António Costa tem maioria absoluta. Luís Montenegro foi eleito líder do PSD. Um e outro têm o que sempre sonharam. O país está aflito, com a inflação a disparar. A saúde e a educação, dois setores chave da nossa sociedade, entram aos poucos em colapso e a economia não encontra saída que se veja.

Agora nenhum dos dois tem desculpa para não fazer o que lhe é exigido. Do Governo chegam sinais de imobilismo diante de um país em acelerada degradação. O Primeiro-ministro tem alergia a reformas, mas não parece ter outro remédio senão o das reformas para fazer face às circunstâncias. Se as vai fazer ou não, estamos para ver. Mas se optar por manter tudo como está, tentando não incomodar ninguém, as notícias são péssimas para o país e deixam antever que António Costa vai acabar muito mal a sua carreira política. Posto à prova, não esteve à altura da confiança que os portugueses lhe deram.

Luís Montenegro foi eleito, também, com maioria absolutíssima dentro do seu partido. É certo que ainda não entrou formalmente em funções, porque lhe falta ser confirmado em congresso. Mas esse é um timing que nenhum português compreende depois da sua eleição. O país está sedento de oposição e, nos tempos que correm, não se pode permitir continuar a viver sem alguém que a lidere. Sobretudo quando se vivem dificuldades tão prementes em áreas tão importantes para o quotidiano dos portugueses.

É urgente que quem tem responsabilidades políticas acorde para a realidade antes dela ser sentida de forma violenta em casa das pessoas. O desconfinamento, aliado ao bom tempo, aos feriados e à festa, vão deixar os portugueses anestesiados mais algum tempo. Mas basta olhar para o preço da gasolina e para os serviços de saúde encerrados por falta de pessoal, para perceber que a reação está a tardar, mas não vai faltar.

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Quando o país acordar para o filme de terror que tem por diante: falta de dinheiro, falta de perspetiva económica, sem serviços de saúde e sem professores na escola. Nesse momento, vai querer saber quem está à altura de apresentar soluções. Essa é a grande chance para António Costa e Luís Montenegro provarem se valeu a pena terem-se batido tanto para chegarem onde chegaram.

Nos próximos meses, vamos finalmente poder abrir os melões e saber se fizemos a compra certa ou se fomos enganados pelas aparências.

Oxalá tenhamos surpresas de um lado ou de outro, como os ucranianos tiveram com Zelenski. O país não está para líderes fracos ou cobardes. Vai ser necessário tomar decisões difíceis e porventura impopulares. Esse vai ser o teste do algodão do todo-poderoso Primeiro-ministro e do aclamado líder da oposição. Nem um nem outro terão desculpas para não fazerem o que tem de ser feito.

A bem de todos nós, espero sinceramente que tenhamos acertado pelo menos num dos melões. Caso contrário, vamos ter muito que sofrer.