É o banco mais antigo do mundo ainda em atividade. Mas poderá, em breve, deixar de o ser. O italiano Banca Monte dei Paschi di Siena, mais conhecido como Monte dei Paschi, teve o pior resultado nos testes de stress do BCE e deverá, agora, ser absorvido por outra instituição.

As ações do Monte dei Paschi estão suspensas na bolsa de Milão, depois de terem aberto nesta segunda-feira a cair cerca de 15% no rescaldo do chumbo nos testes de stress relevado no domingo. O exercício revelou que o banco necessitaria de 2,11 mil milhões de euros em capital para cumprir os rácios mínimos no cenário adverso testado pelo BCE. Foi um dos nove bancos italianos a chumbar no exercício e, de longe, aquele com maiores insuficiências em toda a zona euro.

Poderá ter sido a “gota de água”. O resultado do Monte dei Paschi nos testes de stress poderá empurrar o banco, fundado na Toscana corria o ano de 1472, para uma fusão com outra instituição. Uma fusão que, tendo em conta as dificuldades recentes do banco, será, na realidade, uma absorção por outro banco, dizem analistas. Já foram contratados os serviços do Citi e do UBS para avaliar as opções do Monte dei Paschi nesta altura, mas poucos acreditam que seja possível fazer mais um aumento de capital ou que haja ativos suficientes para vender.

O Monte dei Paschi acumulou 9,3 mil milhões em prejuízos nos últimos três anos, segundo a Reuters. Em 2007 avançou para a compra do rival Antonveneta ao Santander, meses antes do início da crise financeira. Terá sido um passo em falso. Como resultado da crise europeia, recebeu um empréstimo estatal de 4,1 mil milhões de euros que já devolveu quase integralmente. Esse reembolso foi feito, contudo, graças a um aumento de capital que levou a Fundação Monte dei Paschi, o acionista histórico, a dispersar o seu controlo da instituição. Ficou com uma posição acionista de apenas 2,5% após esse aumento de capital, dando lugar à entrada a fundos de capital privado como o York Capital Management e o BTG Pactual.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A crise europeia, a perda de quota de mercado e o escândalo

Perante a recessão económica e as dificuldades operacionais, o banco tem sido incapaz de dar a volta e voltar a conquistar a quota de mercado perdida nos últimos anos. Tem vendido ativos, fechou cerca de 500 sucursais e reduziu o número de postos de trabalho em oito mil. Esteve, também, envolvido num escândalo relacionado com a negociação de instrumentos financeiros complexos. Esse escândalo foi, aliás, o que levou o banco a pedir a assistência estatal, em 2013.

O escândalo esteve ligado à compra do Antonveneta ao Santander, por nove mil milhões de euros. O Santander havia comprado o mesmo banco poucos anos antes por cerca de seis mil milhões. Não foi a única operação de fusões e aquisições na banca europeia no auge da euforia de 2007, antes de estalar a crise – a corrida pelo holandês ABN Amro também resultou em grandes dores de cabeça a quem o comprou – mas no caso da compra do Antonveneta pelo Monte dei Paschi houve contornos de fraude, com perdas escondidas pela gestão e ligações questionáveis ao poder local. Mario Draghi, atual presidente do BCE, era governador do Banco de Itália na altura em que se descobriram as irregularidades.

Mal refeito do escândalo e da crise, o resultado nos testes de stress veio mostrar que a situação do Monte dei Paschi é mais grave do que se pensava. A avaliação à qualidade dos ativos feita pelo BCE levou a um ajuste negativo de mais de quatro mil milhões de euros entre o valor atribuído pelos técnicos do BCE aos ativos no balanço do Monte dei Paschi e a avaliação feita pelo próprio banco a 31 de dezembro de 2013.

O vice-governador do Banco de Itália, Fabio Panetta, não ficou surpreendido com o chumbo do Monte dei Paschi. Mas defendeu que foi “como pedir a alguém que está a recuperar de uma doença para correr a maratona”.