“Shoplifters — Uma Família de Pequenos Ladrões”

Colectivo privilegiado de quase todos os seus filmes, quer se apresente em harmonia ou em crise, unida ou desfeita, a família é mais uma vez o tema  deste filme do japonês Hirokazu Kore-eda (“Ninguém Sabe”, “O Meu Maior Desejo”, “Tal Pai, Tal Filho”). Em “Shoplifters”, vencedor do Festival de Cannes, estamos em casa de uma família pobre dos subúrbios de Tóquio, unida pela prática do furto, pelo pequeno delito, pelo biscate, pelo emprego precário, mas na qual o que parece, afinal de contas não é. Embora, paradoxalmente, ela funcione, afectiva e emocionalmente, melhor do que algumas famílias convencionais. Kore-eda mostra como e porquê, sem fazer comício, sem caramelização melodramática e sem a apresentar como um qualquer exemplo “alternativo”, dirigindo magistralmente um conjunto de intérpretes de várias idades em que nenhum, do mais pequeno ao mais idoso, põe um pé em falso, e atingindo uma calorosa, tocante e amarga verdade humana.

https://youtu.be/3zJ3_JZnH_Q

“A Febre Ferrante”

Não é a descoberta da identidade desse fenómeno italiano e mundial da literatura que é Elena Ferrante que move ou preocupa Giacomo Durzi, realizador deste documentário e também autor do argumento, com Laura Buffoni. O que interessa em “A Febre Ferrante” é analisar e explicar a razão do imenso sucesso dos seus livros, que já venderem milhões e milhões de exemplares em toda a parte, e perceber o que move a autora e quais as grandes características da sua escrita, através das personagens e dos enredos das obras. Para isso, Durzi e Buffoni foram ouvir outros escritores, italianos e estrangeiros, caso de Roberto Saviano, napolitano como a misteriosa Ferrante, ou do norte-americano Jonathan Franzen, que confessa que chorou a lê-la. Ou ainda a sua tradutora nos EUA e os realizadores Mario Martone e Roberto Faenza, que adaptaram ao cinema livros dela. Um filme especialmente recomendado aos leitores ferrenhos da esquiva autora de “A Amiga Genial” e “Crónicas do Mal de Amor”.

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“Grinch”

Criado em 1955 pelo escritor norte-americano Dr. Seuss (pseudónimo de Theodor Seuss Geisel), que fez dele o herói do seu livro infantil “How the Grinch Stole Christmas” (1957), o verde, mal-disposto e anti-natalício Grinch foi transformado em 1966 pelo genial Chuck Jones na vedeta de uma histórica animação televisiva de Natal com o mesmo título, que contava com a voz de Boris Karloff. Em 2000, Ron Howard realizou o filme “Grinch”, baseado no livro e na animação de Chuck Jones, com Jim Carrey no papel principal. Quase 20 anos depois deste, surge uma nova versão para cinema com o mesmo título, agora em animação digital, realizada por Yarrow Cheney e Scott Mosier. Cabe agora a Benedict Cumberbatch dar voz ao vilão com bom fundo do Dr. Seuss, acompanhado por Angela Lansbury, Pharrell Williams e Rashida Jones, entre outros. O estúdio que produz este “Grinch” é o mesmo de filmes como os da série “Gru-o Mal-Disposto” e dos “Minions”.

“Suspiria”

Luca Guadagnino faz aqui a sua versão de “Suspiria”, o clássico de terror realizado por Dario Argento em 1977, em que Jessica Harper interpreta uma jovem norte-americana que vai estudar bailado para uma prestigiada academia de dança em Friburgo, na Alemanha, e descobre que é a fachada para uma congregação de bruxas, liderada por uma poderosa feiticeira, velha de séculos, a Mater Suspiriorum. (A fita é a primeira de uma trilogia, que inclui também “Inferno”, de 1980, e “Mãe das Lágrimas: A Terceira Mãe”, de 2007). Dakota Johnson substitui Jessica Harper no papel principal, o de Susie Bannion, a americana aspirante a bailarina que é aceite na academia dirigida pela altiva e carismática coreógrafa Madame Blanc (Tilda Swinton, a actriz favorita de Guadagnino). O enredo muda-se para Berlim, decorrendo em 1977 (ano da estreia do original de Argento), à sombra do Muro e tendo como pano de fundo as recordações ainda frescas do nazismo e os atentados terroristas da Fracção do Exército Vermelho. A história tem também novas personagens. “Suspiria” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.