Uma série de mensagens trocadas entre um agente de relevo no FBI e uma advogada colocam em cheque o antigo diretor daquela agência. Um relatório preparado pelo inspetor-geral do Departamento de Justiça norte-americano fragiliza a liderança de James B. Comey, afastado por Trump depois de ter validado as investigações à eventual ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 e ao caso dos e-mails de Hillary Clinton.

Donald Trump, presidente norte-americano, estava “ansioso” para conhecer o conteúdo do relatório e, esta quinta-feira, no seu dia de aniversário, deveria receber do vice-procurador-geral Rod J. Rosenstein um briefing sobre as conclusões do documento. Uma das revelações mais sensíveis é mesmo a de troca de mensagens entre Peter Strzok (o investigador do FBI que participou nos casos dos e-mails e da ingerência russa) e uma advogada, Lisa Page.

– “[Donald Trump] nunca vai tornar-se presidente, certo? Certo?!”, perguntou Page.

– “Não. Não, não vai. Vamos impedi-lo”, garante Strzok na resposta.

As informações estão a ser noticiadas pelo Washingont Post, que cita uma fonte não identificada, com acesso ao relatório de 500 páginas. Comey foi demitido em maio de 2017 por Donald Trump, que já confessou ter sido “uma honra” tomar essa decisão e que sempre se referiu às suspeitas de ingerência russa na eleição que o elegeu presidente como uma “caça às bruxas”.

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As conclusões do relatório do Departamento de Justiça fragilizam a imagem do FBI e reforçam a posição do chefe de Estado norte-americano, nas críticas de que o caso russo se baseia numa perseguição pessoal. E, enquanto Trump não se manifesta, os republicanos vão surfando essa onda. “É uma condenação do antigo diretor do FBI, Comey e da incapacidade de o Departamento de Justiça de gerir a investigação”, disse o congressista Darrell Issa no final de uma reunião com elementos da sua equipa em que o relatório esteve no centro da discussão.

Numa tentativa de controlar os danos para o FBI — e para o próprio Comey — ainda antes de o relatório ser divulgado, Charles E. Schumer, líder democrata no Senado desvalorizou o impacto do documento no trabalho do ex-dirigente da agência. “Apesar de ainda não termos visto o relatório do inspetor geral [do Departamento de Justiça], não há qualquer razão — qualquer razão — para acreditar que ele possibilita que se ponha em causa o trabalho do conselheiro especial” Robert Mueller III, que supervisiona as investigações.

“As preocupações do inspetor geral são absolutamente independentes da investigação à ingerência russa que o conselheiro especial Mueller está a conduzir”, acrescentou o membro do Partido Democrata.

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