Numa conjuntura em que o principal partido da oposição ainda não escolheu o líder que irá desafiar António Costa nas eleições legislativas de finais de janeiro do próximo ano, não deixa de causar perplexidade a postura política de Rui Rio. Uma atitude que o próprio vê como coerente, mas que é passível de uma interpretação que remete para a teimosia.

De facto, ao mesmo tempo que denuncia o facilitismo e a falta de rigor que caraterizaram a desgovernação costista, Rui Rio continua a disponibilizar-se publicamente para servir de muleta a António Costa no caso de o Partido Socialista vencer as eleições, mas sem maioria absoluta. As sucessivas manifestações de falta de consideração por parte do Secretário-Geral do partido do Largo do Rato ainda não foram suficientes para levarem Rui Rio a alterar a sua postura inicial. O ainda Presidente do PPD/PSD desvaloriza ad eternum as palavras de António Costa que não se cansa de assumir publicamente que os seus parceiros favoritos continuam a ser os integrantes da defunta geringonça.

Além disso, Rui Rio finge ignorar que o Partido Socialista tem como objetivo central a obtenção da maioria absoluta para não se ver obrigado a negociar com pelo menos um dos seus outrora aliados. António Costa sabe que o preço a pagar por essa aliança vai muito além daquele que foi exigido para viabilizar os seis anos geringonciais. O líder do partido rosa desbotado há muito que percebeu que o Bloco de Esquerda aposta tudo na reedição em Portugal da experiência que levou o partido irmão, o Podemos espanhol, a partilhar o Governo com o PSOE. Por outro lado, não desconhece que o PCP voltou às ruas e à agitação social na tentativa de suster a hemorragia eleitoral que o acomete há muitos anos e, por isso, só apoiará um governo minoritário do PS à custa de uma fatura que António Costa não pode pagar. A bazuca é curta para tanta exigência, mais a mais com os grupos de interesse tão atentos.

Aparentemente alheio a essa realidade, Rui Rio continua a insistir que o PSD não é um partido de direita. Daí traçar um cordão sanitário para afastar o Chega de André Ventura de uma eventual coligação de direita, apesar de saber que os votos conjuntos do PSD, do CSD-PP e da Iniciativa Liberal não serão suficientes para desapear António Costa. Por isso coloca uma parte considerável das fichas num hipotético Bloco Central, contentando-se com uma situação de subalternidade política e não se assumindo como alternativa de Governo. Aquele que deveria ser o desiderato do líder da oposição.

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Uma experiência que, mesmo assim, não seduz António Costa. A memória socialista não é piedosamente seletiva. Lembra-se da forma como terminou a única tentativa desse género. Receia que outro Cavaco Silva tome conta do partido laranja. A História é para levar a sério.

Face ao exposto, talvez se imponha chamar à colação a longa permanência de Rui Rio, enquanto aluno, no Colégio Alemão do Porto. De facto, não é crível que Rio não tenha lido nesse estabelecimento de ensino o livro que ajudou a imortalizar Goethe, ou seja, Os Sofrimentos do Jovem Werther. Um marco no romantismo europeu.

Ora, o atual líder do PPD/PSD parece acometido da síndrome de Werther, a personagem masculina que sacrificou a vida a uma paixão impossível. Para que conste, a paixão de Werther pela jovem Charlotte terminou mal e a tragédia abateu-se sobre a aldeia de Wahlheim

Oxalá, a obstinação de Rui Rio não leve o PSD a sofrer uma tragédia semelhante. Tempo para o realismo se impor ao romantismo.