Foram para cima de sete anos de fintas de belo efeito por banda do hábil António Costa. Começando com aquele drible estonteante sobre o próprio companheiro de equipa, António José Seguro. A que se seguiu em 2015, e após perder as eleições, a clássica finta conhecida como “o elástico”: quando tudo indicava que ficasse na oposição, o líder do PS mudou subitamente de direcção e avançou para o governo apoiado na geringonça. Por fim, no passado domingo, Costa fez uma revienga que sentou em escassíssimos lugares do Parlamento, diga-se os guardiões do comunismo. Algo ainda mais surpreendente depois de uma campanha em que o primeiro-ministro se fartou de tropeçar nos próprios pés.

Digamos que António Costa, tendo driblado todos os adversários, está, enfim, isolado na cara do golo. E terá os próximos quatro anos para mostrar se é um Maradona da política, ou se é antes um José Dominguez. Sem desprimor para o antigo extremo formado no Benfica, claro. E ressalvando que se até o Maradona precisou da mão de Deus para levar a Argentina para umas meias-finais, temo que para levar Portugal a algum lado Costa precise da intervenção de bastantes mais partes do corpo do Senhor. Só que fazer uma perninha no Mundial do México ainda vá. É coisa para o Senhor ter achado piada. Desconfio é que Ele não esteja para dar o corpo ao manifesto socialista.

Seja como for, a partir de agora António Costa só depende de si próprio para mostrar o que vale. E nós com bilhete de primeira fila para assistir ao espectáculo. Hã? Delícia, verdade? Quer queiram, quer não, azar, vão mesmo ser forçados a ver no que dá uma nova maioria absoluta do PS. Mas também o que é que pode correr mal? Sim, a inflação vai aumentar. E então? Certo, os juros também vão subir. E depois? O Banco Central Europeu acabará com a compra de dívida pública à parva. Eh pá, não sejam maçadores. O experimentado António Costa encontrará, como é óbvio, uma saída para todos esses problemas. E o mais provável é ser uma saída para um qualquer cargo na União Europeia, ou coisa que o valha.

Em todo o caso é impossível não admirar como António Costa aqui chegou. O que ele levou a cabo foi a versão política de driblar todos os opositores dentro de uma cabine telefónica. Um dos últimos a ser fintado foi José Sócrates, que andava todo armadão em bom por ter sido o único líder do PS a conquistar uma maioria absoluta. E o ex-primeiro-ministro nem foi um oponente difícil de ludibriar. Para mais estando, também ele, dentro da tal cabine telefónica. É que, como é do domínio público, sempre que há um telefone por perto Sócrates fica absorto a solicitar “fotocópias”, “dossiers” e “um bocadinho daquela coisa que gosto [ele, Sócrates. Eu também gosto, atenção. Mas neste caso é ele, Sócrates, que gosta] muito. Nestas circunstâncias tornou-se fácil aplicar-lhe um cabrito.

Mais ou menos a propósito de fotocópias, dossiers e material de escritório em geral. Não ouvi nada sobre como correu a reunião que Catarina Martins solicitou a António Costa logo para 31 de Janeiro. Terá sido produtiva? Terão de lá saído óptimas propostas do Bloco de Esquerda para o país? Pois. Não houve quórum, não foi? Lá se foi o contrato que a líder do Bloco queria fazer com o PS. Olha, isto só prova que Catarina Martins tinha toda a razão em querer um contrato. Em vez de continuar como uma precária auxiliar de geringonça. Assim, acabou dispensada, sem pré-aviso, e num domingo à noite. Não se faz a ninguém. Isto é um escândalo, aliás.

Para concluir, uma breve e merecida referência a Rui Rio. Porque há quem diga que o líder do PSD é o maior desastre de todos os tempos. Mas, primeiro, é gente que olvida o drama do Titanic. E, segundo, é gente que teima em analisar a liderança de Rui Rio do ponto de vista dos interesse de Portugal. Se tivessem o cuidado de analisar o desempenho de Rio do ponto de vista dos meus interesses pessoais veriam que ele fez coisas óptimas. Uma coisa óptima, pronto. A saber. Hoje já é quarta-feira e eu ainda estou a falar das eleições de domingo. Ora, Rui Rio perdeu de forma miserável estas legislativas e ainda não se demitiu da liderança do PSD. Portanto, apesar de tudo, consegui não ser o último a tirar as devidas ilações deste acto eleitoral. Obrigado, Dr. Rui Rio!

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