Os dois candidatos à presidência do Sporting, Pedro Madeira Rodrigues e Bruno de Carvalho, terão nesta noite de quinta-feira o primeiro e único debate ao longo da campanha eleitoral no canal do clube, a partir das 21 horas. Serão 60 a 90 minutos num modelo com muitas semelhanças ao que foi adotado nas últimas legislativas pelos canais generalistas: entrevistador (Rui Miguel Mendonça, diretor da Sporting TV) numa mesa de frente para os entrevistados, grafismo com o tempo das intervenções, um minuto para alegações finais. Tudo pensado e discutido entre listas.

A ideia passará por discutir cada um dos temas da vida quotidiana do clube, do futebol às finanças, passando pelas infraestruturas, modalidades e ligação aos sócios. Ainda assim, os choques registados nas últimas semanas em diferentes temáticas prometem muita discussão entre candidatos – e o Observador resume em cinco pontos quais foram os maiores focos de discórdia.

Jorge Jesus, Bölöni, o “senhor x”: como vai ser o futebol?

Pedro Madeira Rodrigues. A lista A até abordou inicialmente de forma serena a posição de Jorge Jesus como treinador do Sporting, garantindo que seria o seu técnico e que a questão do ordenado não era discutível. No entanto, tudo mudou quando Jesus aceitou o convite de Bruno de Carvalho para a sua Comissão de Honra. “Ele escolheu um lado e isso tem consequências”, salientou Madeira Rodrigues. Assim, foi à procura de uma solução e, nesta altura, esse é o único nome que falta apresentar. Marcelo Bielsa – curiosamente um técnico que três candidatos abordaram nas eleições de 2011 – foi um dos nomes ventilados mas assinou pelo Lille. “Tenho um número um, com quem ainda não chegámos a um acordo final, e comecei a falar com o número dois mas, entretanto, o número um ligou-me a dizer que quer falar comigo e acho que vamos conseguir”, comentou. Esta quarta-feira, Madeira Rodrigues apresentou a sua estrutura do futebol e com nomes – Laszlo Bölöni, campeão em 2002, será o coordenador de futebol e comandará a equipa até ao final da época; Delfim, campeão em 2000, ficará como team manager; e Ricardo Pina Cabral, que já foi muito próximo de Bruno de Carvalho, terá a pasta da gestão de ativos.

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Bruno de Carvalho. A lista B, encabeçada pelo atual presidente, sempre assumiu a aposta total em Jorge Jesus para treinador do Sporting, na época passada, em que perdeu o título para o Benfica numa luta que durou até à última jornada, e na presente temporada. “Mesmo que não ganhasse absolutamente nada, Jorge Jesus era o treinador do meu projeto e para o próximo mandato nada muda. Quero mantê-lo e isso nada tem a ver com questões financeiras ou não financeiras”, assegurou em janeiro. As posições de atual presidente e treinador ficaram ainda mais próximas no rescaldo da eliminação do Sporting da Taça de Portugal, em Chaves – Bruno de Carvalho acha que é com Jorge Jesus que chegará ao título, Jorge Jesus não quer sair do Sporting sem ser campeão (e com Bruno de Carvalho). Ainda assim, é expectável que existam alterações no organograma do futebol, sobretudo depois do mau ataque dos leões ao mercado em 2016/17.

O fim do fosso e as cadeiras todas verdes

Pedro Madeira Rodrigues. A lista A apresentou um projeto para o estádio José Alvalade em caso de vitória onde, em traços gerais, iria fechar o fosso e mudar as cadeiras para dois tons de verde, numa obra orçada em 1,5 milhões de euros. Nas imagens apresentadas, percebe-se também uma outra alteração, com o nascimento de uma espécie de piso intermédio nas bancadas. Após as críticas do lado contrário, José Pedro Rodrigues, vogal para o património da lista A, garantiu que o projeto está feito e orçamentado pelo valor referido, sendo possível de concretizar.

Bruno de Carvalho. Entre a ironia pela “simulação de software”, o líder da lista B refutou a hipótese de tamanha operação por um valor tão baixo, além de afiançar que o projeto que tinha sido apresentado não extinguia o fosso. Existe até outra curiosidade sobre o tema: o atual presidente já tinha prometido na campanha de 2011 que pretendia acabar com o fosso (um dos maiores problemas do recinto), algo que acabou por nunca avançar pelo elevado custo que um tipo de intervenção deste género poderia acarretar. Carlos Vieira, vice-presidente para área financeira, assegurou que o fecho do fosso, a troca de cadeiras e os custos indiretos adjacentes custariam 10 milhões de euros.

De quem é a Academia, Sporting ou BCP?

Pedro Madeira Rodrigues. A apresentação da lista A iniciou um novo foco de discórdia no ponto 1 da parte das finanças: “Recuperar no imediato a posse da Academia Sporting, na posse do Banco Comercial Português desde 2014, com o apoio de investidores que entrarão com um valor a rondar os 14 milhões de euros”. Assim, e de acordo com o candidato da lista A, o Sporting não é proprietário da infraestrutura que acolhe todo o futebol verde e branco dos seniores às equipas de iniciados B (14 anos). No final da passada semana, Madeira Rodrigues esteve em viagem pelo Médio Oriente (Kuwait e Emirados Árabes Unidos) e reuniu com alguns possíveis investidores, tendo documentado esses encontros através de imagens entretanto distribuídas.

Bruno de Carvalho. A lista B não demorou a responder, explicando que já herdara essa situação anteriormente. Guilherme Pinheiro, administrador da SAD e diretor da Academia, detalhou a questão. “Quando chegámos, o leasing tinha uma taxa de 2,15% e o montante em dívida era de 4,394 milhões de euros com um prazo remanescente de quatro anos e meio. O que fizemos no final de 2014 foi incorporar nove milhões de euros de outras linhas de dívida que já existiam quando esta direção assumiu, e o prazo do novo leasing, para além de ter uma taxa de 1%, ficou em 20 anos. O montante pago aos bancos anualmente em reembolsos e juros é semelhante. Com a reestruturação criámos condições para que não entrássemos em incumprimento”, explicou ao jornal Record.

Que estilo de liderança para o Sporting?

Pedro Madeira Rodrigues. O candidato da lista A criticou de forma aberta o estilo de liderança de Bruno de Carvalho enquanto presidente do Sporting, argumentando que o rumo seguido não levaria o clube a bom porto. “Berra muito mas o Sporting não é respeitado e com isso não vamos a lado nenhum”, referiu, acrescentando mais à frente na campanha: “Bruno de Carvalho acha que é o Sporting. Tem uma liderança egocêntrica e egoísta”. Vítor Ferreira, vogal da lista A e antigo vice-presidente de Bruno de Carvalho, foi um dos trunfos lançados por Madeira Rodrigues para exemplificar como é possível ter voz nos centros de decisão sem gerar múltiplas guerras com clubes rivais e instituições que tutelam o futebol nacional. Rui Morgado, candidato a presidente da mesa da assembleia geral da lista A e que pertenceu também aos órgãos sociais de Bruno de Carvalho, criticou também em entrevista ao jornal O Jogo os processos instaurados pelo atual líder a sócios.

Bruno de Carvalho. O atual presidente não gostou das críticas do adversário e respondeu de forma dura às acusações proferidas por Madeira Rodrigues: “Ser candidato deve significar um debate sério e elevado, não um ataque vil e calunioso. Devia ter vergonha de querer ser presidente do Sporting quando não dá uma ideia e só sabe falar mal”. Até o verbo berrar gerou troca de galhardetes – “Os leões não ladram nem berram, rugem!”. Bruno de Carvalho defende que, ao longo dos quatro anos, nunca foi o Sporting que deu o primeiro passo nas “guerras” que originaram o corte de relações com FC Porto e Benfica, ao mesmo tempo que assegurou ter apenas vontade de defender os interesses do clube de forma intransigente em casos como o do reconhecimento da FPF a Peyroteo.

Como estão as finanças verde e brancas?

Pedro Madeira Rodrigues. Após a apresentação das linhas programáticas para cada uma das áreas, incluindo a vertente financeira, o candidato da lista A aprofundou mais o tema no regresso da viagem ao Médio Oriente, apontando o dedo aos problemas e detetando soluções. “Estou a vender o naming do estádio e da academia, são formas importantes de fazer um Sporting mais competitivo no futuro. Isso estava no programa do outro candidato há quatro anos, mas não conseguiu concretizar e vou ser eu a fazê-lo. É certo que a reestruturação financeira foi muito benéfica para o Sporting, mas a verdade é que, desde que Bruno de Carvalho entrou, o Sporting perdeu 25% da SAD”, argumentou, mesmo sabendo que essa perda resultou da reestruturação negociada com a banca. Em paralelo, Madeira Rodrigues assegurou um maior rigor em termos de orçamento do futebol, que diz ter atingido valores demasiado elevados nos dois últimos anos com Bruno de Carvalho fruto de variadas contratações sem resultados desportivos que foram feitas nas últimas épocas.

Bruno de Carvalho. Em comunicados enviados às redações em dias consecutivos, o atual líder dos leões detalhou dois aspetos importantes na área financeira além da reestruturação financeira por todos elogiada: por um lado, a lista B assegura que, nos últimos quatro anos, o Sporting foi o único clube entre os três grandes que conseguiu reduzir passivo, passando de 442,7 milhões para 355, baixando também a dívida líquida de 281,2 para 204,5 milhões; por outro, garante que vai terminar o mandato com um lucro de quase 60 milhões no futebol (59,71 milhões), com 24 dos 27 jogadores do atual plantel lançados desde 2013, 30,5 milhões de lucro nos jogadores contratados e vendidos entre 2013 e 2017 e o resgate de percentagens de passes de 37 jogadores.