As últimas sondagens mostram a diferença entre o PS e a coligação a diminuir. O PSD e o CDS foram os partidos que mais subiram nas intenções de votos, o que não deixa de ser extraordinário após mais de três anos de austeridade. Há obviamente mérito por parte do governo, e sobretudo por parte dos líderes dos dois partidos. Mas em grande medida as sondagens mostram o fracasso do novo líder do PS. Afinal, Seguro não era o problema.
Há muitos portugueses zangados com o governo, o que é natural. Desde 2011, o desempregou cresceu, os salários e as pensões diminuíram, os impostos aumentaram e a generalidade dos portugueses vive pior. Neste contexto, ganhar em 2015 será uma tarefa difícil para a coligação. No entanto, como mostram as sondagens, é possível. A disponibilidade de Rui Rio para se candidatar a Belém é um dos maiores sinais de que o PSD acredita que ainda pode ganhar. E o fracasso de António Costa ajuda.
O líder do PS tem seguido uma tripla estratégia: responsabiliza uma suposta deriva ideológica do governo pelas políticas de austeridade; garante que um governo seu acabará com a austeridade; mas não entra em detalhes sobre políticas concretas, contando com a insatisfação dos portugueses para chegar ao poder. António Costa não está a tentar ganhar as eleições; está simplesmente à espera que Passos Coelho as perca. Nove meses à espera será uma eternidade.
Com o adiamento do acordo de coligação, Passos Coelho e Portas tornam a vida ainda mais difícil a António Costa. Aliás, no dia que anunciarem a coligação, o governo acaba e começa a campanha eleitoral. Para bem dos portugueses, convém que o anúncio da coligação seja o mais tarde possível. Até lá, o governo faz a sua obrigação – governa (a melhor campanha, de resto) – e coloca o PS sob pressão para apresentar políticas concretas.
Essa será uma tarefa impossível para António Costa. O PS não consegue nem pode apresentar uma alternativa às políticas do governo. E o seu líder sabe-o muito bem. Por isso, tem sido vago. É simples: o PS é incapaz de apresentar alternativas porque não há dinheiro para gastar. Nos últimos trinta anos, os programas políticos do PS (e do PSD até 2011) foram essencialmente prometer gastar mais dinheiro, através de investimentos públicos (obras e mais obras) ou de mais benefícios sociais. Não há qualquer problema com essas promessas, desde que haja dinheiro. O drama do PS é a incapacidade de construir um programa de governo que não envolva aumento de despesa pública. Aliás, cada vez que António Costa ousa ser um pouco mais específico, o país começa a fazer contas. A crise e o sofrimento levaram os portugueses a associar a política às contas. O que é um aborrecimento para o PS.
Os portugueses aprenderam que a política pode ser muita cara. E também já sabem que o dinheiro mal gasto pelos governos sairá mais cedo ou mais tarde dos seus bolsos. Vejam as promessas que o líder do PS já fez. Aumento do salário mínimo, reposição das pensões e dos subsídios de desemprego, reabertura de serviços públicos entretanto fechados. Ou seja, regresso a 2011. Mas com os portugueses a fazer contas, será muito difícil convencer o país que é possível voltar a 2011. Onde irá um governo socialista buscar o dinheiro necessário?
A resposta a esta questão explica por que razão António Costa não pode apresentar uma alternativa às políticas deste governo. O dinheiro necessário para construir uma alternativa terá que vir da Europa e Costa não sabe (nem poderia saber) se a Europa o fará. Mas se a Europa resolver abrandar a austeridade, a coligação também aproveitará essa atitude mais gastadora e menos austera. Por exemplo, se o BCE começar a libertar mais liquidez, já a partir do final do mês, a economia portuguesa também beneficiará.
Parece provável que os resultados das eleições também dependam do momento das decisões europeias. Esta dependência política não deixa de ser triste. Mas é o resultado de quem não soube controlar as suas contas públicas. Se hoje António Costa é incapaz de apresentar uma alternativa a esta coligação, deve-o ao governo de Sócrates. Ele terá pressentido que as coisas corriam mal, mas não antecipou a dimensão do desastre.