Patrice Trovoada, de 52 anos, vai estar presente na sessão de lançamento de “Patrice Trovoada — Uma Voz Africana”, a sua biografia que foi escrita por Carlos Oliveira Santos, professor de Ciência Política. A obra será apresentada no ISCTE (Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa), onde leciona, pelas 18:00, com intervenções dos dois prefaciadores: Ângelo Correia e Vítor Ramalho.
Na obra, Carlos Oliveira Santos traça o percurso de Patrice Trovoada, filho do ex-Presidente são-tomense Miguel Trovoada, desde as origens até à atualidade, concentrando-se no seu projeto político e tentativas de o concretizar — enquanto primeiro-ministro do XIV Governo Constitucional de São Tomé e Príncipe, em 2010, até ser demitido, em novembro de 2012, pelo chefe de Estado, Manuel Pinto da Costa, na sequência de uma moção de censura do parlamento, e desde então, enquanto candidato às legislativas de outubro próximo.
Líder do maior partido da oposição são-tomense, a Ação Democrática Independente (ADI), Patrice Trovoada explica que em 2010 tentou, à sua maneira, “pôr em prática o ‘Yes, We Can'” são-tomense, mas acabou exilado em Portugal quando se viu forçado a abandonar o executivo. Foi aqui que anunciou também a intenção de se candidatar novamente à chefia do Governo do seu país, no escrutínio de 12 de outubro.
Neste livro, lançado a pouco mais de um mês das eleições, ajusta contas com o passado, com os seus detratores, traça um diagnóstico da situação do país e lança a sua campanha, apresentando um programa com estratégia e argumentos e dirigindo-se diretamente ao povo são-tomense numa mensagem de 35 páginas apresentada como posfácio.
“Meus concidadãos de São Tomé e Príncipe: A caminho dos 40 anos de independência, perdemos e continuamos a perder muito tempo, ficamos amarrados a muitas futilidades, incongruências, mesquinhices, que não nos permitem dar o salto, pensar fora da ‘caixinha’ e agarrarmos as mil e uma oportunidades que existem para construirmos uma Nação virada para o futuro”, escreveu.
Embora dizendo que não pretende ocupar-se de “tudo o que é arbitrário e menor”, sustentou logo em seguida que o facto de o seu Governo ter sido demitido “na sequência de um golpe parlamentar orquestrado pelo presidente Manuel Pinto da Costa, não mudou nada em São Tomé e Príncipe”.
E “que o pai da Constituição são-tomense, o professor Jorge Miranda, num parecer recente, afirme que a moção de censura contra o meu Governo foi ilegal e um ato inconstitucional poderá consolar muitos dos meus apoiantes, mas certamente não levará o autor do ato a arrepiar”, prosseguiu.
“O que importa”, na sua opinião, “é que São Tomé e Príncipe saiu, mais uma vez, a perder pela vontade egoísta dos homens, dos egos e da luta do poder pelo poder, sem projetos nem alternativas”.
E precisou, sem subtilezas: “Tal como em 1979, é ainda o mesmo Manuel Pinto da Costa a perseguir um Trovoada, com a cumplicidade de alguns políticos de segunda linha, reincidentes e refratários a qualquer emancipação política, pacientes e potenciais herdeiros de um velho dinossauro, incapazes de perceber e aceitar que o poder é dado pelo Povo, democraticamente, ou é apanhado, na rua, pelo oportunismo revolucionário”.
Por último, sublinhou: “O mesmo Pinto da Costa que não me deixa outra escolha senão o exílio, que eu espero provisório, perante ameaças de prisão várias vezes proferidas pelos seus lacaios no Governo e no sistema judicial”.
Apesar das duras críticas aos políticos no poder em São Tomé, Patrice Trovoada frisou que não desistirá de lutar por um futuro melhor para o seu país e deixou uma mensagem de esperança.
“A nossa sobrevivência como Estado livre e independente depende, obviamente, da nossa capacidade de conquistar esse futuro que está ao nosso alcance e que depende apenas do trabalho e das escolhas que fizermos, agarrando um sem-número de oportunidades que desfilam diariamente diante dos nossos olhos, quer no interior do país, quer na sub-região e no mundo em geral”, acrescentou, concluindo a sua mensagem com uma citação de Nelson Mandela, líder sul-africano que o marcou profundamente.