Este está a ser um fim-de-semana de emoções fortes para Conan Osiris. Apurado para a final do Festival da Canção como segundo concorrente mais votado, o cantor, compositor e autor do tema “Telemóveis” falou com o Observador após o apuramento e revelou-se satisfeito com a passagem com a passagem à final. Estava também “chocado” por ter sido o mais votado pelo público:

Além de estar grato, é uma coisa bué peculiar e bué tocante para mim. Não estou à procura de aceitação nem nada, mas como é lógico toda a gente quer ser um bocado abraçada. Ter conseguido isso não dando a abébia de não ir pelo meu próprio caminho é uma cena que é chocante para mim”, referiu.

O compositor e cantor de 30 anos que tem Tiago Miranda como nome de batismo afirmou que “nunca está à espera de extremos”. “Se ficasse em último também era chocante. Nunca se está à espera de coisas muito polarizadas”, apontou ainda.

Não querendo “estar a dizer que fico feliz só por participar”, Conan Osiris quis vincar que “todas as pessoas que estão a ser apuradas representam uma cena tão boa, cada um na sua vertente e no seu porquê de estar a representar Portugal”. Isso faz com que se sinta “bem representado” mesmo que o vencedor seja outro.

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Isto é pela nossa cultura, não é pelo ego de cada um. Se eu ganhar, fixe. Se não ganhar, vou sentir-me bem representado na mesma, pelo Matay, pelos Calema ou pela Ana Cláudia”, afirmou.

“Telemóveis” e a participação de Conan no festival: “Não nego bules”

Afinal, de onde é que vem “Telemóveis”, tema que Conan Osiris compôs e interpreta no Festival da Canção, em que canta sobre “partir telemóveis”, “tentar ligar para o céu”, sobre “o que é que vai acontecer” se “a vida ligar” ou “mandar mensagem” e o recetor não tiver “coragem de atender”? Tudo começou com a batida instrumental, que Conan Osiris compõe digitalmente: “Estava a fazer muitos beats, primeiro, porque queria fazer beats novos. Mas tinha esta ideia [da batida instrumental de “Telemóveis”] já gravada no meu dictafone [ferramenta do iPhone] há bué tempo e pensei: népia, isto é perfeito para agora e para o festival. Acabei por utilizar e trabalhar muito nessa ideia”.

O convite para participar no Festival da Canção chegou-lhe através do manager. “Disse-me: queres fazer? E eu disse-lhe: ya, claro… não nego bules [isto é, trabalho]. Ainda por cima para aqui”, recordou.

O convite aconteceu em parte também pelo impacto que o disco Adoro Bolos, o terceiro da sua discografia, teve junto de um público crescente, a que parece cada vez mais redutor chamar “alternativo”. Apesar de anteriormente já ter gravado dois álbuns que tal como o terceiro disponibilizou em formato digital — Silk, de 2014 e Música Normal, de 2016 — foi com Adoro Bolos que Conan Osiris começou a ser ouvido em maior escala, a dar concertos em salas maiores (como o renovado Cineteatro Capitólio, em Lisboa), a entrar no circuito de atuações em festivais de música e a firmar em definitivo o seu nome no círculo da nova música portuguesa.

Quando terminou e disponibilizou o álbum na internet, em dezembro de 2017, Conan Osiris admite que “sabia o que é que tinha feito” mas não esperava que o disco tivesse o impacto que teve: “Sempre foi uma coisa feita para mim, nunca pensei que de repente as pessoas conseguissem ir para o meu lugar de consumo das minhas próprias cenas e de alguma forma aquilo fazer sentido para elas”, apontou, acrescentando: “Para mim é uma coisa do outro mundo, é equivalente a isto de ganhar o voto do público. É uma coisa de que nunca vou estar à espera”.

Dia 2 de março, na Portimão Arena, será dia de nova prova para o rapaz cujo nome é inspirado pela série de animação japonesa “Conan, o Rapaz do Futuro” e pelo deus egípcio Osiris, que pelo menos até há bem pouco tempo trabalhava numa sex shop lisboeta, que já odiou fado e hoje apropria-se da sua sobriedade para o desconstruir, acrescentando-lhe batidas eletrónicas tribais, de inspiração africana, brasileira e lo-fi, e um estilo de canto que evoca o da música cigana. Nesse primeiro sábado de março, Conan Osiris subirá ao palco da Portimão Arena não apenas como um dos finalistas do Festival da Canção, mas muito provavelmente também como um dos favoritos para o vencer.

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O sonho em que os Calema ainda não acreditam e a satisfação de Ana Cláudia

Irmãos, Fradique e António Mendes Ferreira formam os Calema, que também se apuraram para a final do Festival da Canção. Aos jornalistas, no final da primeira semifinal do concurso, os Calema falaram em uníssono para recordar um percurso de superação de dificuldades:

Há 14 anos éramos dois miúdos, estávamos na selva a olhar aviões a passar e a perguntarmo-nos como seria a cor e o cheiro de Portugal. Hoje estamos cá a concorrer para representar Portugal no festival que já conhecíamos desde pequenos. É algo inacreditável olhando para trás”, disseram.

Estes dois irmãos nascidos em São Tomé e Príncipe vieram para Portugal estudar há mais de uma década e têm firmado cá um percurso sólido na música pop lusófona. Hoje, dizem que tinham “99%” de probabilidades de “desistir do sonho”, mas “as pessoas à volta e os nossos pais fizeram-nos acreditar nesse 1% de hipóteses que nos trouxe até aqui hoje”.

Sentindo-se representantes “da música cantada em português”, os Calema falaram ainda da importância de Portugal “abraçar” a sua música: “Nós precisamos disso, precisamos porque a nossa inspiração vem desse apoio que as pessoas depositam em nós”. Outro ponto mencionado foi a necessidade do país apoiar os jovens artistas. “A cultura é essencial para a nossa identidade. Apoiar a cultura ao máximo é algo que também queremos, que Portugal apoie mais jovens que querem fazer música e arte. É isso que é a identidade de um povo, sem arte não temos a essência”.

Também em conferência de imprensa coletiva dos finalistas, Ana Cláudia destacou o facto do festival ser “uma grande celebração da música portuguesa” e a qualidade das 16 canções a concurso: “São uma amostra incrível do que se passa na música em Portugal neste momento. É incrível ir à final”.