Apesar de Pedro Nuno Santos ter perguntado “Mas o que é que não funciona?” há mais de uma semana, ainda está a valer o jogo muito giro de acrescentar items ao já infindável rol de coisas que estão todas esfrangalhadas? É um jogo em que, com dizem lá fora, the joke is on us, mas enfim, não deixa de ser bastante divertido por isso.

Se ainda estiver a valer, e depois de uma consulta rápida ao Observador, deixo mais três contributos, apenas na área da saúde, que é tão importante, a saúdinha: o PS admite (…) obrigar os médicos a ficar no SNS, mas os sindicatos falam em medida “ilegal” e “discriminatória”; a Sociedade Portuguesa de Pneumologia lamentou (…) que Portugal esteja no “nível zero” na implantação do rastreio ao cancro do pulmão (…) e desejou que “o novo Governo” tenha atitude diferente; e o Sindicato dos Enfermeiros critica a precariedade laboral no Hospital de Gaia (…) que é “promovida pelo Estado, aquele que devia ser o primeiro a criar condições para acabar com a precariedade”. Só.

Estou convencido que, neste momento, se escrevêssemos as coisas que não funcionam, todas de seguida, com letra corpo 10, a lista iria do Largo do Rato até ao “centro da vida pessoal, familiar, social e política” de Pedro Nuno Santos e voltava, para só acabar na verdadeira casa do líder do PS. Ou, em alternativa, imaginem que metíamos cada frase alusiva a algo que não funciona dentro de um daqueles biscoitos da sorte chineses. Acabávamos com biscoitos chineses suficientes para erigir uma nova muralha da China. E ainda dava para construir o novo aeroporto de Lisboa. As sobras ficavam para fazer o TGV Lisboa-Madrid. E Lisboa-Porto.

Ainda assim, a grande vedeta desta campanha eleitoral é, obviamente, a “avó” de Mariana Mortágua. Ouviram falar, certo? A “avó” de Mariana Mortágua é aquela senhora imaginária que imaginariamente se sobressaltou ao receber imaginárias cartas do senhorio imaginário, porque não sabia o que lhe ia acontecer. O que acaba por ser normal para alguém que é imaginário. Uma pessoa nunca pode fazer grandes planos, quando uma pessoa é imaginária. Sabemos lá o que se passa na cabeça de quem nos está a imaginar. Quer dizer, sendo a cabeça a de Mariana Mortágua terá a ver com nacionalizar coisas, isso é certinho.

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A verdade é que se fosse eu a sugerir algo bem fantasioso em termos de avós, seguindo, por exemplo, aquele conhecido formato infanto-juvenil, “Se a minha avó tivesse rodas…”, podia logo contar com a coordenadora do Bloco de Esquerda a cobrar IUC à velhota. Mas como a avó imaginária é “avó” de Mariana Mortágua, a senhora pode ter dado à luz uma filha aos 6 anos de idade, ou até ter nascido depois do próprio filho, que nem por isso a coordenadora do BE pagará grande preço pela trapaça. É que nem interessa se estamos a falar da avó materna, ou da avó patranha. Paterna, queria eu dizer.

Da minha parte, em termos de debates, prometo que vou treinar melhor os reflexos para ainda conseguir ver algum. É que são tão rápidos, os frente-a-frente, que das vezes em que apanhei algum a decorrer, tumba!, já tinha acabado. São debates que me fazem lembrar o Campeonato do Mundo de Cubo Mágico. É do género: aos seus lugares… Prontos?… Partida! Nisto anda-se para ali às voltas para trás e para a frente, nuns movimentos sem sentido aparente e… Está feito! Fim. Foram esclarecedores sete segundos e meio, pá.

Pelo menos em relação a uma coisa restam poucas dúvidas. O socialismo do Chega. O programa do partido tem escassas 175 páginas e parcas 575 propostas, mesmo como quem sinaliza a urgência de simplificar burocracias e emagrecer o Estado. Sendo que a proposta que surge na posição 351 visa combater e fazer o diagnóstico da prática da zoofilia em Portugal. Não arriscarei ler as propostas abaixo desta em termos de urgência e, sabe Deus, nojice. Mas arrisco dizer que, por aqui, continuaremos a viver abaixo de cão.