblicos. (1 Cor. 5:11; 2 João 9-11) Na carta, ela explicou com muito jeito que sua mãe tinha se colocado naquela situação porque tinha errado e não estava arrependida. Ela também escreveu: “A única maneira de a senhora aliviar seu sofrimento é voltando para Jeová.” — Tia. 4:8.” – A Sentinela de Fevereiro de 2016

É fácil perceber nestas citações, a manipulação e chantagem emocional exercidas sobre aqueles que se veem ostracizados ao saírem da religião. A liderança sabe que a pressão psicológica a que são sujeitos os ex-membros é intensa e suscitadora de sentimentos depressivos. Têm sido relatados casos de suicídio em todo o mundo, pois nem todas as pessoas conseguem gerir de forma equilibrada os seus sentimentos ao verem-se privadas, num abrir e fechar de olhos, de todo o seu núcleo social e familiar. Poderia estar aqui muito mais tempo a citar publicações oficiais da Sociedade Torre de Vigia, que demonstram a forma cruel como as Testemunhas de Jeová tratam seus ex-membros, seguindo fielmente as ordens dos seus líderes nos EUA. Convido-vos a verem apenas dois vídeos oficiais da Organização religiosa, que provam sem sombra dúvida como a organização ensina os seus membros a tratarem aqueles que foram expulsos ou decidiram “abandonar a Jeová”: Vídeo 1 | Vídeo 2

Depois de se ver as matérias oficiais da organização religiosa e estes dois vídeos, não é difícil perceber quem diz a verdade e quem mentiu sobre a forma como os ex-membros das Testemunhas de Jeová são tratados, em especial, pela família na religião.

Agora passarei a analisar a declaração da organização que diz que “não batizam os seus filhos na infância”, sendo uma decisão feita por “pessoas maduras”. Para começar, convido a ver um excerto de um vídeo da organização, lançado este mês e que se foca na relação dos pais com seus filhos e a forma clara como as crianças nas Testemunhas de Jeová são incentivadas ao batismo. Veja aqui a partir do minuto 16:58 ao minuto 18:38.

Conforme se vê no vídeo, uma menina com uns 8 anos de idade é apresentada como exemplo para todas as crianças filhas de pais Testemunhas de Jeová. Vê-se o seu batismo e a foto após ser batizada com a mãe a abraçá-la. Como é possível que a Associação das Testemunhas de Jeová diga que apenas “pessoas maduras” são batizadas e que os seus filhos não são batizados na infância?

É verdade que as Testemunhas de Jeová não batizam bebés, mas será que uma criança de 8, 9, 10 anos ou pouco mais tem a sua cognição plenamente desenvolvida para entender o passo do batismo nesta religião e as consequências futuras que terá caso deseje abandonar o grupo ou seja expulsa dela, especialmente durante os anos conturbados da adolescência? Muitos filhos de Testemunhas de Jeová foram batizados ainda em crianças e mais tarde foram expulsos, causando muitas dificuldades nas suas famílias.

Vejamos outra matéria que expõe os factos. Na revista A Sentinela de Março de 2018, debaixo do tema “Porque o cristão precisa se batizar?“, o autor do artigo inicia logo a matéria escrevendo:

PAULA, uma menina de 9 anos, fica de pé junto com os outros candidatos ao batismo. Seus pais olham para ela enquanto o orador faz as duas perguntas. Ela responde bem alto para todos ouvirem: “Sim!” Pouco depois, Paula foi batizada. Os pais de Paula estavam orgulhosos por sua filha ter decidido dedicar a vida a Jeová e se batizar. Mesmo assim, um tempo antes, a mãe dela ainda tinha algumas dúvidas. Ela se perguntava: ‘Será que Paula não é nova demais para se batizar? Será que ela entende que o batismo é algo sério? Não seria melhor ela esperar um pouco mais?’ É normal os pais fazerem essas perguntas quando um filho diz que quer se batizar. (Ecl. 5:5) Afinal, a dedicação e o batismo são os passos mais importantes que um cristão toma na vida. — Veja o quadro “Você já se dedicou a Jeová?

Com esta introdução percebe-se claramente que o foco da matéria não é apenas a necessidade de alguém se batizar como sinal de que se tornou cristão, mas sim a necessidade de uma criança se batizar. Iniciando o artigo com o exemplo de uma jovem menina de apenas 9 anos sendo batizada, a mensagem inicial da Torre de Vigia para os pais é claramente algo semelhante a isto:

Vejam como esta menina de apenas 9 anos está sendo batizada e dedicando a sua vida a Jeová. Olhem para os vossos filhos e perguntem-se porque eles ainda não tomaram esta decisão em suas vidas? Será que vocês estão fazendo um bom trabalho em criar seus filhos, levando-os a querer servir a Deus, logo desde tenra idade?

Como é possível a Associação das Testemunhas de Jeová vir dizer nesta declaração que apenas “pessoas maduras” se batizam? Isso é falso!

Neste vídeo infantil da organização religiosa, uma pequena criança é incentivada ao batismo, através de uma animação no site oficial jw.org. Até mesmo o pormenor de um ursinho na cama da criança é colocado para demonstrar que é realmente uma criança bem pequena. Como é que dizem então que não batizam seus filhos na infância?

No artigo da revista A Sentinela citado acima, dizem inclusivamente que “não existe nenhuma idade considerada ‘certa’ para se batizar. Cada estudante da Bíblia progride no seu próprio tempo. Muitos se batizam quando são bem jovens e continuam fiéis a Jeová durante a vida toda. Outros começam a estudar a Bíblia e se batizam quando já são idosos. Alguns até se batizam quando têm mais de 100 anos de idade!.

Destaco a frase “não existe nenhuma idade considerada ‘certa’ para se batizar” e “muitos se batizam quando são BEM JOVENS”. Embora o artigo não mencione idades, basta o primeiro parágrafo que menciona uma jovem de 9 anos para se perceber quão jovens podem ser. O artigo diz mais à frente que “a Bíblia mostra que mesmo crianças bem novas já conseguem entender e amar as verdades da Bíblia”.

Afinal, será que a declaração da Associação das Testemunhas de Jeová, refutando o comentário do Carlos Malato, pode ser considerada verdadeira? Ou é um esforço de esconder a verdade dos factos que apenas os membros e ex-membros conhecem?

Torna-se claro que a organização religiosa MENTIU nas suas declarações, pretendendo dar uma imagem diferente da realidade. A pergunta que se pode fazer é: Porquê a necessidade de mentir, usar falácias e meias-verdades?

Se aquilo que fazem, com respeito ao tratamento dos homossexuais, ex-membros e batismo de crianças tem o selo de aprovação divinos para quê a necessidade de transmitir uma informação que tenta mascarar a realidade? Porque não assumir de cabeça erguida a sua prática religiosa e políticas organizacionais? Afinal têm medo do quê? Ficam as perguntas.

A Associação das Testemunhas de Jeová termina com esta declaração: “Como Testemunhas de Jeová, sabemos, por experiência própria, que a informação tendenciosa pode promover o preconceito, a discriminação e até o ódio e a violência contra minorias religiosas. O preconceito e a intolerância provocaram a perseguição das Testemunhas de Jeová pelo regime nazi, pelo ‘Estado Novo’, em Portugal e, hoje, também são a causa da perseguição (e até de casos de tortura) que as Testemunhas de Jeová estão a sofrer, nomeadamente na Rússia“.

É verdade que as Testemunhas de Jeová têm sido vítimas de muito ódio e preconceito ao longo de décadas e atualmente em países como a Rússia. Elas têm sofrido perseguição e banimento por parte de regimes políticos que veem nelas doutrinas e práticas indesejáveis para as suas sociedades. Mas usar isso como argumento para se defenderem de acusações verdadeiras e justas, como as de Malato é uma falácia. É fugir à responsabilidade daquilo que ensinam e impõem aos seus membros.

Os ex-membros das Testemunhas de Jeová também são uma minoria dentro do grupo e no entanto, são alvo de ódio e desprezo dos líderes e comunidade. São vilipendiados, ostracizados e tratados como tendo perdido o seu valor na comunidade e aos olhos de Deus. A menos que voltem para a religião, continuarão a ser tratados assim, até morrerem.

Isto é prática de desumanização! É prática de preconceito e intolerância religiosos! É um ataque direto à dignidade da pessoa humana, uma violação dos mais fundamentais direitos humanos!

Que moral tem a Associação das Testemunhas de Jeová em usar o argumento do preconceito e intolerância religiosos, quando eles mesmos os praticam contra todos aqueles que são expulsos ou saem das suas fileiras de livre vontade? Hipocrisia! Não podem é depois vir fazer-se de vítimas quando alguém os critica duramente pelas suas práticas! Como diz o ditado: “quem não quer ser lobo não lhe vista a pele”!

O comunicado da Associação das Testemunhas de Jeová é uma vergonha e uma afronta a todos aqueles que saíram deste grupo religioso e que se veem privados do amor, afecto e companhia de seus familiares na religião! Tudo em nome de Deus!

Agradeço publicamente ao Carlos Malato ter exposto este assunto, mais uma vez. Não exagerou e nem distorceu o que realmente acontece a uma ex-Testemunha de Jeová. Acredito que com as provas apresentadas ficou claro quem faltou à verdade em toda esta história!