Ao longo da História, os olhos pintados de preto têm assumido vários papéis, mesmo que hoje signifiquem “apenas” uma vontade de mostrar a nossa personalidade através da maquilhagem (ou sirvam de arma para uma noite de festa). É um pouco como o batom: aquele que é hoje um objeto tão acessível — o eyeliner — esteve em tempos relacionado com conquistas importantes e de afirmação das mulheres.

É preciso recuar cinco mil anos para falar do ancião deste produto de beleza, o kohl. A História diz-nos que começou a ser usado nas culturas africanas e asiáticas por volta de 4.000 a.C., e que o seu uso estava relacionado com poder, nobreza, cultura e tradição. A arte corporal cosmética foi mesmo uma das primeiras formas de se fazerem rituais. Nefertiti, uma das mais famosas rainhas egípcias, já usava uma espécie de eyeliner nos olhos há mais de três mil anos. E como lembra o Dubai Museum, em declarações ao The National, havia três coisas que eram enterradas com as anciãs árabes: joias, cerâmica e conchas com kohl lá dentro — aqueles que eram considerados os bens essenciais que uma mulher levaria com ela para a vida após a morte.

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Busto de Nefertiti em exposição no Neues Museum, em Berlim, com os olhos delineados. Data de 1320 a.C. (Via Wikimedia Commons)

A evolução do eyeliner nos últimos 100 anos

Na Europa, os olhos pretos só começaram a ter expressão a partir de 1900. Eram considerados imorais e o status quo impunha peles brancas — uma tez pálida significava que não se trabalhava no exterior e não se apanhava sol. Toda a aristocracia usava e abusava dos pós brancos para expressar a sua posição privilegiada. O site Byrdie lembra que só com o fim do reinado da rainha Vitória, no início de 1900, é que as mulheres europeias começaram a abandonar estes ideais e a abraçar novas influências (do teatro, do ballet e do cinema).

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Com o surgimento da indústria do cinema em Hollywood, o mundo da beleza mudou drasticamente. Theda Bara foi uma das primeiras atrizes a ganhar estatuto de estrela e protagonizou, em 1917, o filme Cleópatra, onde ostentava uns carregados olhos pretos. No seu livro A History of Makeup (Uma História da Maquilhagem), Maggie Angelo escreve que Helena Rubinstein — hoje numa das mais icónicas marcas de maquilhagem — era, na altura, a maquilhadora de Bara e foi para ela que criou uma máscara de pestanas através de experiências com kohl.

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Theda Bara no filme Cleopatra, de 1917, com os olhos delineados com kohl, imagem que viria a assumir durante a sua carreira (Via Wikimedia Commons).

Desde olhos bem marcados de inspiração egípcia a períodos suaves em que as mulheres apenas usaram pequenos riscos, os olhos pretos têm sido um símbolo de feminilidade nos últimos 100 anos, ao mesmo tempo que mostram a influência que certos períodos históricos tiveram nos comportamentos. Um exemplo: depois da II Guerra Mundial, abraçou-se pela primeira vez os cat eye como forma de independência e extravagância pelo fim de um período conturbado.

Na fotogaleria reunimos imagens de alguns dos estilos de maquilhagem de olhos mais marcantes que se usaram, numa viagem no tempo de um dos favoritos da beleza.