Uma equipa de investigadores na Suíça conseguiu fazer andar três paraplégicos utilizando implantes eletrónicos na coluna  vertebral. A técnica inovadora foi utilizada em ratazanas, em 2014, depois em macacos, em 2016, e agora chega aos humanos. A equipa, liderada pelo neurocirurgião Grégoire Courtine, da Escola Politécnica Federal de Lausana, e por uma neurocirurgiã do hospital universitário da mesma cidade, implantaram elétrodos na zona lombar da espinhal medula dos pacientes, avança esta quarta-feira o jornal espanhol El País.

Os três pacientes recuperaram o controlo voluntário dos músculos das pernas, inclusivamente sem estimulação elétrica. Este processo foi conjugado com uma reabilitação rigorosa durante cerca de 5 meses e permitiu que os doentes começassem a caminhar de novo, ainda que com ajuda de muletas ou andarilhos.

“Este novo estudo é importante porque confirma que as pessoas com lesão crónica da espinal medula têm a capacidade de recuperar ao voltar a treinar os circuitos da coluna vertebral. Nesse sentido, utilizámos um enfoque um pouco diferente”,  afirma Courtine. Ainda assim, “precisamos de mais investigações e ensaios clínicos para saber que tipo de estimulação e tratamentos são necessários para obter os melhores resultados”, sublinha.

Investigadores dos EUA recusam falar em cura

Em setembro deste ano foi apresentado outro estudo, nos Estados Unidos, em que três paraplégicos voltaram a andar com a mesma técnica. Na altura, apesar de ser considerada uma abordagem promissora, os investigadores recusam falar em cura, uma vez que os participantes apenas conseguiram andar com ajuda de andarilhos ou algo que os permita manter o equilíbrio.

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O que diferencia estes dois estudos é que a equipa suíça não estimula a espinal medula de maneira contínua. Em vez disso, usa sensores nos pés dos pacientes que enviam impulsos para os elétrodos implantados na zona lombar. Mas não o faz sempre, optando por imitar os sinais elétricos naturalmente enviados pelo cérebro. A ideia é facilitar os movimentos voluntários residuais.

Já o estudo — divulgado em setembro no New England Journal of Medicine, dos Estados Unidos – foi realizado por duas equipas de investigadores e envolveu quatro participantes.

A teoria testada nos Estados Unidos é a de que os circuitos nervosos envolvidos no local da lesão estão apenas adormecidos, e não mortos, e que a aplicação de corrente elétrica pode acordar alguns desses circuitos e, assim, restaurar as ‘ligações enferrujadas’. Eventualmente, sugere o estudo, pode permitir que voltem a receber comandos simples. Este processo terá que ser sempre conjugado com uma reabilitação rigorosa.

Jered Chinnock , um dos participantes desse estudo, conseguiu percorrer a distância equivalente a um campo de futebol durante uma das sessões de fisioterapia. “A parte de andar ainda não é algo que me permita simplesmente deixar a cadeira de rodas para trás. Ainda assim tenho esperança de que isso venha a ser possível”, refere Jared.

Para Susan Harkema, uma das co-autoras do estudo, ”a recuperação pode acontecer se se verificarem as circunstâncias certas”, mas garante que ”a coluna vertebral pode voltar a fazer coisas”. “Não tão bem como fazia antes, mas pode voltar a funcionar”, salientou.

O objetivo deste estudo passa por ajudar as pessoas com lesões na coluna vertebral a recuperarem funções. Os testes incluíram ainda desligar o dispositivo elétrico: os pacientes voltam a não conseguir andar. Todos os pacientes envolvidos tinham sensibilidade nas pernas. Ao desligar o aparelho, mantiveram a sensibilidade, mas deixaram de conseguir manter-se de pé.