O Ministério Público tem em sua posse milhares de horas de escutas aos seis telemóveis que José Sócrates terá tido até à detenção. Foram essas escutas que permitiram à Justiça consolidar as suspeitas sobre o ex-primeiro-ministro e que revelam, segundo o Correio da Manhã desta terça-feira, a forma como Sócrates vivia em Paris e movimentava o dinheiro entre a sua conta e a de Carlos Santos Silva, que o Ministério Público crê ser apenas o testa-de-ferro de um esquema de branqueamento de capitais.

Apesar de já muita informação sobre a Operação Marquês ter sido divulgada na comunicação social, ainda não foi deduzida acusação a José Sócrates, o que tem merecido críticas da defesa do ex-governante. Logo aos primeiros minutos desta terça-feira, João Araújo e Pedro Delille enviaram um comunicado às redações onde afirmam que se esgotou o prazo legal para a conclusão do inquérito. “Dois anos e meio. Nem factos, nem provas, nem acusação”, escrevem os advogados, que acusam o Ministério Público de, “ao longo de mais de dois anos e meio”, ter investigado “o que quis, como quis, com o que quis” e, mesmo assim não ter chegado a nenhuma conclusão.

A defesa de Sócrates nega que o dinheiro com que o ex-primeiro-ministro lidava era dele e alega que os avultados montantes eram, na verdade, propriedade de Carlos Santos Silva, amigo de Sócrates e administrador do Grupo Lena. O Ministério Público tem, porém, outra visão do caso e o Correio da Manhã escreve que as escutas telefónicas permitem perceber que o ex-governante dispunha das contas de Santos Silva como queria — e gastava quantias muito expressivas em viagens, roupas e hotéis, entre outras coisas. Entre março de 2011 e abril de 2013, escreve o jornal, terá gasto 61 mil euros através de dois cartões de crédito. Numa estada no Brasil, por exemplo, terá gasto mais de 10 mil euros em roupa para si e para o filho. E, no regresso em Lisboa, mais avultadas despesas em dois hotéis de luxo: o Dom Pedro e o Tivoli.

As escutas referidas pelo Correio da Manhã abrangem muitos aspectos da vida de José Sócrates, desde pormenores sobre a vida privada ao comentário político, passando pelas opiniões futebolísticas. Em 2013, por exemplo, o ex-primeiro-ministro não terá gostado de ver o Benfica a perder 3-0 contra o Paris Saint German e comentou com Santos Silva: “Quando é que o Jesus se vai embora?”. Desses registos constam também as avultadas transferências que a mãe de Sócrates terá feito para o filho aquando da venda de um apartamento na Rua Braamcamp, em Lisboa.

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