O ex-primeiro-ministo, José Sócrates, foi escutado a pedir dinheiro ao amigo e coarguido Carlos Santos Silva. A informação, avançada pela edição do Expresso deste sábado, consta do despacho que fundamenta a prisão preventiva aplicada aos arguidos, assinado pelo juiz de instrução Carlos Alexandre. O Diário de Notícias refere que era o empresário quem pagava o motorista de Sócrates, também preso, e que arranjou trabalho para a ex-mulher dele, Sofia Fava.
Carlos Alexandre terá mesmo confrontado os dois arguidos com essas escutas, em primeiro interrogatório judicial. Esta informação foi cruzada por vários movimentos bancários ocorridos desde 2009 quando Carlos Santos Silva transferiu 23 milhões de euros, que amealhou numa conta da Suíça, para várias contas em Portugal. Há registos de transferências das contas, nomeadamente no BES, de Carlos Santos Silva para José Sócrates.
O Diário de Notícias fala numa relação de amizade e necessidade entre os dois arguidos suspeitos de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Os dois conheciam-se dos tempos de juventude e, fontes contactadas por este jornal, dizem que para um empresário como Carlos Santos Silva, com negócios internacionais, era benéfico relacionar-se com um ex-primeiro-ministro.
Recorde-se que Carlos Santos Silva comprou casas a mãe de Sócrates e era também proprietário do apartamento em Paris onde Sócrates viveu. Também seria o empresário quem pagava o salário do motorista João Perna, preso no mesmo processo, e que arranjou emprego para ex-mulher de José Sócrates – cuja casa foi alvo de buscas pelas autoridades. No despacho do juiz Carlos Alexandre refere-se ainda que Carlos Santos Silva transferiu dinheiro para Sócrates que serviu para pagar férias e viagens – pelo menos é o que se conclui da documentação apreendida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
Os investigadores suspeitam que estes pagamentos funcionem como prestações dos 23 milhões de euros que estavam na Suíça, acreditando que pertenciam a Sócrates e que Santos Silva seria um testa de ferro. No entanto, não se sabe para já como é que o Ministério Público vai provar que este valor era, de facto, de Sócrates. E que terá resultado do favorecimento em algum negócio, nomeadamente através do Grupo Lena.
Os 23 milhões de euros foram transferidos para Portugal ao abrigo do Regime Excecional de Regularização Tributária, uma medida implementada por Sócrates, quando estava no Governo, que permitia a quem tivesse dinheiro depositado no estrangeiro o transferisse para Portugal pagando apenas 5% do valor total ao Estado português.