Criado em 2014, o Plano de Investimento para a Europa, também conhecido como Plano Juncker, prevê investimentos na ordem dos 315 mil milhões de euros para financiar projetos e empresas públicas e privadas na União Europeia, até 2018. Um valor que poderá chegar aos 500 mil milhões de euros até ao ano de 2020.

Para Portugal as notícias são positivas. A conselheira para os assuntos económicos e financeiros da Representação da Comissão Europeia em Portugal, Catarina Dantas Machado, revela que “foram agora aprovados dois novos projetos de investimento empresarial na área do ambiente e da eficiência dos recursos”. O primeiro, promovido pela Águas de Portugal, com um financiamento de 420 milhões de euros, destina-se a melhorar a qualidade da água para os consumidores, “designadamente em resposta às normas comunitárias e para adotar a legislação europeia sobre tratamento e abastecimento de águas residuais urbanas”, salienta Catarina Dantas Machado. O segundo – Suma Capital – tem um investimento de 20 milhões e consiste num fundo de infraestruturas sediado em Espanha com o objetivo de promover “a eficiência energética e a economia circular”. Em Portugal, investirá em projetos de renovação de hotéis, retrofit de instalações industriais, iluminação pública ou de valorização de resíduos e recuperação de materiais.

No total, os dois novos projetos deverão mobilizar um investimento adicional de 927 milhões de euros, maioritariamente a desenvolver em Portugal.

Catarina Dantas Machado destacara, no início de julho, que os portugueses tinham recorrido, até essa data, a mais de 1,2 mil milhões de euros do Plano Juncker, mas atualiza esse investimento para os 1,6 mil milhões. Trata-se de um montante elevado, considerando que nos últimos 40 anos “os investimentos do BEI em Portugal totalizaram 45 mil milhões de euros”. Ou seja, o País é um dos Estados-Membros que mais tem beneficiado com o Plano Juncker, em termos relativos.

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No âmbito deste financiamento, há muitos bons exemplos da aplicação de fundos europeus; empresas que deram seguimento às suas operações e que até as viram crescer, por exemplo, através da modernização e da internacionalização dos seus negócios. Foi o que aconteceu com três empresas portuguesas, que se apresentam como tendo agarrado esta oportunidade europeia: a Dominó, Indústrias Cerâmicas, de Condeixa-a-Nova; a Skinspiration, com sede no Funchal, e a Critical Materials, de Guimarães.

Para tornar visível essa realidade, a Chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Colares Alves, irá visitar este último exemplo. Na segunda-feira, dia 24 de julho, as atenções estarão viradas para a Critical Materials, à qual será feita uma visita, conjuntamente com o presidente da Câmara de Guimarães, Domingos Bragança, e o reitor da Universidade do Minho, António Cunha.

Nasce uma empresa de tecnologia avançada

Foi em 2009, ano de crise, que Gustavo Rodrigues Dias e Júlio Viana, investigadores em informática de aplicação de materiais avançados e professores de Engenharia dos Materiais na Universidade do Minho, fundaram a Critical Materials, em Guimarães.

A empresa resulta de uma joint venture entre os dois sócios e a Critical Software, de Coimbra. Desenvolve software para setores como o aeronáutico, aeroespacial, energia e infraestruturas – soluções capazes de garantir a segurança de sistemas tão sofisticados como aviões ou turbinas eólicas, que permitem melhorar desempenhos, reduzir custos de manutenção e evitar acidentes.

A sua equipa multidisciplinar conta com 25 profissionais com formação académica elevada e as perspetivas de crescimento são reais uma vez que, estando ainda longe de concretizar o seu potencial, a Critical Materials faturou 1,3 milhões de euros em 2016.

Critical Materials

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“Assegurar o longo ciclo do desenvolvimento de produtos”

Fundação: 2009

Inovação: Software de ponta para os setores da aeronáutica, aeroespacial, energia e infraestruturas

Faturação prevista para 2017: superior a 1,3 milhões de euros

Financiamento Europeu: 1 milhão de euros

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Nada seria possível sem o financiamento europeu, que possibilitou percorrer o longo ciclo de trabalho próprio das atividades inovadoras. Numa primeira fase, esse investimento traduziu-se no desenvolvimento da tecnologia que está na base do principal produto, o PRODDIA, e na contratação de seis engenheiros, altamente especializados. Mais tarde, a Europa financiou a demonstração do produto em condições reais. Com resultados muito positivos, reconhece o CEO, Gustavo Rodrigues Dias: “Essa demonstração fez-nos angariar dois clientes”.

Por agora, o financiamento através do Banco Europeu de Investimento está a contribuir para a estabilidade financeira da Critical Materials e atenua as dificuldades da própria atividade. “Demora algum tempo até que este tipo de tecnologia chegue ao mercado com grande expressão”, reconhece Gustavo Rodrigues Dias.

Com clientes como a Airbus, a Embraer, a Força Aérea Portuguesa e a EDP Renováveis, a empresa marca presença em mercados como Portugal, Espanha, Reino Unido, Brasil e Emirados Árabes Unidos. confiante há muita confiança no futuro: “Os programas estão a surgir, principalmente os internacionais, com oportunidades de grande dimensão sobretudo no Médio Oriente e no norte da Europa”.

Entre os clientes da Critical Materials estão a Airbus, a Embraer e a Força Aérea Portuguesa

Redefinir prioridades e vencer a crise

A Dominó, Indústrias Cerâmicas, de Condeixa-a-Nova, fundada em 1988, é o maior empregador privado do concelho e exporta entre 60 a 65% da produção para os cinco continentes. Com três unidades industriais, é hoje uma das empresas portuguesas mais competitivas do setor.

Em 2009, ano que marcou o início da mais recente crise económica mundial, com fortes repercussões no setor imobiliário, tinha atingido uma faturação de 20 milhões de euros. E não alheia à conjuntura internacional, sofreu – a partir daí – uma queda no volume de negócio.

Era o momento certo para redefinir toda a estratégia da empresa, a nível comercial, de produto e de importações. A Dominó identificou como prioritários os “exigentes mercados” da Alemanha, França, Espanha, Reino Unido, Holanda, Áustria e Bélgica, como destaca o CEO João José Xavier. “São países que reconhecem e pagam a qualidade. E, tratando-se de mercados estáveis, permitem crescimentos sustentados. Foi essa a razão da nossa aposta”, salienta o responsável.

Dominó, Indústrias Cerâmicas

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“Nova estratégia e novas prioridades, sem perder postos de trabalho”

Fundação: 1988

Empregos diretos: 200

Faturação prevista para 2017: 16 milhões de euros

Financiamento europeu: 8 milhões de euros para aquisição de equipamento e 1,2 milhões de euros para apoio à internacionalização

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Depois foi a vez de reestruturar a gama de produtos, adaptando-a à realidade dos mercados, e de redesenhar a abordagem técnica e comercial da empresa. Para desenvolver esta estratégia, a Dominó recorreu a investimento europeu, tendo-lhe sido atribuído um investimento de 1,2 milhões de euros.

A inversão do ciclo começou a sentir-se a partir de 2013 – mais cedo do que a própria conjuntura internacional –, e a empresa deverá atingir uma faturação de 16 milhões de euros em 2017.

João José Xavier faz questão de dizer que um dos pontos de honra da administração, em todo este processo, foi manter os cerca de 200 postos de trabalho: “Um dos maiores patrimónios que temos são os nossos colaboradores e, numa hora difícil, tentámos defendê-los ao máximo”.

João José Xavier, CEO da Dominó, Indústrias Cerâmicas

Uma novidade mundial em cosmética

Pedro Boavida reúne uma longa experiência no marketing farmacêutico e um espírito verdadeiramente empreendedor. Há três anos, decidiu criar produtos de cosmética à base de leite de burra, com base num rigoroso processo de investigação e de análise das propriedades e dos efeitos daquela matéria-prima. Com sede no Funchal, nascia assim a Skinspiration.

Sócio fundador da empresa, Pedro Boavida estabeleceu uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa e foi nesta instituição que se iniciou o processo de investigação e criativo até à formulação dos produtos. Da aliança, nasceu também o conceito TNEC (Traditional New Era Cosmetics), que permitiu maximizar o potencial de matérias-primas tradicionais e o desenvolvimento da fórmula dos produtos Skinsecret. Ao leite de burra juntaram-se ainda dois ingredientes que primam pelas propriedades antioxidantes e nutritivas, a romã e a moringa.

Skinspiration

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“Produzir em Portugal e vender em todo o mundo”

Fundação: 2015

Produto: cosméticos criados a partir de uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Faturação prevista para 2017: acima de 50 mil euros

Financiamento Europeu: 120 mil euros

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Seguiram-se outros ensaios clínicos que mantiveram a certeza da qualidade dos produtos. Com capital dos sócios e financiamento europeu de 120 mil euros, a comercialização arrancou em 2016. A atual gama Skinsecret é composta por cremes de rosto anti-idade e antirrugas, creme de mãos e leite de corpo, comercializados em farmácias.

O foco é a internacionalização, mas Pedro Boavida faz questão de lembrar que a Skinspiration é uma empresa portuguesa. “Nascemos na Madeira, compramos o leite de burra a uma casa agrícola em Coruche e produzimos num laboratório também próximo do concelho, o que gera muitos empregos indiretos”. Comercializados em Portugal, os cosméticos estão a entrar nos mercados britânico e norte-americano. A Rússia é o próximo destino.

A Skinspiration nasceu na Madeira e estabeleceu uma parceria com a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa