Não é que não as digamos ao longo de todo o ano, mas esta sexta-feira as mentiras são mais aceitáveis e normalmente mais criativas. O Dia das Mentiras veio satisfazer aquele gostinho escondido de dizermos disparates só para ver a surpresa – e o pânico, muitas vezes – no rosto daqueles com quem temos o dever de ser sempre (ou pelo menos quase sempre) muito honestos e transparentes. Hoje podemos rir enquanto enganamos os outros. Desde que façamos figas enquanto contamos as mentiras. Mas porquê?

Há várias explicações. Uma delas está relacionada com o Ano Novo: em várias culturas de origem romana ou hindu, a chegada a um novo ano era marcada a 1 de abril por ser uma data muito próximo ao equinócio de primavera. Isto foi válido até ao século XVI, mas em 1582 o Papa Gregório decidiu adotar um novo calendário e abolir a esquema juliano. No calendário gregoriano, o Ano Novo devia ser festejado a 1 de janeiro, o que terá desagradado a muitos. Houve até quem se recusasse a viver com as novas regras e continuasse a celebrar o novo ano no dia 1 de abril. Essas pessoas começaram a ser objeto de piadas e eram adjetivadas de “tolos errantes” que viviam uma mentira. A explicação, embora plausível, tem pelo menos uma lacuna: é que não explica como é que o hábito se espalhou pelo Ocidente, nem como é que ele chegou ao Reino Unido em particular, onde o calendário gregoriano só foi adotado em 1752.

Joseph Boskin veio com outra explicação. Este professor de História na Universidade de Boston argumenta que o nascimento do Dia das Mentiras remonta ao reinado de Constantino, quando um grupo de bobos disse ao imperador que eles conseguiam fazer um trabalho ainda melhor que ele. Constantino gostou da brincadeira e desafiou um dos bobos – chamado Kugel – a ser imperador por um dia. As decisões divertiram tanto o imperador que aquele passou a ser um hábito anual. Mas há um problema com esta explicação: ela própria é uma brincadeira. A Associated Press publicou esta teoria em meados dos anos 80, mas mais tarde desconfiou de que todos os jornalistas estavam a ser enganados pelo professor norte-americano. Mas ninguém sabe ao certo.

Certo é que o Dia das Mentiras não foi o primeiro a celebrar os enganos e que esta época do ano é sempre a preferida em diferentes culturas para contar mentiras. A 25 de março, os romanos celebravam a “Hilaria”, que marcava a ressurreição de Átis, um deus frígido que morria sempre no inverno e regressava todas as primaveras. As festas equivalentes são o “Holi” na cultura hindu e “Purim” na cultura judia.

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