Um grupo de oito associações culturais, defesa do património e ambientalistas criticou esta sexta-feira a falta de resposta das autoridades perante uma “total remoção do coberto vegetal, sem olhar a espécies”, realizada no dia 3, em Cacela Velha, no Algarve.

Em causa está a limpeza de um terreno na vertente a oeste da localidade do concelho de Vila Real de Santo António, dentro do Parque Natural da Ria Formosa, que o Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR disse, num primeiro momento, ter sido autorizada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), informação desmentida depois pelo próprio instituto que tutela os parques naturais portugueses, contextualizou o grupo.

“A paisagem de Cacela Velha, ‘ex-libris’ da Ria Formosa e do seu Parque Natural, e um dos últimos redutos das paisagens mediterrânicas de beira-ria no sotavento algarvio, sofreu no passado dia 3 de Julho um rude golpe, com uma ação extensiva de total remoção do coberto vegetal, sem olhar a espécies, porte ou localização, e deixando um terreno nu, completamente exposto a fenómenos erosivos, na margem de uma linha de água, ao longo de dezenas de hectares”, denunciaram as associações num comunicado.

A limpeza de terrenos realizada por determinação do Governo depois dos incêndios de 2017 tem motivado, “um pouco por todo o país, autênticos atentados ao património vegetal, sempre enquadrados e legitimados por uma leitura enviesada” da legislação que enquadra este tipo de medida preventiva de incêndios, alertou o grupo.

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O grupo é composto pela Associação de Defesa, Reabilitação, Investigação e Promoção do Património Natural e Cultural de Cacela (ADRIP), a Associação de Gestores Culturais do Algarve (AGECAL), a Associação de Defesa do Património Cultural e Ambiental do Algarve (Almargem), Associação das Terras e das Gentes da Dieta Mediterrânica (ATGDM), a Pensar no Global, Agir no Local (INLOCO), a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a Associação Nacional de Conservação da Natureza (Quercus) e a Slow Food Algarve.

As associações lamentaram que agora, no terreno a oeste de Cacela Velha, se possa ver um “cenário de desolação nas margens da Ria, em pleno Parque Natural da Ria Formosa, Reserva Ecológica Nacional e Reserva Agrícola Nacional, com mais uma degradação dos valores mediterrânicos da paisagem algarvia e da Ria Formosa, verdadeiro suporte da Dieta Mediterrânica”, reconhecida como património imaterial da humanidade pela Organização para a Ciência, Educação e Cultura das Nações Unidas (UNESCO).

O grupo disse ainda que os seus membros estão a pedir “o apuramento de responsabilidades” às responsáveis ambientais e do património, mas ainda não obtiveram “nem uma resposta ou sequer informação do andamento de qualquer averiguação ou investigação”. As autoridades têm-se pautado por “um ensurdecedor e opaco silêncio”, criticou o grupo, exigindo “respostas às participações efetuadas por associações e cidadãos” para “afastar o clima de desinformação e suspeição que rodeia este caso”. “Exige-se saber quem ordenou esta ação desastrosa, quem — se alguém — a autorizou ou se, não tendo sido autorizada, como foi possível prolongar-se como se prolongou, à vista de todos, com os efeitos devastadores que se conhecem”, exigiu ainda o grupo de associações.