A empresa de advocacia Mossack Fonseca, sediada no Panamá, tem mais segredos do que os que têm sido revelados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação no contexto da investigação Panama Papers, que revelou 11,5 milhões de documentos.

Jürgen Mossack e Ramón Fonseca, a dupla de advogados proprietários do escritório, responderam à investigação argumentando que apenas “trata da papelada legal”que permite aos seus clientes criar empresas em vários offshore, uma atividade que “quase todo mundo reconhece que é importante e algo que é fundamental para assegurar as funções de economia global de forma eficiente”.

Apesar das muitas críticas e reações ao escândalo que tem vindo a divulgar há vários dias os negócios da Mossack Fonseca entre 1977 e 2015, Jürgen Mossack, um dos co-fundadores, garante que a empresa não vai mudar a forma como opera. Em entrevista ao Wall Street Journal, Jürgen Mossack frisou também que a criação de empresas em offshores tem vários fins, como evitar a dupla tributação e assegurar privacidade e proteção contra regimes autoritários e criminosos.

Um tipo de regimes que o próprio advogado “conhece” bem: o outro segredo que envolve a sociedade de advogados é que Jürgen Mossack é filho de um soldado nazi das SS e membro da unidade de combate “Totenkopf” (que significa literalmente “Cabeça de Morte”) durante a Segunda Guerra Mundial, noticia o Daily Mail.

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Erhard Guenther Mossack nasceu na Alemanha em 16 de abril de 1924 e chegou a ser cabo das SS, escreve o jornal chileno Infogate. Segundo o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, na sigla em inglês), o pai, Erhard Mossack, serviu na Waffen-SS, do Exército alemão.

Erhard Mossack emigrou para a América Latina após a Segunda Guerra Mundial. Segundo um relatório do ICIJ, os arquivos dos EUA revelam que se ofereceu como espião, possivelmente apenas para se proteger. Em 1948, Erhard mudou-se com a família para o Panamá, mas regressou à Alemanha com a mulher na década de 1970. Morreu em 1990 e a esposa morreu cinco anos depois, segundo o Daily Mail.

O soldado alemão das SS ofereceu-se depois para espiar os comunistas em Cuba para a Central Intelligence Agency (a CIA) a partir do Panamá, conta a The Atlantic.

Jürgen Rolf Dieter Mossack nasceu a 20 de março de 1948, em Fürth, cidade alemã da Baviera. Nascido na Alemanha, foi criado e educado no Panamá, de onde saiu para estudar direito em Londres, no Reino Unido. Formou-se em 1973 e trabalhou em Londres até decidir regressar ao Panamá e abrir seu próprio escritório.

O primeiro escritório do advogado, de nome Jürgen Mossack Lawfirm, foi fundado em 1977. A empresa esteve na génese da Mossack Fonseca, também conhecida por Mossfon, que se tornou na Mossack Fonseca em 1986, quando se fundiu com a pequena empresa dirigida por Ramón Fonseca Mora, um escritor, advogado e político do Panamá. Ambos criaram o grupo Mossack Fonseca (Grupo MF), “líder global em serviços integrais de caráter legal e fiduciário”, segundo o site da empresa.

Jürgen Mossack preferia ocultar o passado do pai e evitava referir que havia pertencido às SS, conta o El Mundo. O secretismo em que envolvia a profissão do pai fazia com que evitasse contar também que havia trabalhado como agente secreto. “Pensamos que era engenheiro”, segundo uma fonte da imprensa local que não quis ser citada. “Dizia-se que Mossack tem mais poder do que o presidente e agora acredito naqueles que diziam isso”, revelou a mesma fonte.

O co-fundador da Mossack Fonseca pertencia também a um conselho consultivo informal ligado ao Ministério das Relações Exteriores do Panamá, um cargo honorário do qual se demitiu a semana passada na sequência da revelação do escândalo, refere a Associated Press (AP). O advogado de origem alemã demitiu-se do Conselho Nacional de Relações Exteriores, que aconselhava o governo do Panamá sobre a política externa. O sócio Ramón Fonseca Mora também tinha sido membro do gabinete do presidente do Panamá, Juan Carlos Varela até fevereiro passado.