O Presidente do Brasil, Michel Temer, pediu na segunda-feira ao Ministério Público para acelerar a investigação sobre subornos pagos pela construtora Odebrecht, na qual foi citado o seu nome, para impedir que o processo paralise o país.

O pedido foi dirigido ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, num documento oficial enviado pela Advocacia Geral da União (AGU), o órgão que representa a Presidência em processos judiciais.

A Presidência brasileira considera que a divulgação “ilegítima” das acusações feitas por antigos administradores da Obdebrecht dentro de um acordo de colaboração com a justiça provocou “interferências” no processo de votação de medidas fiscais enviadas pelo Governo ao Congresso que são necessárias para sanear as contas públicas do país.

As acusações geraram um “clima de desconfiança e de incerteza” que “perturbam” o trabalho do Governo, argumenta a AGU, que pede celeridade nas investigações e na homologação pelo Tribunal Supremo das designadas “delações premiadas” (colaboração com a justiça a troco de uma redução de pena) para se poder determinar “eventual responsabilidade criminal dos investigados”.

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O próprio Michel Temer insistiu, na segunda-feira, depois de ser conhecida a petição da AGU à Procuradoria-geral, que é preciso “resolver imediatamente” a investigação dos subornos da Odebrecht.

Temer sugeriu que todas as denúncias de delitos sejam divulgadas em conjunto e disse que o Brasil “não pode aquietar-se em face daquilo que foi mal produzido, mas não pode paralisar suas atividades”.

O Presidente falava em São Paulo, numa cerimónia em que recebeu um prémio de liderança, naquela que foi a sua primeira aparição pública desde que o sue nome foi envolvido neste caso.

Na sexta-feira, num comunicado, o Presidente brasileiro, Michel Temer, já havia repudiado “com veemência” as “falsas acusações” do ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, sobre entrega de dinheiro em espécie a pessoas próximas do chefe de Estado.

“O Presidente Michel Temer repudia com veemência as falsas acusações do senhor Claudio Melo Filho. As doações feitas pela construtora Odebrecht ao PMDB [Partido do Movimento Democrático Brasileiro] foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”, segundo uma nota da assessoria da Presidência.

No comunicado, lê-se ainda que “não houve caixa dois [saco azul], nem entrega em dinheiro a pedido do Presidente”.

O esclarecimento surgiu horas depois de a revista Veja ter avançado que Claudio Melo Filho contou às autoridades que 10 milhões de reais (2,8 milhões de euros) em espécie foram entregues a pessoas próximas do Presidente.

De acordo com a publicação, a quantia tinha sido pedida por Michel Temer a Marcelo Odebrecht em 2014 e foi entregue a Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, e ao advogado José Yunes, amigo, assessor especial de Michel Temer e um dos seus conselheiros mais próximos durante a campanha eleitoral de 2014.

A revista avançou ainda que, em 82 páginas, Claudio Melo Filho, que procura colaborar com a justiça prestando informações em troca de eventual redução de pena, contou como a empreiteira comprou, com subornos bilionários, membros dos poderes executivo e legislativo.