Os dirigentes russos não se cansam de afirmar que as consequências das sanções ocidentais praticamente não se reflectem na economia da Rússia, mas o facto é que o Kremlin tenta evitar uma nova onda das mesmas.
Os Estados Unidos e a UE tinham avisado que iriam analisar a possibilidade de anunciar novas sanções contra a Rússia caso Moscovo reconhecesse os resultados das eleições realizadas nas regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk. Washington e Bruxelas consideram que elas violam os Acordos de Minsk, que permitiram um cessar de fogo muito precário entre os destacamentos separatistas apoiados pelas armas russas e as tropas de Kiev.
Antes do escrutínio, que se realizou no passado dia 2, Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, declarou peremptoriamente a propósito: “nós claro que reconheceremos os seus resultados”. Porém, depois, a diplomacia russa faz marcha atrás e, no comunicado publicado depois das eleições, passa a estar escrito: “nós respeitamos a vontade dos habitantes do sudeste”.
Hoje, Iúri Uchakov, assessor do Presidente Putin para assuntos internacionais, veio pôr a situação a claro, explicando que, no citado comunicado da diplomacia russa, é utilizado o termo “respeitamos”. Quando confrontado com a pergunta de se “respeito” e “reconhecimento” são sinónimos, um dos mentores da nova política externa russa frisou: “são palavras diferentes, a palavra “respeitamos” foi especialmente escolhida”.
Resta agora saber se esta “manobra linguística” será suficiente para levar os Estados Unidos e a União Europeia a mudarem de ideias face às sanções. Pelo menos é mais uma tentativa de criar divergências no seio da UE.
Com “respeito” ou “reconhecimento”, o facto é que a Rússia vai concentrando cada vez mais tropas junto da fronteira com a Ucrânia, ajudando os separatistas a criarem estruturas administrativas e securitárias nas auto-proclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk. As notícias que chegam da Ucrânia também mostram que as forças armadas desse país se preparam para novos combates, restando saber apenas qual será, desta vez, o rastilho para uma nova guerra.
O mais provável é que o Kremlin continue a sua “guerra híbrida”: fornecer aos separatistas armas, enviar mercenários e voluntários ou, como reza a lenda oficial russa, “soldados que decidem ajudar os seus irmãos durante as férias”.
P.S. Entretanto, o rublo vai caindo rapidamente em relação ao dólar e ao euro. Aparentemente, isto seria um bom estímulo para os exportadores russos, mas a realidade é outra, porque, além de petróleo e gás, pouco mais há para vender nos mercados internacionais. A descida do preço do petróleo ainda piora a situação.