Sabe aquelas anedotas da carochinha? Aquelas começadas pela maneira monocórdica do “era uma vez”. Pois então, era uma vez um argentino, um português e um grego. Os três encontram-se na Luz e é o cabo dos trabalhos para o Marítimo (6-0), em jogo da 4.ª eliminatória da Taça de Portugal.

Aos dois minutos, Salvio rouba a bola a Patrick e servi Cervi (perdoem-nos esta salganhada de palavras). O remate de primeira é indefensável para Gottardi. O Marítimo leva um murro e entra em depressão. Nem consegue sair do seu meio-campo, quanto mais incomodar Júlio César. A pressão benfiquista é constante e Gottardi é a figura do jogo por impedir o 2-0 vezes sem conta. Até aos 38 minutos. Aí, meus amigos, Pizzi combina com Salvio e finaliza com a classe que se lhe reconhece, 2-0. Ainda antes do intervalo, o 3-0 de Mitroglou. A jogada do golo é toda de Nélson Semedo: ganha a bola mesmo à justa e sai pela linha de fundo antes de reentrar em campo, fazer a roleta sobre Deyvison, “tabelar” com Patrick e assistir Mitroglou.

O intervalo é só um pró-forma para outra tareia tecnico-táctica do Benfica. Porque há jogadores que correm desalmadamente na segunda parte como se o jogo estivesse 0-0. É o caso flagrante de Gonçalo Guedes. O miúdo é um insolúvel cubo rubik para o pobre Marítimo. Ele corre, desmarca-se, dribla e nunca, nunca está parado. O 4-0 é uma correria de Gonçalo, concluída com facilidade por Mitroglou. O grego é substituído por Raúl Jiménez e é o mexicano quem faz o 5-0, de penálti, a castigar mão de Samuel, expulso sem contemplações por Carlos Xistra com vermelho directo. Quando o 5-0 já está de bom tamanho, o Benfica ainda consegue tirar outro coelho da cartola. E que coelho. Ou e que cartola. Canto de Pizzi na direita, bola metida para a entrada da área e remate de primeira, cheio de estilo, de Gonçalo Guedes. O guarda-redes Gottardi estica-se todo, em vão.

É o 6-0. Parece ténis. O último set na Luz a uma equipa da 1.ª divisão é ao FC Porto, em Abril de 1972, na meia-final. É o Benfica de Hagan joga com Eusébio recuado a médio e com um tridente ofensivo Nené, Artur Jorge mais Vítor Baptista. Pasme-se, são eles os três quem assinam os seis golos. Cada qual bisa: três vezes dois, seis. Cabuuuum, 6-0 ao Porto. E o Jamor ali à mão de semear. Desta vez, em 2016, o caminho para a final ainda está longe. O 6-0 ao Marítimo qualifica o Benfica para os oitavos-de-final, na companhia de Covilhã, Sporting, Académica, Estoril e Sanjoanense. Amanhã, há mais.

Estádio da Luz, em Lisboa
Árbitro: Carlos Xistra
BENFICA: Júlio César; Nélson Semedo, Luisão, Lindelöf, Eliseu; Samaris, Pizzi, Salvio (Carrillo, 71′), Cervi (Rafa Silva, 70′); Gonçalo Guedes e Mitroglou (Jiménez, 57′)
Treinador: Rui Vitória (português)
MARÍTIMO: Gottardi; Samuel, Maurício, Deyvison, Patrick, Erdem, Fransérgio, Ghazaryan (Cléber, 73′), Edgar Costa (Brito, 65′), Djoussé (Dyego Sousa, 42′) e Xavier
Treinador: Daniel Ramos (português)
Marcadores: 1-0, Cervi (2′); 2-0, Pizzi (38′); 3-0, Mitroglou (44′); 4-0, Mitroglou (53′); 5-0, Jiménez (69′, gp); 6-0, Gonçalo Guedes (88′)
Indisciplina: expulsão do maritimista Samuel (69′, vermelho directo)

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