A Coreia do Sul tem um centro para tratar os jovens que estão viciados na Internet. Uma reportagem do Washington Post conta algumas histórias e traz à discussão o outro lado da moeda no que toca à evolução e revolução digital. Esta Coreia, conta o Post, é o país mais ligado do mundo, contando com uma rede tão boa que permite aos seus cidadãos verem TV no smartphone enquanto estão no metro.

“O governo tem promovido as tecnologias e estes tipos de aparelhos, por isso o governo ajudou a criar este problema”, acusou Shim Yong-chool, o diretor do Centro Nacional para o Tratamento de Jovens Viciados na Internet. “Agora o governo está a tentar ajudar a resolver o problema”, disse ao Post.

Segundo a reportagem, cerca de cinco mil adolescentes frequentaram o centro durante 2015, naquele que foi o primeiro ano completo aberto. Os jovens pacientes, que foram para lá enviados por pais e professores, assinam uma declaração à entrada na qual admitem, por exemplo, mentir sobre o número de horas que passam na Internet e ainda que preferem estar agarrados ao telefone do que passar tempo com a família e amigos. O tratamento consta numa espécie de regresso ao passado, no qual as caminhadas, o ping-pong e os jogos de cartas são os principais hobbies. Ou seja, atividades sem Facebook, Whatsapp, Instagram, Internet Explorer, Twitter, Snapchat, Tumblr…

O diretor do centro considera que o vício na Internet é comparável ao vício de bebidas alcoólicas, revelando que a mesma poderá por conduzir a comportamentos solitários e agressivos. Há relatos, conta a reportagem, de pacientes que terão tentado fugir do centro para encontrar um café com wi-fi, e também casos em que os jovens tinham um smartphone escondido.

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A realidade portuguesa

Segundo um estudo do Instituto Universitário Ciências Psicológicas Sociais e da Vida (ISPA), de novembro de 2014, quase três quartos da população jovem (até 25 anos) apresentava sinais de dependência das tecnologias, contou então o Público. Tal como na reportagem mencionada acima, o ISPA concluiu que os casos mais extremos resultariam em isolamento e comportamentos violentos com necessidade de tratamento.

O trabalho do ISPA, conta o Público, foi desenvolvido durante dois anos e respeitou três fases de aplicação de questionários a jovens entre os 14 e 25 anos. O universo da pesquisa rondou os 900 entrevistados, sendo que 73,3% deles apresentava sintomas de dependência da Internet, dos quais 13% representavam casos agudos. Curiosa é a perceção dos jovens quanto ao seu vício: 52,1% admitiu sentir-se “dependente da Internet”.

O ISPA revelou ainda o perfil daqueles que apresentaram sintomas de dependência das tecnologias, tratando-se sobretudo de jovens do sexo masculino que frequentavam o ensino secundário e sem qualquer relação amorosa.