Um misterioso buraco do tamanho da República Checa apareceu na cobertura de gelo que se forma no inverno da Antártida. A polínia (como se chamam estes fenómenos da glaciologia) foi descoberta no final de setembro por cientistas da Universidade de Toronto e do projeto de Observação e Modelação do Clima e Carbono do Oceano do Sul (SOCCOM), que se aperceberam pelas imagens de satélite.

A polínia tem cerca de 77 mil quilómetros quadrados, o que faz dela a maior observada na Antártida desde os anos 70.

Nas profundezas do inverno, por mais de um mês, temos um buraco deste tamanho na cobertura de gelo”, diz o professor de física da Universidade de Toronto, Kent Moore, ao National Geographic. “É memorável que esta polínia tenha desaparecido por 40 anos e tenho regressado”.

As águas profundas desta parte do oceano são mais quentes e salgadas do que as águas à superfícies mas as correntes fazem com que a água mais quente venha à superfície, onde acaba por derreter as camadas de gelo que se formam à superfície do oceano no inverno. Esse processo de degelo causou a polínia que hoje observamos.

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Em comparação, vemos o continente africano no topo da imagem e a polínia em baixo

O inverno na Antártida dificulta a deteção e monitorização destes fenómenos. É o segundo ano consecutivo em que uma polínia se forma no gelo da Antártida, mas o de 2016 não era tão grande como este.

“Não entendemos por inteiro os impactos a longo prazo desta polínia”, explora Moore, acrescentado que mais estudos terão de ser feitos para perceber se o processo está relacionado com o aquecimento global ou com alterações climáticas ou se se trata de um fenómeno natural limitado às condições extremas da Antártida — que ainda hoje são muito desconhecidas.