Se realmente quiser ser o líder da oposição, Luís Montenegro, que assume a liderança do PSD no próximo fim de semana, tem muito por onde pegar. A economia é importante, mas não é tudo, e além do mais é uma discussão que facilmente se torna inacessível à maior parte dos portugueses. Deixo abaixo um humilde contributo:
- Para começar pode dar já indicações ao seu grupo parlamentar para deixar marcado para a rentrée um debate de emergência sobre o caos no início do ano letivo 2022/2023. Como aqui escrevi a 29 de março, Marta Temido e João Costa são “Os dois melões estragados do Governo”. Foram péssimos governantes no passado e a sua obsessão ideológica explica facilmente o caos a que os dois setores chegaram. Se na saúde o problema conjunto-estrutural não ficará resolvido com as panaceias que a ministra Temido puxou da gaveta, na educação, dê as piruetas que quiser, o ministro vai iniciar, em setembro, um ano letivo fictício. Oficialmente as aulas estarão abertas, mas na prática os alunos passarão a chamar furos às férias que se vão prolongar por falta de professores.
- Se conseguir atravessar o Verão sem incêndios florestais de monta pode, mesmo assim, o novo líder do PSD pedir satisfações ao Primeiro-ministro que prometeu, após os trágicos incêndios de 2017, a reforma do século nas florestas. Onde está ela? Se, infelizmente, os incêndios de Verão voltarem a demonstrar dolorosamente que o Governo falhou, também nesta área é hora de encostar António Costa à parede.
- Quando António Costa lhe vier pedir opinião e compromisso sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, pergunte-lhe sobre o trabalho de casa feito para tomar uma decisão. Sublinhe que cabe ao Governo em funções, ainda por cima tendo maioria absoluta, tomar uma decisão. Dê garantias de que o PSD assumirá essa decisão caso entretanto venha a governar. Não deixe que o Primeiro-ministro fuja, como sempre, às suas responsabilidades. Obrigue-o a comprometer-se com uma decisão.
- Peça esclarecimentos ao ministro das infraestruturas sobre a anunciada nova aurora do caminho de ferro em Portugal. Para além da compra de carruagens ao ferro velho de Espanha, o que já fez o putativo sucessor de António Costa para pôr o país a andar de comboio?
- Exija prestação de contas ao Governo sobre o desastrado processo de descentralização que está a querer pôr em prática na sequência de um acordo com o PSD. Oiça os autarcas e assuma as suas dores. Lembre ao Primeiro-ministro que as autarquias são mais bem geridas do que o Estado, pelo simples facto de que os autarcas estão mais próximos dos cidadãos. É por isso que um euro gasto pelas autarquias é incomparavelmente mais bem empregue do que um euro gasto pela administração central.
- Peça satisfações ao Governo sobre a forma como funcionam as diversas autoridades responsáveis pela proteção de crianças e jovens. Como é possível que, caso após caso, continue a haver crianças sujeitas a sofrimentos indizíveis, apesar de estarem sinalizadas como crianças em risco? Pergunte como é possível que o Estado não seja capaz de proteger os mais vulneráveis. Não deixe que estes casos sejam esquecidos até que aconteça a próxima tragédia. Obrigue as entidades responsáveis a prestar contas.
- E, finalmente, já vai sendo tempo de pedir resultados sobre como estão a ser aplicados os fundos do PRR. Que efeito estão a ter no país? Para que reformas estão a ser canalizados? Estão a ser cumpridos os prazos de forma a não perdermos parte destes fundos por incapacidade de execução? Quem monitoriza os efeitos da aplicação desses fundos na transformação do país?
Com estas ou outras questões, não dê nem mais um minuto de folga ao Governo. A realidade nacional é má de mais para continuar a ser ignorada ou disfarçada.