Poucos parecem ainda acreditar numa mudança de carreira profissional drástica. A realidade mostra-nos que 49% dos profissionais trabalham hoje numa área completamente diferente da sua formação base. O que significa isto para as gerações de hoje e as vindouras?

Este artigo é para profissionais que um dia já sentiram que poderão ter escolhido o caminho profissional errado. Pela falta de liberdade, flexibilidade, progressão salarial ou de carreira. Os caminhos para uma realidade profissional que permite desfrutar de uma qualidade de vida invejável são cada vez mais e ao dispor de quem quiser dar o salto.

Quando o tema é carreira, há sempre um misto de emoções. O síndrome do impostor ataca, as dúvidas se o colega recebe um salário superior ou inferior ao nosso, se algum dia vamos sentir que somos donos efetivos do nosso tempo.

Há momentos em que a única forma de termos uma visão clara da nossa realidade é parar. Foi o que aconteceu em 2017, quando deixei uma carreira promissora em Retalho para viajar pelo mundo em busca de mim e do meu futuro profissional.

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Cansada do sistema e do estilo de vida limitativo que este proporcionava, dei um salto de fé acreditando que haveria algo de maravilhoso à minha espera do outro lado.

Avancemos os quatro meses de viagem sozinha pelo Sudeste Asiático, com um regresso a casa atribulado depois de contrair Febre da Dengue na Indonésia. Não sabia ainda o que “queria ser quando for grande” mas, remexendo as notas do diário de viagem desses tempos, consigo ler “Não sei o que quero fazer, mas tenho a certeza que vou trabalhar em algo que adore!”.

Ingénuo? Talvez. Mas muito poderoso.

Facto é que, em 2017, no mesmo ano, estava a aceitar a primeira proposta de trabalho no mundo da Tecnologia. Alavancada por capacidades de comunicação e organização que desenvolvi numa licenciatura em Biologia, numa curta carreira em Retalho e inúmeras experiências de viagens, uma agência de software decide assim apostar em mim.

Tive receio de não ser o passo certo, de não gostar das funções, de não me identificar com as pessoas. Que erro teria sido não ter dado este passo que transformou a minha vida tão profundamente em algo gigantemente melhor do que algum dia poderia ter sido na realidade prévia à viagem.

Durante os primeiros meses rodeei-me de quem me pudesse ensinar tudo aquilo que não sabia. Desde colegas da empresa a meetups semanais, fui aprendendo todo o vocabulário, dinâmica, dores e prazeres da realidade desta nova função e contexto empresarial.

Avancemos agora 6 anos e falo-te hoje como Engineering Manager, líder de equipas de desenvolvimento de software, que não escreve uma linha de código. Oriento a equipa na entrega dos seus projetos, estou profundamente atenta à qualidade daquilo que produzimos para o mercado e tenho um foco enorme no suporte de cada pessoa, para que progridam na sua carreira de forma sólida e sustentável.

Um pouco por vergonha em falar sobre a realidade profissional maravilhosa que se vive em Tecnologia, fundei a Tekya.io em 2021, para orientar profissionais numa transição de carreira para IT, sem programar e sem experiência prévia.

Esta história é a prova de que não só Reskilling é possível, como é hoje a nova realidade.

Um must para a força laboral que entra agora no mercado de trabalho e cada vez mais uma necessidade para as gerações vindouras.

Reskilling irá garantir um alinhamento mais próximo entre uma formação académica e o mundo empresarial, uma necessidade urgente se queremos caminhar para uma sociedade saudável, produtiva e sustentável.

Mariana Trigo – Líder de Engenharia com formação em Biologia e uma carreira em Retalho.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.