Face à situação dramática que o país vive, é mais do que natural que toda a atenção da população esteja virada para o Ministério de Saúde.
Ninguém põe em causa o esforço titânico e a dedicação que a Sra. Ministra e todo o seu “staff “, em conjunto com todos os responsáveis hospitalares e dos Centros de Saúde, entre outros, estão a fazer para conseguirem controlar uma situação catastrófica como a nossa. É, sem dúvida, a governante do país sob maior stress neste momento.
Também ninguém tem dúvidas, que a Sra. Ministra de Saúde está a ter o mandato mais difícil após o 25 de abril, pela gravidade e dificuldade quase diária em gerir a pandemia, atualmente na terceira vaga, por sinal com uma variante ainda mais contagiosa. Mas independentemente deste esforço todo, é preciso reconhecer que muitos erros foram cometidos antes e durante a pandemia.
O que verificámos até agora?
São necessários médicos e outros profissionais de saúde nos hospitais e a restrição, no passado, à entrada de estudantes no curso de Medicina e especialidades da área da saúde foi um erro. A não abertura de vagas para algumas especialidades chave pode ter sido responsável pela falta de recursos humanos no combate atual à pandemia.
O programa das faculdades de Medicina deve ser revisto e os nossos futuros médicos devem ser mais bem preparados para trabalharem em determinadas áreas como os cuidados intensivos. Devem ter as bases necessárias no 6º ano de Medicina e terem a possibilidade de fazer cursos frequentes de atualização. Se forem necessários, estarão disponíveis e preparados para o combate. É uma realidade nua e crua, a falta que nos faz esta especialização. Podemos ter cem mil ventiladores e camas, mas não temos profissionais capacitados para trabalhar numa área tão específica.
Ninguém pode prever uma futura pandemia. Mas podemos e devemos fazer muito melhor!
Devemos ouvir e copiar modelos que resultaram desde o início. A atitude de “esperar para ver ” não é uma boa opção. Na antecipação ganhamos tempo. No atraso na tomada das medidas sanitárias sofremos desnecessariamente!
É preferível sermos mais intervencionistas numa situação como esta. Se actuarmos por excesso, podemos perder dinheiro no material que utilizaremos a mais, mas certamente iremos poupar muitas vidas. E a vida de um ser humano não tem preço.
Poupamos também sofrimento aos familiares e aos profissionais que se veem impotentes no desempenho da sua principal missão: salvar vidas.
Mais pandemias virão. Não poderemos cometer os mesmos erros. Nunca mais poderemos confundir uma gripe com o coronavírus.
Nunca mais poderemos dizer que será pouco provável que o vírus responsável pela pandemia chegue à Europa.
Nunca mais poderemos dizer que usar máscara faz parte da cultura dos asiáticos.
Nunca mais devemos tomar decisões atrasadas, como o uso obrigatório de máscara em todos os locais.
Nunca mais poderemos ter 52 exceções à regra durante um confinamento numa fase crítica de pandemia.
Nunca mais poderemos ter critérios extremamente discutíveis e contrários ao resto da Europa, como não incluir as pessoas que morrem mais por Covid-19 no grupo prioritário da vacinação – e colocarmos em primeiro lugar deputados, presidentes de câmara e até militares que estão nos quartéis.
Nunca mais poderemos ver os idosos que vivem nos lares a morrer em catadupa, quando bastava fazer mais testes a todos eles, aos funcionários e visitantes e com maior regularidade.
Nunca mais poderemos perder o rasto de tantos infetados, não sendo possível, deste modo, interromper a cadeia de transmissão na grande maioria dos casos. Se fizéssemos mais testes, poderíamos evitá-lo.
Nunca mais poderemos facilitar a entrada em Portugal de turistas sem terem previamente efetuado o teste para o vírus responsável pela pandemia.
Diariamente, comentadores, médicos ou não, opinam sobre a temática relacionada com a pandemia. E devem continuar a fazê-lo porque é e será sempre útil.
Nem sempre o Governo toma decisões corretas. Nem tão-pouco o cidadão comum tem o dom da palavra. É por isso que saber ouvir é uma virtude. A decisão final será certamente mais sensata!
E não devemos esquecer, que da teoria à prática há uma diferença muito grande.
É preciso pensar depressa e agir melhor, sempre.