Nada do que se passou no congresso do CDS-PP, no passado fim-de-semana, em Aveiro, foi surpreendente para um observador atento ao período entre os 4,2% obtidos em legislativas e o desenrolar da campanha interna. O triplo divórcio político que o partido sofreu interiormente – entre militantes e dirigentes, liberais e conservadores, portistas e restantes – não foi um fenómeno isolado ou decorrente da reunião magna. Esta foi palco, e não motor, das separações referidas. A questão que o rescaldo oferece é enigmática. Pode um partido ser, ao mesmo tempo, vítima e réu dos seus próprios delitos?
Para compor a resposta, examinemos os divórcios. O primeiro, e mais falado, deriva do silêncio de Paulo Portas. Mas há que perguntar: o portismo morreu ou deixou-se morrer? O silêncio do mais marcante líder da história do CDS é consequência do congresso ou foi antes o seu silêncio que influenciou – e muito – o resultado do congresso? Olhemos os apoiantes de cada um dos favoritos: os Antónios (antes juntos) para um lado, os Filipes (antes separados) para outro, não sendo os homónimos exemplo único de excecionalidade. Sem qualquer ardor, poderia dizer-se que Portas, a fiel bússola de um partido emoldurado por quadros e notáveis, deixou de dar (ou de querer dar) o norte aos seus próximos e a uma paisagem que, durante tanto tempo, foi por si desenhada.
De GPS desligado, o portismo dividiu-se, suspendeu-se no voto mais livre de uma eleição decidida em congresso e abriu a janela ao seu fim. Tudo aquilo que se divide, naturalmente, perde essência. Não é que não haja portistas na atual solução – ou nas eventuais oposições –, mas o portismo, como força motora e orientadora do CDS, já não lidera: compõe. Foi visível como este ainda influencia os seus antigos críticos [A.R.], que apoiaram quem apoiaram por este representar um distanciamento dessa herança, mas irónico haver anti-portistas num tempo em que já não há portismo.
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