Dois corpos nus, tão formosos quanto a estátua de David que mora em Florença, cada um montado numa pantera. Desde o século XIX que se discutia a autoria destas duas esculturas de bronze, mas uma equipa composta por investigadores da Universidade de Cambridge e do Rijksmuseum apresenta-as esta segunda-feira como sendo de Miguel Ângelo. A confirmar-se, serão os dois únicos trabalhos em bronze do artista do Renascimento que resistiram até aos nossos dias.

A prova definitiva: um desenho datado de 1508, feito por um aprendiz do artista italiano que pintou a Capela Sistina. As cópias fiéis, encontradas no museu francês Fabre, em Montpellier, no outono do ano passado, são o que resta de vários esboços perdidos de Miguel Ângelo. Entre elas está o desenho de um jovem musculado montado numa pantera. Depois de muitas comparações com esboços e esculturas feitas pelo artista e análises técnicas, as primeiras conclusões permitem arriscar o final das dúvidas sobre quem esculpiu as duas estátuas que estavam na posse Adolphe de Rothschild, no século XIX. A equipa de investigadores só vai apresentar as conclusões definitivas em julho, mas tudo aponta para que estejamos perante obras feitas por Miguel Ângelo quando tinha cerca de 30 anos de idade.

Autor da Pietá, que se encontra na Basílica de São Pedro, em Roma, as qualidades de Miguel Ângelo enquanto escultor são conhecidas. Mas raramente o artista trabalhou metal. As duas estátuas têm quase um metro de altura e terão sido feitas entre 1506 e 1508. Vão ser apresentadas em conferência de imprensa esta segunda-feira, às 14h45, no Fitzwilliam Museum, em Cambridge, no Reino Unido, e é lá que vão poder ser vistas de perto (assim como algumas das provas que sustentam a autoria de Miguel Ângelo), gratuitamente, até 9 de agosto deste ano.

De acordo com documentos do museu, os Rothschild atribuíam a autoria a Miguel Ângelo mas, no século XX, a discussão começou. Acreditou-se que tinham sido feitas por Tiziano Aspetti, Jacopo Sansovino, Benvenuto Cellini. Mais recentemente, foram datas de 1550 e associadas ao escultor holandês Willem Danielsz Van Tetrode. Ainda de acordo com o museu, as duas esculturas só foram exibidas três vezes ao mundo: em 1878 em Paris, em 2003 em Nova Iorque e em 2012 na Royal Academy, em Londres. Nesta última, David Ekserdjian, um dos curadores da exposição, rejeitou as anteriores atribuições e colocou a estátua dentro do círculo de Miguel Ângelo.

“Tem sido fantástico e excitante participar neste projeto inovador, que engloba contributos de muitos historiadores de arte do Reino Unido, da Europa e dos Estados Unidos, e de cientistas e anatomistas de arte. Os bronzes são peças de arte excecionalmente poderosas e convincentes, e que merecem um estudo próximo. Esperamos que o público venha e as examine também, e que se envolva no debate em curso”, disse Victoria Avery, conservadora do departamento de artes aplicadas no Fitzwilliam Museum.

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