Não está ao nível das meias usadas por baixo das sandálias, mas quase. Durante décadas, a camisa havaiana tornou-se sinónimo de uniforme à turista e, acima de tudo, de gosto duvidoso. “Muitas vezes consideradas berrantes ou pirosas, estas camisas foram relegadas para churrascos temáticos nas traseiras de quintais suburbanos”, escreve Dale Hope no livro The Aloha Shirt: Spirit of the Islands. Mas isso está a mudar. Honrando uma tradição com mais de 80 anos, em que alternaram entre o cool e o hediondo, qual versão masculina das mom jeans, as camisas havaianas estão a ser recuperadas por várias marcas e são uma das propostas mais frescas deste verão.

Na verdade, já em 2014 o Huffington Post notava que estas camisas de manga curta cheias de flores, pássaros ou outros motivos representativos das ilhas norte-americanas, tradicionalmente chamadas de Aloha shirts, estavam a aparecer em lojas como a Neiman Marcus e a Bergdorf Goodman, e nas coleções das super-poderosas Prada e Saint Laurent. No entanto, os exemplos contavam-se pelos dedos de uma mão, o que não se pode dizer deste ano. Para além de Valentino, Comme des Garçons e Polo Ralph Lauren, marcas como a Neigborhood, Sandro, All Saints, New Look, Mango e River Island têm as suas versões, quase sempre apresentadas nos manequins com uma t-shirt branca por baixo, cabelo para trás e calças de ganga escuras — tal e qual como no tempo em que eram cool. Ou como Leonardo DiCaprio as usou no filme Romeu e Julieta, de Baz Luhrmann.

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Marcas como a Mango foram buscar as camisas havaianas tal como se usavam nos anos 50 e 60. (Foto: Mango)

Como lembra o The New York Times, DiCaprio não foi o único a vestir a camisa havaiana com “uma espécie de confiança cool“. Antes dele, já Elvis Presley fazia as meninas suspirar com camisas de manga curtas às flores. Nenhum dos outros famosos avistados com uma vestimenta destas, na vida real ou no ecrã de cinema, terá quebrado tantos corações. Exemplos? Shirley Temple, Bing Crosby, Tom Selleck e até o presidente Nixon.

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Elvis Presley no filme “Blue Hawaii”, de 1962. (Foto: Paramount Pictures)

Uma história com portugueses à mistura

As origens da camisa havaiana remontam aos anos 20/30 e envolvem trabalhadores agrícolas de Oahu que, perante os baixos salários conseguidos nas plantações, se viraram para as máquinas de costura. O Huffington Post escreve que eram essencialmente imigrantes das Filipinas, Japão, China e… Portugal.

Numa altura em que o próprio turismo crescia em Honolulu, as camisas tornaram-se por isso fruto de várias influências, desde os quimonos do Japão às flores do Tahiti. Tornaram-se também uma tela perfeita para contar a vida na ilha, quais postais de vestir. Dale Hope, o autor do livro The Aloha Shirt: Spirit Of The Islands, que é também colecionador, faz mesmo uma separação entre uma camisa Aloha e uma simples camisa às flores, dizendo ao Huffington Post que na criação tradicional, “feita com orgulho no Havai”, aquilo que está representado é fruto de um processo de pesquisa e reflexão. “A camisa Aloha é feita por artistas como um tributo, e com respeito pelo lugar. Consegue-se ver que houve muito trabalho envolvido no padrão, na forma da canoa ou nos detalhes do peixe.”

As camisas reunidas em fotogaleria podem não ser “feitas com orgulho no Havai”, mas respeitam o espírito tropical em flores, pássaros e até ananases. E não, já não são só para turista.