Não foi amor à primeira vista, mas ficou como amor durante décadas. Depois de ter começado a jogar basquetebol, a grande paixão desde miúdo, no Sporting de Lourenço Marques, Carlos Lisboa chegou a Lisboa em novembro de 1974 e assinou pelo Benfica. A relação não funcionou: jogava pouco, andava triste e decidiu mudar-se para o Sporting no ano seguinte, quando era júnior. Subiu aos seniores e por lá ficou até 1982, quando a secção foi suspensa nos leões. Ganhou três Campeonatos e duas Taças de Portugal. Daí rumou ao Queluz, onde conquistou um Campeonato e uma Taça. Em 1984, dez anos depois, voltou ao Benfica. Vingou. E tornou-se o mais titulado de sempre.

No Sporting ou no Queluz, tinha jogado com grandes nomes da modalidade. Rui Pinheiro, Mário Albuquerque, Augusto Baganha (atual presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude), Tomané, Nélson Serra, John Fultz ou Mike Carter. Mas foi no Benfica que se montou a verdadeira equipa de ouro, ao lado de Henrique Vieira, Pedro Miguel, José Carlos Guimarães, Mike Plowden, Steve Rocha ou Jean Jacques. Entre triunfos históricos na Europa, frente a colossos como Real Madrid, Panathinaikos, Badalona ou Bolonha, o número 7 que quase transformava os triplos em lances livres conquistou dez Campeonatos em 11 anos (entre 1984 e 1995 falhou apenas em 1988), cinco Taças de Portugal, cinco Taças da Liga e seis Supertaças. Abandonou em 1996, com 26 títulos.

Começou a carreira de treinador no Estoril mas, em 1997, voltou ao Benfica. Tal como tinha acontecido como jogador, também não correu bem na primeira ocasião: em três anos, ganhou apenas uma Supertaça em épocas disputadas entre FC Porto, Ovarense, Estrelas da Avenida e Portugal Telecom. Após dois anos de interregno, esteve três épocas no Aveiro Basket, sem títulos. Em 2005, volta à Luz como diretor geral.

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No entanto, o “bichinho” do banco e dos pavilhões esteve sempre presente, voltando a ocupar o cargo de treinador dos encarnados em 2011. Aí sim, à segunda foi de vez. E já vai em 22 títulos: cinco Campeonatos Nacionais, quatro Taças de Portugal, cinco Supertaças, quatro Taças Hugo dos Santos e quatro Taças António Pratas. O último foi conseguido esta noite, no Pavilhão da Luz, fechando a final do playoff com o FC Porto com 3-0. E com uma vitória categórica por 87-57 no último encontro.

“Ganhámos o Campeonato com todo o mérito. Fizemos uma boa época, também em termos internacionais. Foi o trabalho de todos os jogadores e de toda a estrutura. Esta vitória não deixa margem para dúvidas. Queria mandar um forte abraço ao presidente Luís Filipe Vieira, ele sabe por que estou a dizer isto. O Campeonato que eu ganhei é para si, presidente”, afirmou o técnico nas primeiras declarações como campeão à BTV.

Aos 58 anos, Carlos Lisboa continua a reforçar a posição de treinador mais titulado do basquetebol nacional, depois de já ter sido o jogador com mais conquistas. E parece que não vai parar por aqui. Com uma curiosidade: nunca chegou à NBA (falou-se num possível interesse das duas novas equipas canadianas na década de 90, Toronto Raptors e Vancouver Grizzlies, mas nunca avançou), mas tem a sua camisola retirada no pavilhão da Luz como as grandes estrelas do basquetebol norte-americano têm nos recintos onde brilharam.