1.“A tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos EUA terá lugar a 20 de Janeiro – o mesmo dia em que começa o Fórum Económico Mundial de Davos”: esta curiosa coincidência constitui o primeiro parágrafo do denso e longo artigo (de página inteira) do famoso analista do Financial Times, Gideon Rachman, na edição de 28 de Dezembro (p. 5) do ano passado.
O texto tem o desafiante/preocupante título “O nascimento de uma nova ordem mundial”, precedido pelo não menos desafiante/preocupante título: “Por caminhos diferentes, os EUA, a Rússia e a China tornaram-se potências revisionistas procurando mudanças radicais no status quo. Mas são as ideias de Trump que poderão vir a ter consequências de mais longo alcance.”
2. Não é possível resumir neste espaço a densa e longa análise de Rachman sobre os grandes desafios geo-políticos que estarão em jogo no novo ano de 2025. Mas todos eles certamente dizem respeito à ordem política mundial herdada da primeira vitória parcial das democracias ocidentais em 1945, completada com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e as subsequentes transições pacíficas à democracia nos países da Europa Central e de Leste.
É uma ordem internacional baseada em regras, no comércio livre e em instituições multilaterais, nas quais se destacam a ONU, a NATO e a União Europeia, entre várias outras. Rachman aliás coloca o Fórum Económico de Davos como um dos símbolos deste internacionalismo multilateral e do comércio livre que estarão em jogo no presente novo ano de 2025.
3. Outra forma de recordar os desafios enfrentados por esta mesma ordem internacional fundada em regras seria recordar “Winston Churchill, a Democracia Liberal e a Aliança Euro-Atlântica”.
Curiosamente, e por mais uma (creio que neste caso apenas aparente) coincidência, este será o tema da 3ª edição das Conferências do Atlântico, que terá lugar em Churchill Bay, Câmara de Lobos, na Madeira, a 24 de Janeiro, — apenas 4 dias após a tomada de posse de Trump e o início do Fórum de Davos.
Infelizmente, não teremos connosco o nosso amigo Gideon Rachman, mas contamos poder contar com a participação de José Manuel Barroso (que, creio, estará em Davos, tal como Rachman).
4. Para recordar diretamente Winston Churchill e o seu comprometimento inabalável para com a democracia liberal, o comércio livre e a aliança euro-atlântica, teremos Katherine Carter, Curadora da casa de Churchill em Chartwell e autora do recente e muito aclamado Churchill’s Citadel: Chartwell and the Gatherings Before the Storm (New Haven and London: Yale University Press, October 2024).
Não é este certamente o espaço para fazer a muito merecida, e necessariamente longa, recensão deste excelente livro (que ocupou integralmente a capa da Literary Review de Outubro do ano passado). Mas é certamente o momento para recordar que (o conservador-liberal) Winston Churchilll foi o líder da resistência democrática na II Guerra Mundial e um dos principais obreiros da ordem internacional fundada em regras que dela emergiu – e que, já agora, visitou a Madeira com sua mulher, Clementine, em Janeiro de 1950.
Postscriptum: Uma sentida homenagem é devida a Jimmy Carter, 39º Presidente dos EUA (1977-1981), que acaba de morrer (a 29 de Dezembro) com 100 anos, e que se distinguiu, entre muitos outros legados, por voltar a colocar a defesa dos Direitos Humanos no centro da política externa norte-americana. Prosseguiu inabalavelmente essa política no seu Carter Center (que tive o privilégio de visitar pessoalmente nos idos anos finais da década de 1990). E, como sublinhou Samuel P. Huntington, a enfase de Carter nos Direitos Humanos abriu caminho à defesa da democracia liberal na política externa de Ronald Reagan e de Margaret Thatcher – ambos admiradores, tal como Jimmy Carter, do velho Winston Churchill.