A missão é clara: ajudar a promover soluções para a crise migratória na Europa, apoiadas em tecnologia e em inovação. Porque não convocar programadores, designers e empreendedores que sejam capazes de criar ferramentas tecnológicas que ajudem a resolver a crise dos refugiados? Foi esta a ideia de Mike Butcher, editor do TechCrunch, quando lançou a organização sem fins lucrativos Techfugees, em Londres, em 2015, e que hoje já chega aos cinco continentes. A 8 de novembro, chega a Portugal.

“Felizmente, em Portugal, ainda não sentimos o problema dos refugiados porque não temos a entrar pela nossa costa pessoas vindas da Síria ou do Norte de África. Mas a verdade é que este é um problema que está muito presente na comunicação social e é um dos grandes problemas que nós temos enfrentado no século XXI”, afirma Inês Santos Silva, embaixadora da Techfugees Portugal.

O Global Shapers Lisbon Hub é a entidade responsável pela vinda da iniciativa para solo português. O objetivo é que também os portugueses possam contribuir para a criação e desenvolvimento de ideias criativas e úteis para refugiados. Se, por um lado, a organização pretende aumentar o conhecimento que as pessoas têm sobre o tema, por outro, quer juntar a comunidade empreendedora, de designers e programadores para discutir e desenvolver soluções tecnológicas que ajudem os migrantes na chegada e integração no país de acolhimento.

A Techfugees tem feito um trabalho muito grande na identificação de problemas. O facto de a organização conter pessoas que realmente estão no terreno, pessoas que todos os dias lidam com refugiados, faz com que acabem por ter uma posição privilegiada para identificar os problemas”, explica Inês Santos Silva ao Observador.

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Identificadas carências ou necessidades que possam ser minimizadas, a Techfugees junta “à mesa” pessoas, organizações, instituições públicas e privadas e lança o tema para discussão. “Para a frente queremos organizar eventos mensais, em sítios diferentes do país, e juntar organizações que estão já a trabalhar sobre o tema, com pessoas das áreas tecnológicas”, explica a embaixadora.

À semelhança do que se faz noutras cidades, a Techfugees Portugal quer organizar, ainda no primeiro semestre de 2017, um hackathon (maratona de programação) para juntar empreendedores que queiram pôr “as mãos na massa” e criar soluções para os problemas que serão previamente identificados pelos membros da organização que trabalham no terreno, junto dos refugiados.

Exemplos que chegam de Londres e de Oslo

E já várias iniciativas foram postas em prática. Em Londres, no ano passado, a partir de um hackathon, surgiu a GeeCycle.org, um site onde as pessoas podem “reciclar” o seu telemóvel e fazê-lo chegar a um refugiado. Este ano, em Oslo, na Noruega, foi criada a Kom Inn, uma plataforma que ajuda refugiados a entrar em contacto com os novos vizinhos, do seu novo lar, durante um jantar. Deste modo, a integração com os cidadãos locais e a aprendizagem da língua é facilitada. Também a SkiwoGo pretende ajudar a ultrapassar a barreira da língua, com a criação de uma aplicação que ajuda na tradução e que liga refugiados com voluntários, através de um chat de vídeo ao vivo.

“É uma forma muito prática de fazer as coisas acontecer, de juntar pessoas e de, num fim de semana, saírem soluções que depois vão para o terreno e são implementadas”, esclarece Inês Santos.

A implementação acaba por ser feita por uma rede de voluntários que estão a trabalhar no terreno e identificam os problemas, para que outros possam depois desenvolver soluções que ajudem a minimizar as dificuldades de quantos perseguem um sonho europeu.

A organização sem fins lucrativos foi fundada em setembro de 2015, em Londres, difundiu-se por várias cidade europeias, criando uma rede internacional que já chegou aos cinco continentes. A sua ação passa ainda pelo envolvimento em iniciativas de organizações internacionais com responsabilidade social como a Comissão Europeia e as Nações Unidas para que, também nestas instituições, esteja representada “a voz da comunidade empreendedora e tecnológica”, conclui.

A comunidade portuguesa vai ser apresentada a 8 de novembro, às 18h30, no Lost Lisbon. O evento vai contar com a presença do fundador, Mike Butcher, aproveitando a presença dos milhares de pessoas que estão na cidade para a Web Summit.