O exército russo mobilizou unidades de artilharia para o território ucraniano e está a usá-las para disparar contra forças ucranianas, revelou a NATO esta sexta-feira, de acordo com o New York Times. Esta é a primeira vez que o ocidente diz ter provas do envolvimento direto da Rússia na crise, depois das suspeitas de que Putin estaria a apoiar as forças separatistas no leste da Ucrânia.
Desde meados de agosto que a NATO tem estado a receber relatórios que indicam um envolvimento da Rússia no país vizinho, incluindo forças aéreas e de operações especiais, disse um porta-voz da aliança atlântica, Oana Lungescu. O secretário-geral da organização, Anders Fogh Rasmussen, criticou as movimentações russas num comunicado esta sexta-feira.
“Condeno a entrada da caravana russa com alegada ajuda humanitária no território ucraniano, sem o consentimento das autoridades ucranianas e sem o envolvimento do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Estes desenvolvimentos são ainda mais preocupantes porque ocorrem no meio do agravamento do envolvimento militar russo no leste da Ucrânia, incluindo de forças russas”, disse Rasmussen. Para além disso, o secretário-geral da NATO acrescentou: “Temos assistido ao fornecimento de grandes quantidades de armamento avançado, incluindo tanques, pessoal armado e artilharia aos grupos separatistas no leste. A NATO registou ainda uma acumulação preocupante de forças terrestres e aéreas russas nas fronteiras com a Ucrânia”.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) confirmou esta manhã que os 260 camiões russos com ajuda humanitária já começaram a entrar em território ucraniano. No entanto, anunciou que não vai acompanhar o processo devido à “situação de segurança volátil”, pois não recebeu “garantias de segurança”. A Cruz Vermelha reportou ainda bombardeamentos pesados durante a noite passada em Lugasnk.
A reação por parte da Ucrânia não demorou muito. “A isto chamamos invasão”, disse Valentín Naliváychenko, o chefe dos Serviços de Segurança da Ucrânia, porque, alegou, a caravana russa com ajuda humanitária entrou em território ucraniano sem permissão das autoridades daquele país e sem a escolta da Cruz Vermelha.
The #Russian #AidConvoy is moving into #Ukraine, but we are not escorting it due to the volatile security situation.
— ICRC (@ICRC) August 22, 2014
We've not received sufficient security guarantees from the fighting parties. Our team in #Lugansk reports heavy shelling overnight. #Ukraine
— ICRC (@ICRC) August 22, 2014
Esta caravana humanitária terá como destino Lugansk, uma das duas maiores cidades com mais habitantes a falar russo — a outra é Donetsk –, e começou a ser mobilizada a 12 de agosto, apesar da desaprovação da Ucrânia, Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Lugansk vai no 19.º dia sem água e com limitações na eletricidade e rede telefónica. Nas poucas lojas que existem, estão apenas alguns alimentos essenciais à disposição. A Rússia alertou na altura para uma “catástrofe humanitária” no leste da Ucrânia.
Há uma semana a Ucrânia anunciou que iria inspecionar a caravana, pois temia que se tratasse de um golpe de teatro, a fazer lembrar o cavalo de troia — em vez da água, medicamentos e comida, os ucranianos e os países do Ocidente temiam que os russos estivessem a tentar transportar armas para os rebeldes pró-russos. A Rússia garantiu que não havia soldados na coluna e até considerou “absurda” essa hipótese.
A desconfiança manteve-se. E, depois de uma semana estacionada na fronteira, a caravana recebeu finalmente luz verde para entrar em território ucraniano. Apesar deste processo ter, aparentemente, culminado com alguma normalidade, um colaborador da Reuters viu 16 camiões e, mais tarde, mais 16 veículos a entrarem no território ucraniano antes do tempo.
MERKEL EM KIEV SÁBADO
Angela Merkel, a chanceler alemã, aceitou o convite do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, e vai deslocar-se amanhã a Kiev para discutir “possibilidades concretas para apoiar a Ucrânia na atual crise”, conta o Wall Street Journal. Esta viagem envia uma mensagem muito clara para os russos: Berlim apoia Kiev.
Merkel vai encontrar-se com Poroshenko e Arseniy Yatsenyuk, o primeiro ministro ucraniano, anunciou terça-feira o porta-voz da chanceler, Steffen Seibert. Esta viagem diplomática visa promover uma negociação entre os militares ucranianos e os separatistas pro-russos no leste do país.
Por outro lado, os ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França, Ucrânia e Russa encontraram-se em Berlim, no domingo, para discutir uma eventual ajuda humanitária conjunta e um cenário de cessar-fogo. A reunião durou cinco horas e dela não resultou nenhuma conclusão ou anúncio. Berlim comunicou que os ministros iriam consultar os seus líderes durante esta semana que passou para decidir o que fazer.