Eu sei que o que estamos a viver é culpa de todos. Que muitos foram irresponsáveis. Que falhámos. E que nenhum de nós gostaria de estar na pele de quem decide. Mas quando, com mais de 13 mil mortes pela pandemia (a que se somam muitas mais que seriam evitadas noutra situação), a Assembleia da República escolhe dar prioridade à aprovação da eutanásia e que, dias depois, o seu Presidente promove um grupo de trabalho para acompanhar a vacinação dos deputados quando o plano nacional é cada vez mais errático e cheio de contradições, percebemos que é muito, muito grave o que se passa neste país ao nível dos decisores políticos.

Enquanto médicos e tantos outros lutam desesperadamente por salvar vidas e o país é forçado a pedir ajuda médica europeia, ao nível de recursos humanos e materiais, porque o planeamento adequado não aconteceu, quando esse mesmo Parlamento esteve semanas sem pressionar o Governo para fechar escolas e travar a disseminação da pandemia (e está à vista a redução no nível de transmissão quando isso aconteceu), com o sofrimento e a angústia generalizada pelo medo da doença e as suas consequências presentes e futuras, os deputados eleitos aprovam o direito à morte. Se o nosso sistema eleitoral fosse outro, se já tivesse sido feita a reforma há muito prometida, a representatividade e a responsabilidade de cada um dos deputados seria outra. Claro que há (e muitas) excepções. Mas não chegam, como se vê. O tardio discurso do Presidente da República, a aprovação da Lei da eutanásia no Parlamento e a tragédia que vivemos não deixam dúvidas.

Tudo é imediato, nada é previsto ou pensado com uma visão mais larga. Nem quando está em causa a Saúde Pública. Ou seja, o bem estar físico e psíquico dos portugueses. Dos de hoje e de amanhã. E isso, independentemente das nossas opções ideológicas, assusta.

Assusta ver que não há um projecto para o país, há projectos pessoais; que não há um interesse comum, há afirmações pessoais que servem interesses ou ideologias de grupos ou correntes de pensamento.

Este sistema não serve porque não compreende a alma portuguesa. Não tem visão de comunidade, de geração. Vive de conjuntura e não reforça a necessidade estruturante de repensar o país. Navega à vista da costa e não pelas estrelas. Não tem entidade, tem e serve várias identidades. Vive (e mal) o presente, mas pretende fazer desaparecer a História e tem muito pouco interesse em pensar o futuro. É o imediato versus o que é transgeracional; o particular versus o bem comum, a dependência versus o independente. A impunidade versus a responsabilidade, ou a responsabilização, que não existe.

Nós, Portugueses, somos muito mais do que isso. Temos, de uma vez por todas, de fazer ouvir a nossa voz. Antes que seja tarde de mais. E interesses partidários à parte, porque o que está em jogo somos todos nós.

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