Com a regeneração da zona ribeirinha, Lisboa finalmente descobriu o Tejo e, apesar da crise económica, está repleta de empreendedores. Parafraseando, são mais ou menos estas as palavras de Tyler Brûle, em declarações ao Dinheiro Vivo. O diretor da Monocle justificou por que Lisboa é considerada, pela revista, uma das 25 cidades do mundo onde se vive melhor.

Cultura, arquitetura, transportes públicos (“bons, mas lentos”, diz) e a regular presença do sol são alguns dos factores que ajudam a colocá-la, via entrada direta, na 22º posição. Os espaços verdes e a proximidade com as praias também prestam o seu contributo para que o destino figure numa lista onde, estranhamente, não há espaço nem para Londres nem para Nova Iorque. À cabeça da oitava edição do ranking está Copenhaga, que repete a posição de 2013, seguida de Tóquio e Melbourne. Lisboa, por sua vez, é precedida por Portland, Oslo e Brisbane.

Mas como é, então, viver em Lisboa? Raphael Harmel, 36 anos, não tem problemas em responder. Deixou Paris, que figura na 14º posição na lista da Monocle, há cerca de um mês e meio por motivos profissionais: é mais um dos empreendedores que está a ser posto à prova no Lisbon Challenge. Primeiro escolheu viver na baixa pombalina, mas acabou por mudar de ideias. “A baixa não era suficientemente autêntica para mim. Achei-a demasiado limpa e perfeita”, conta ao Observador.

Depressa mudou-se de armas e bagagens, mas não para muito longe. Escolheu ficar pela Graça, onde diz ser muito feliz. “Agora, na Graça, sinto que estou a morar num museu vivo”, explica entusiasmado. Os edifícios, o elétrico, as “ruas loucas a cada cinco metros” são elementos-chave que ajudam a descrever a sua nova paixão. O único dedo a apontar, na opinião de Raphael, são os muitos turistas que por ali circulam.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O empreendedor vive numa casa antiga, cuja fachada está revestida de azulejos. Lá dentro, o apartamento foi completamente renovado. Raphael pode apanhar o elétrico 28 para o trabalho, mas admite que prefere andar. “No sentido geral, considero a qualidade de vida em Lisboa espetacular. As praias estão muito perto, a temperatura é boa e não há chuva [por enquanto]. Na terça-feira passada fui surfar de manhã antes de ir trabalhar.”

O francês elogia ainda a gastronomia, “é mais simples do que a francesa, com menos condimentos, mas é muito boa”, e acrescenta que considera Lisboa uma cidade barata, sendo que a comida, as bebidas e a renda ficam-lhe a metade do preço do que se estivesse em Paris. E porque está sempre a conhecer novos rostos de tantos países, vê na capital uma janela aberta para o mundo. 

Perguntamos se há algo que não gosta ou com o qual está descontente. A resposta é vaga, “deixe-me pensar…”. Breves instantes depois, ei-la: “Algumas partes da cidade não são muito bonitas e muitos edifícios parecem-me estar abandonados. Talvez seja preciso reabilitar alguns locais”. Também Tyler Brûle, da Monocle, tem coisas negativas a apontar: o desemprego elevado, os salários baixos e o facto de o custo de vida no centro da cidade estar a aumentar. Mas não vale desmotivar, até porque Lisboa parece estar na mó de cima e esta distinção ajuda-o a confirmar.