Ainda o candidato do PPE (a família política europeia a que pertencem PSD e CDS) não tinha sido eleito e já os socialistas celebravam a nomeação do holandês Frans Timmermans, único candidato depois da desistência do rival, o eslovaco Maroš Šefčovič. A nomeação há-de ser confirmada no início de Dezembro em Lisboa, durante o Congresso dos Socialistas europeus.

Na primeira conferência de imprensa, depois de consumada a candidatura única, o comissário holandês falou do governo de António Costa como modelo a seguir na Europa. Em Helsínquia, onde decorria o Congresso do Partido Popular Europeu, Paulo Rangel falava ao Observador e aproveitava para reagir às palavras que ouvia do outro lado: “Isso só pode significar que conhece mal o exemplo português”.

Rangel acusou Timmermans de ser “o testa de ferro de Djesselbloem. Os socialistas portugueses com um candidato como Timmermans vão ter muito que explicar”. E acrescentou:”O Partido Socialista Holandês é dos partidos que mais mal fez a Portugal e nós que estávamos responsáveis pelo Governo da troika sabemos bem o que eles nos fizeram. Era bom que o senhor Timmermans se lembrasse quais eram as suas posições quando era ministro dos Negócios Estrangeiros na Holanda e quais eram as posições de Djesselbloem quando Portugal estava a sofrer. Isso é que era importante lembrar. Timmermans pode vir agora branquear história, mas não vai conseguir.”

Em Bruxelas, Carlos Zorrinho leu e não gostou. O chefe da delegação do PS afirmou que ao atacar a candidatura de Franz Timmermans para presidente da Comissão Europeia em nome dos S&D, “Paulo Rangel não faz mais do que atirar areia para os olhos dos portugueses, tentando desviar as atenções de um inqualificável apoio do PSD a um candidato que exigiu a aplicação de sanções a Portugal”, tentando “travar a recuperação e consolidação das contas públicas” portuguesas.

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Zorrinho contou que, no debate que ocorreu esta semana no Grupo S&D teve “a oportunidade de confrontar Franz Timmermans com as declarações de Dijsselbloem”. Nessa conversa, garante Zorrinho, “o candidato demarcou-se totalmente dessas declarações e comprometeu-se, se for eleito, a trabalhar por um orçamento de convergência na União Europeia e pela conclusão da reforma do euro, de forma a diminuir as assimetrias entre os países europeus”.

Sobre a nomeação de Weber, Zorrinho lembra que “Manfred Weber (…) escreveu a Jean Claude Juncker exigindo o endurecimento de posições da Comissão em relação a Portugal, e solicitando a aplicação de ‘todos os instrumentos incluindo os da vertente corretiva do PEC0 ou seja, sanções que a terem sido aplicadas teriam custado a Portugal de forma indevida e imerecida, reputação e cerca de 360 milhões de euros”. Ora, Zorrinho recorda que aquando da divulgação da carta, “o vice-presidente do PPE Paulo Rangel, manifestou perplexidade e desacordo”, mas “isso não impediu o PSD de apoiar dois anos depois Manfred Weber para ser candidato à presidência da Comissão Europeia”.

Zorrinho entende que “para os portugueses a mensagem é clara: a direita portuguesa na União Europeia continua o seu caminho de subserviência e de apoio a quem objetivamente não deseja que Portugal se afirme social e economicamente como um parceiro entre iguais na União Europeia”. Para os socialistas não há dúvida que “nas próximas eleições europeias votar no PSD e no CDS em Portugal será votar num potencial presidente da Comissão Europeia que quer retomar a pressão da austeridade e do empobrecimento do País”. Zorrinho acrescenta ainda que é “lamentável a desconsideração mostrada pela direita portuguesa em relação aos interesses de Portugal.”

Já em declarações à agência Lusa, a Secretária-geral Adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, criticou Assunção Cristas por ter sido ministra “do governo que mais empobreceu os portugueses” e Rui Rio por apoiar à liderança da Comissão Europeia “um daqueles que foi o mais feroz adepto da aplicação de sanções a Portugal”.

Em Helsínquia, e sobre a crise das sanções em que Weber enviou uma carta a Juncker a pedir que a Comissão continuasse a ser rigorosa com países como Espanha e Portugal, Rangel justificou que o candidato do PPE “é um amigo de Portugal” e que “o que ele defendeu foi que se aplicassem as regras. Agora, o que ele pretendia não era visar Portugal. Foi sempre um grande defensor do Governo PSD/CDS que tirou o país da bancarrota e, por isso, o gesto não tinha nenhuma intenção punitiva”. Rangel acredita que, se houver uma confortável maioria dos partidos que defendem o spitzenkandidat, Weber será  escolhido como presidente da Comissão Europeia, mas admite que se não houver essa maioria, a escolha será mais complicada.

Garantiu que o PSD terá todo o gosto em contar com o alemão na campanha nacional para as Europeias já que “Weber é um europeu convicto e o PSD é um partido que não tem vergonha da Europa, nem de ser pró-europeu. Há outros que estão agora com alguma timidez”. Questionado sobre se se referia ao PS, Rangel defendeu que o “PS está condicionado quanto à Europa, já que o PCP é contra a UE e o BE que só é a favor da UE se ela adotar o seu programa.”

E já que ia embalado em discurso de pré-campanha, o vice-presidente do PPE voltou a acusar o Partido Socialista Europeu de fazer “as escolhas à soviética, escolhe o candidato e já está. É o buro, o politburo que escolhe quem é o candidato”. Sobre Timmermans, Rangel disse que “tem uma visão muito ortodoxa” e, por isso, não percebe “como o PS se revê no candidato que defende posições que Manfred Weber nunca defendeu. É só ir ver a história.”

O Observador viajou a Helsínquia a convite do Partido Popular Europeu.