O Podemos quer garantir que tanto o partido liderado por Pablo Iglesias como os seus aliados autonómicos na Catalunha, Valência e Galiza conseguem formar grupos parlamentares no Congreso de los Diputados, a câmara baixa do parlamento espanhol. Enquanto a formação de governo parece cada vez mais uma miragem, termina terça-feira o prazo para a entrega das candidaturas à formação de grupos parlamentares. E, aí, uma líder da Compromís-Podemos (a Comunidad Valenciana) pede, em artigo de opinião no El País, ao líder dos socialistas, Pedro Sánchez, que ceda deputados a troco de um acordo para formar governo por si liderado.
A formação de grupos parlamentares próprios para o Podemos e, também, para os três movimentos autonómicos, foi um compromisso eleitoral – o Podemos queria, por essa via, tentar ter influência sobre quatro grupos parlamentares (além do Podemos, as três forças a que se aliou nas regiões autónomas). Mas tanto o PP como o PSOE e o Ciudadanos rejeitam essa possibilidade, que os críticos dizem que seria um “atropelo democrático” aos resultados das eleições de 20 de dezembro.
A decisão caberá à Mesa del Congreso. Mas os líderes dos movimentos associados ao Podemos estão a fazer pressão para terem voz própria no parlamento. É aqui que se enquadra o artigo de opinião de Mònica Oltra, líder dos parceiros valencianos do Podemos. A responsável pede a Sánchez, líder dos socialistas do PSOE, que ceda algum deputado à confluência de partidos de esquerda, à semelhança do que foi feito no Senado (câmara alta) para que os movimentos CDC e ERC tivessem grupos parlamentares próprios. O grupo de Iglesias, para já, não assume uma posição oficial, segundo o El País.
Impasse para a formação de governo sem fim à vista
O Rei Felipe VI começou esta segunda-feira uma ronda de consultas com os líderes dos partidos políticos, antes de pedir a um deles para tentar a formação de governo. Tipicamente, o partido mais votado é o primeiro a ser convidado a formar governo, mas é possível que desta vez seja diferente se o Rei considerar que há uma opção que dê maiores garantias de estabilidade. O último a ser ouvido será por isso Mariano Rajoy, que saiu vencedor das eleições.
Se a questão não for resolvida 60 dias úteis após as eleições (que decorreram a 20 de dezembro), serão convocadas novas eleições – o prazo, portanto, acaba em meados de março. Nesta fase, poderá ser este o cenário favorito de Rajoy, eventualmente confiante de que conseguirá um resultado melhor se houver nova ida às urnas. O chefe do governo espanhol tem defendido que o cenário que mais fielmente representa o resultado eleitoral seria uma coligação entre o PP, o PSOE e o Ciudadanos – os socialistas recusam-se a dar o seu apoio a Rajoy e o Ciudadanos, até ao momento, tem indicado que se absteria em tal cenário.
Mariano Rajoy garante que está a ceder o suficiente para obter o apoio do PSOE – segundo o El Mundo, o PP admite negociar com os socialistas a reforma laboral. Em entrevista à Radio Nacional de España, o líder do PP acusa os socialistas do PSOE de “negociar com quem quer que seja”, incluindo com movimentos que defendem o “desastre” que seria a saída da Catalunha do Reino espanhol.
O líder socialista já deixou claro: é negociar com qualquer um menos com o PP. É difícil: os socialistas não querem negociar connosco. [Pedro] Sánchez está a fazer tudo o que pode para chegar ao poder. Fala com toda a gente e cede a toda a gente exceto ao PP, que venceu a eleição. Os espanhóis deixaram claro que querem que os partidos que defendem a Constituição negoceiem.
Pedro Sánchez reiterou na semana passada que não irá apoiar Rajoy e quer propor uma coligação de “forças progressistas”. Um dos obstáculos a uma coligação com o Podemos é que o partido de Pablo Iglesias admite a realização de um referendo à independência da Catalunha – algo a que Sánchez já se opôs no passado.
Uma sondagem divulgada este fim de semana indicou que mais de 60% dos espanhóis querem um entendimento e não querem novas eleições. O Partido Popular de Mariano Rajoy obteve 123 lugares no parlamento (que tem um total de 350 deputados). Os socialistas do PSOE ganharam 90 deputados e o Podemos e Ciudadanos obtiveram 69 e 40 deputados, respetivamente. Os restantes 28 deputados dividem-se por seis partidos diferentes.