Há três mil anos, o impulso de descoberta e aventura levou os melhores navegadores da altura a fazerem uma viagem única pelo vasto Oceano Pacífico. Apenas guiados pelas estrelas e tripulando simples canoas, aqueles intrépidos marinheiros navegaram quilómetros sem fim até se instalarem nas terras que iam encontrando pelo caminho. O resultado foi a descoberta das inúmeras ilhas que formam o triângulo que hoje conhecemos por Polinésia.

Mas o que é que esta história tem a ver com o novo filme da Disney – “Vaiana”? Tudo. Na animação, mil anos depois daquelas viagens marítimas terem sido iniciadas, sem se saber porquê, foram interrompidas.

É precisamente neste cenário ancestral e exótico que vamos conhecer Vaiana, uma adolescente polinésia destemida e muito determinada. Movida pela curiosidade e por uma forte ligação ao mar, Vaiana inicia uma viagem épica para cumprir o desígnio iniciado pelos seus antepassados, continuando a tradição da navegação entretanto suspensa.

A ação principal do filme, cujo trailer está já disponível (ver em baixo), envolve-nos nessa aventura marítima, através da qual Vaiana será posta à prova, enfrentando medos e inúmeros perigos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Quem é Vaiana?

Vaiana é a única filha de Tui, o chefe da tribo que habita Motunui, uma das muitas ilhas do sul do Pacífico. Desde que nasceu, sente-se seduzida pelo apelo do mar, até porque pertence a uma família de gerações sucessivas de marinheiros.

O maior desejo de Vaiana é explorar o mundo, navegando pelo oceano que a cerca e com o qual sente um vínculo muito forte. Porém, a navegação está interdita e ninguém tem autorização a aventurar-se no perigoso mar.

A oportunidade surge na forma de uma ousada missão a bordo de uma canoa. Vaiana parte em direção a uma ilha lendária com a tarefa de salvar o seu povo, mostrando ao mesmo tempo que é uma grande descobridora, tal como os seus antepassados.

No decurso da aventura, Vaiana conta com a preciosa ajuda de Pua, o seu pequeno porco de estimação, de HeiHei, um galo meio pateta que viaja clandestinamente na canoa por engano e do semideus Maui.

Juntos atravessam o oceano para alcançar o objetivo, sendo surpreendidos ao longo do caminho por muita ação, enormes criaturas marinhas, submundos surpreendentes e culturas antigas.

Vaiana-01

A estranha interrupção das viagens

A descoberta de novos caminhos e a concretização de experiências diferentes é o tema de fundo deste filme da Disney, que decorre no cenário natural e cultural das ilhas do sul do pacífico. A animação conta-nos que, centenas de anos antes do nascimento de Vaiana, a ilha de Motunui fora o berço dos melhores navegadores de todo o mundo. Com os seus simples recursos, que consistiam numa canoa e pouco mais, esses intrépidos marinheiros polinésios avançavam pelo mar adentro de forma triunfante.

Porém, as ações do semideus Maui levaram a que o mundo que cercava a ilha ficasse envolto em escuridão e perigo, sendo declarado como zona interdita. Como consequência direta, os habitantes da ilha ficaram impedidos de navegar para além dos recifes circundantes. Mas a corajosa Vaiana não se deixa intimidar e desafia as regras, acabando por descobrir a verdadeira razão da interdição, um segredo guardado há muitas gerações.

Dos criadores de filmes como “Frozen” e “Zootrópolis”, “Vaiana” estreia em Portugal no dia 24 de novembro, trazendo até nós todo o exotismo e encanto das ilhas da Polinésia. Na versão original, a voz de Vaiana é de Auli’i Cravalho, uma jovem havaiana de 14 anos que se estreia nesta animação.

A seu lado, o famoso Dwayne Johnson – também conhecido como The Rock – dá voz ao portentoso Maui, “o maior semideus de todas as ilhas do Pacífico”. Entre nós, o filme estará disponível também em versão dobrada em português.

“Vaiana” conta a história e a cultura da Polinésia

No mais recente filme da Disney, aspetos da realidade confundem-se com a ficção. Aqui damos-lhe conta de alguns pormenores através dos quais “Vaiana” nos mostra a história e as tradições das ilhas do sul do Pacífico:

Polinésia

A Polinésia é formada por um conjunto de ilhas situadas no Oceano Pacífico formando uma grande área triangular que tem nos seus vértices o Havai a norte, a Nova Zelândia a sudoeste e a Ilha de Páscoa a sudeste. A designação Polinésia deriva do grego poly (muitas) e nēsoi (ilhas), já que em causa estão largas centenas de ilhas espalhadas pelo sul do Pacífico, entre as quais: Samoa, Fiji, Ilhas Marquesas, Taiti, Ilhas Cook, Niue, Tuvalu, Ilhas Tuamotu, Pitcairn, Tokelau e muitas outras.

Vaiana-03

Oceano Pacífico

Não admira que a atração pelo mar tenha sido a força impulsionadora dos descobridores polinésios – e de Vaiana também – uma vez que o Pacífico é o maior oceano da Terra, ocupando cerca de um terço da superfície do globo com uma extensão de 165.25 milhões de quilómetros quadrados, o que representa o dobro da área do Oceano Atlântico e mais do dobro do volume de água deste.

Canoa polinésia

O movimento migratório polinésio iniciou-se há cerca de 3 mil anos em direção a ilhas dispersas e distantes umas das outras (algumas distam mais de mil milhas entre si) e o meio de transporte utilizado foi a simples canoa polinésia.

A bordo destas canoas ou embarcações à vela – algumas com cascos escavados numa só árvore e recorrendo a básicos flutuadores laterais para manter o equilíbrio – populações inteiras atravessaram vastas zonas do Pacífico, tornando-se autênticos descobridores e colonizadores. É exatamente numa canoa destas que Vaiana e os seus companheiros empreendem a épica viagem do filme.

Orientação em alto mar

Para os ajudar na orientação em alto mar, aqueles povos recorriam a técnicas elementares – mas muito eficazes – de orientação e navegação. Acredita-se que a observação das estrelas era a chave, bem como o conhecimento dos movimentos migratórios das aves do Pacífico a que se somava a elaboração de mapas com canas, cujo entrelaçamento indicaria a posição de ilhas e estrelas. Na altura ainda desconheciam a escrita, pelo que a informação era passada oralmente de geração em geração, não havendo também relatos históricos dos feitos.

A origem dos Polinésios

Mas de onde vieram esses povos que se espalharam pelas diversas ilhas do Pacífico? Este é um tópico que tem suscitado muitas dúvidas e alguma polémica, mas tudo indica que a migração marítima tenha tido origem na Índia e no sul da Ásia, pelas Filipinas, Indonésia e Bornéu.

O regime de ventos e de correntes oceânicas reforça esta teoria, bem como a própria semelhança física dos povos que habitam as várias ilhas. Até as canoas utilizadas e o desenho das velas é semelhante naquelas zonas.

Vaiana-02

Tatuagens

Uma característica distintiva dos polinésios assenta nas tatuagens que ostentam e o companheiro de viagem de Vaiana – o semideus Maui – está coberto delas. São usadas para assinalar ritos de passagem ou o estatuto social, mas também como ornamento estético, religioso ou guerreiro. Entre as mais famosas estão as tatuagens realizadas pelo povo maori, nativo da Nova Zelândia, e os símbolos mais comuns são relativos ao mar.

A palavra tattoo foi introduzida em diversas línguas europeias depois de o navegador inglês James Cook, durante a expedição de 1769, ter contactado com esta prática de pintura corporal no Taiti. Os nativos designavam a arte da tatuagem por tatau, em alusão ao ruído provocado pela batida no osso fino que introduzia a tinta na pele.

Colares festivos

Os mais populares são os colares de flores típicos do Havai (denominados Lei), mas a verdade é que a maior parte dos povos da Polinésia usam colares feitos de diversos materiais naturais. Além das flores, contam-se entre os materiais mais utilizados ossos, conchas, pedras, nozes, sementes, folhas, etc. Em “Vaiana”, tanto Maui como a protagonista usam colares deste tipo.

Tradicionalmente, a oferta de um colar destes implica a expressão de algum tipo de afeto, cordialidade ou recetividade entre pessoas que se conhecem. Ainda assim, é hoje uma prática turística comum acolher quem chega àquelas paragens paradisíacas com a oferta de um exótico colar de flores.